São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 2002

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RETRATO DO BRASIL

Censo revela que 62,4% dos que têm 60 ou mais anos são responsáveis pelo domicílio; idosas vivem mais só

Maioria dos idosos são os chefes da casa

SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

O Censo 2000 mostra que 62,4% dos idosos são responsáveis pelo domicílio em que moram no Brasil -em 1991, eram 60,4%. Do total dos domicílios brasileiros, 20%, o que representa 8,9 milhões de residências, são chefiados por pessoas com 60 anos ou mais.
O idoso responsável pelo domicílio no país é homem, tem 69,4 anos, é alfabetizado e ganha R$ 657 por mês.
A mulher idosa, no entanto, vem aumentando sua participação nesse grupo. Em 1991, 31,9% delas eram chefes da residência, percentual que aumentou para 37,6% dez anos depois.
As pessoas dessa faixa etária também estão morando mais sozinhas. Ao longo da década aumentou a proporção de domicílios unipessoais (com apenas um morador) sob responsabilidade de idosos, passando de 15,4% para 17,9% (crescimento de 16,2%).

Mulheres
As mulheres com 60 anos ou mais são maioria nesse quesito: 66,9%, tendência que se manteve desde 1991. Uma das justificativas para essa realidade, segundo a chefe da Divisão de Indicadores Sociais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Ana Sabóia, é que os viúvos ou os separados casam novamente com maior frequência do que as mulheres nas mesmas condições.
Porto Alegre e Rio de Janeiro são as capitais onde há a maior proporção de idosos morando sozinhos. Nas duas cidades, 27,1% e 23%, respectivamente, dos domicílios chefiados por pessoas de 60 são residências unipessoais.
O último Censo também revela que a proporção de idosos vem crescendo de forma mais acelerada do que a de crianças: 15,9%, em 1980; 21%, em 1991; e 28,9%, em 2000. Existiam, em 2000, cerca de 30 idosos para cada 100 crianças no Brasil, quase o dobro da proporção registrada 20 anos antes: 16 idosos para cada criança.
Há dois anos, os idosos representavam 8,6% (eram 7,3% em 1991) do conjunto de habitantes do país, o que significa mais de 14,5 milhões de pessoas. Projeções feitas por técnicos do IBGE apontam que, em 20 anos, essa parcela da população poderá ultrapassar os 30 milhões, se tornando 13% do total do país.
Porto Alegre é a capital brasileira com maior proporção de idosos, 12,8%. Outras nove cidades do Rio Grande do Sul possuem uma população bastante envelhecida, como é o caso de Colinas, onde 21,4% dos moradores têm 60 anos ou mais.
A demógrafa Ana Amélia Camarone, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), atribuiu o envelhecimento da população brasileira, assim como o crescimento do total de domicílios chefiados por idosos, à queda da taxa de fecundidade e ao aumento da expectativa de vida ao longo das últimas décadas.
Em 1950, a expectativa de vida do brasileiro ao nascer era de 43,33 anos. Em 2000, saltou para 68,55. A taxa de fecundidade, que era de 6,2 filhos por mulher em 1950, diminuiu para 4,4 em 1980 e caiu para pouco mais da metade em 2000: 2,3 filhos.
"Os avanços da medicina, que incluem os métodos anticoncepcionais, são os grandes responsáveis pelo aumento desse grupo etário", explica Ana Amélia.
A população idosa tem sofrido dois processos distintos, o da feminização e o da urbanização.
Conforme dados do Censo, as mulheres já eram maioria em 2000: 55,1%. Isso quer dizer que, para cada cem idosas, havia 81,6 homens, enquanto, em 1991, essa relação era de cem mulheres para cada 85,2 homens.
A diminuição da população rural entre pessoas dessa faixa de idade acompanha o processo crescente de urbanização no Brasil. Entre 1991 e 2000, os idosos moradores da área rural passaram de 23,3% para 18,6%.

Filhos em casa
Ana Amélia chama atenção para outra revelação do Censo: o número médio de pessoas nos domicílios onde o responsável é o idoso. Em 2000, eram 3,2 pessoas, o que significa uma pequena redução em relação a 1991 (3,5).
Apesar da média estar diminuindo lentamente nos últimos anos, a demógrafa avalia que o fato de haver uma terceira pessoa morando com o casal -um filho, na maioria dos casos- é reflexo da saída cada vez mais tardia da casa dos pais.
"A idade média da saída de casa dos filhos no Brasil é cada vez mais alta. Há ainda os casos dos que retornam depois de alguma experiência fracassada. Os motivos são muitos: gravidez precoce, desemprego, violência etc.", disse.
A necessidade de sustentar um filho faz com que grande parte dos aposentados e pensionistas sigam no mercado de trabalho. Entre os que têm 60 anos ou mais, 4,5 milhões delas, o equivalente a um terço da população de idosos, continuam exercendo um ofício mesmo após a aposentadoria.



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