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HABITAÇÃO
Secretaria da Habitação vai gastar R$ 3 milhões com hotéis e pensões para moradores de rua até a construção de casas
Prefeitura quer "limpar" viadutos em 1 ano
PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Um ano, pelo menos, é o tempo
que a Prefeitura de São Paulo considera que vai levar para retirar
debaixo dos viadutos as famílias
que encontraram ali sua única
forma para assegurar um teto.
O governo do PT não sabe
quantos compõem essa população, mas a prefeita Marta Suplicy
exigiu de seus auxiliares a busca
de uma solução, que deve ser
apresentada até o próximo dia 15.
A iniciativa de Marta surgiu
após uma cena que parece estar se
tornando corriqueira na cidade
-o incêndio ocorrido, na semana passada, em barracos situados
sob o viaduto Antártica (zona
oeste). O fogo afetou a estrutura
da obra, que ficará totalmente interditada por quatro meses.
Mais de cem pessoas, entre
adultos e crianças, ficaram desabrigadas e foram encaminhadas a
um albergue da prefeitura.
População
Dados da gestão anterior apontam que, das 180 pontes e viadutos sob responsabilidade da prefeitura, famílias ocupavam 55 deles (43 desses estavam em áreas
consideradas de risco).
A reportagem da Folha circulou
as duas marginais. Dos 16 viadutos da marginal Tietê, 3 tinham
moradores. Na Pinheiros, dos 10,
2 tinham habitantes. O Imigrantes Nordestinos (zona leste), por
exemplo, é o endereço de Sueli
Ferreira (que se autodenomina
dona-de-casa) há 16 anos.
Estudo realizado no ano passado pela Secretaria de Planejamento Urbano registrou a existência
de uma população de rua de cerca
de 8.700 pessoas na região central.
Dentre elas, 5.000 moravam em
pontes e viadutos.
A administração do PT decidiu
realizar um censo para atualizar
os dados elaborados pela gestão
Celso Pitta, segundo informa a Secretaria da Habitação.
Até que encontre o dinheiro
(cujo montante o governo ainda
não tem idéia de quanto será) para construir as moradias para os
"donos dos viadutos", a pasta da
Habitação pretende alojá-los em
hotéis e pensões. Dispõe de R$ 3
milhões para a tarefa. Esse dinheiro deve vir de remanejamento do
Orçamento municipal.
A diária de um quarto com capacidade para uma a três pessoas
em um hotel com uma estrela varia, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, de R$
25 a R$ 30. Para o presidente da
entidade, Julio Serson, a medida
parece estranha. "Como um estabelecimento comercial vai resolver um problema social?"
A saída encontrada pelo secretário Paulo Teixeira, da Habitação, já é alvo de críticas de seus colegas. Evilásio Farias, secretário
da Assistência Social, a remoção
dessa população para hotéis não é
a melhor solução. "Não é em dois
ou três anos que vamos resolver o
problema da moradia na cidade,
que é bastante grave", afirma.
Uma das colaboradoras da elaboração do programa de governo
de Marta Suplicy, a urbanista urbanista Raquel Rolnik, 44, também acha que o problema requer
a busca de soluções mais complexas e menos pragmáticas.
Para ela, somente a retirada das
famílias de pontes e viadutos não
resolve o problema, pois elas acabam voltando ou para o mesmo
lugar onde moravam ou para um
novo lugar. "Esse é um problema
recorrente na cidade e tem crescido muito nos últimos dez anos. A
solução está em montar uma política fundiária e imobiliária que dê
conta de ampliar as possibilidades de moradia para essas famílias de baixa renda."
Solução do secretário
Raquel não acredita que apenas
um plano habitacional pudesse
sanar os problemas da cidade
que, segundo ela, tem mais de
dois milhões de favelados.
O secretário Paulo Teixeira afirma que o problema do retorno
das pessoas para debaixo da ponte pode ser solucionado se, após a
desocupação, o poder público tiver uma política de uso desse espaço urbano. Ele propõe destinar
as áreas sob viadutos para a instalação de pequenos estabelecimentos comerciais e para a construção
de quadras esportivas.
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