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TRANSPORTE
Empresários de fora não disputam licitação em SP, diz entidade; viações cobram subsídio a terminais e restrição a peruas
Falta de concorrentes é ameaça para Marta
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
A intenção da prefeita Marta Suplicy de substituir os empresários
de ônibus que não prestam bons
serviços em São Paulo deve fracassar por falta de concorrência.
A principal entidade que reúne
os grupos de transporte urbano
do país inteiro avalia que não há,
fora do Estado, nenhum interessado em disputar não só os contratos emergenciais que Marta
quer implantar a partir do mês
que vem como até mesmo a licitação que definirá os operadores
por 15 anos, a partir de 2003.
"O empresariado de transporte,
que já não anda muito satisfeito
com seus negócios, no caso de São
Paulo está é correndo. Pode ir do
Rio Grande do Sul até Manaus
que você não acha interessados
em participar desse processo licitatório", afirma Otávio Vieira da
Cunha Filho, presidente da NTU
(Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos).
Ele prevê que os ônibus da capital paulista ficarão com os mesmos empresários de hoje -que,
além de terem a estrutura montada, não podem deixar a atividade
por causa de dívidas trabalhistas.
A opinião da NTU, que tem a filiação de 60% das viações do país,
mas com participação restrita das
paulistanas, reforça a pressão dos
empresários contra a prefeitura.
Eles organizaram um boicote
anteontem e não entregaram os
envelopes da contratação emergencial, deixando a administração petista sem interessados em
fornecer os serviços de ônibus.
Segundo a Folha apurou, para
assinar os contratos até 1º de
agosto, os empresários podem até
aceitar a mudança na forma de remuneração -que reduz de 65%
para 30% a receita pelos custos fixos operacionais e aumenta de
35% para 70% os pagamentos pela quantidade de passageiros.
Em contrapartida, porém, os
consórcios que atuam nas zonas
leste e sul querem concessões.
Uma é que os custos dos usuários
da integração nos terminais -R$
18 milhões por mês, 15% da arrecadação- sejam bancados pela
prefeitura. Outra é a restrição aos
6.000 perueiros: metade só operaria de manhã e começo da tarde.
O resto, no fim da tarde e à noite.
O secretário dos Transportes,
Carlos Zarattini, descarta essa
possibilidade. "A prefeitura não
vai aportar recursos. E não adianta restringir os turnos dos perueiros, não daria para controlar", diz
Zarattini, que afirma ter contatado "empresários individuais" para atuar em São Paulo, desvinculados de grandes grupos.
Um dos motivos para a falta de
atração do mercado paulistano é a
rentabilidade -além de haver
perueiros, os congestionamentos
tornam os serviços mais caros.
"A condição em São Paulo certamente está pior que a do Rio.
Ninguém vai sair daqui para se
aventurar onde não há garantia",
afirma Lelis Marcos Teixeira, presidente do Rio Ônibus, que representa as viações da cidade.
O segundo motivo é a prática de
protecionismo e reserva de mercado. O setor é monopolizado nas
capitais, incluindo São Paulo, onde 60% da frota é de quatro grupos -Constantino de Oliveira,
José Ruas Vaz, Romero Niquini e
Belarmino Marta. Comprar uma
disputa em um reduto dos grandes empresários significa um risco aos negócios no resto do país.
"A gente não pode dizer que
não exista [protecionismo". Mas
não é nenhum movimento organizado para criar esse protecionismo. Acontece de forma natural, como acontece em qualquer
outra atividade", diz Cunha Lima.
Essa dificuldade foi sentida pela
Prefeitura de Belo Horizonte, que,
em 1997, fez uma licitação dos serviços de ônibus. Segundo Ricardo
Medanha, diretor-presidente da
BHTrans, responsável pela concorrência, as mudanças de operadores foram restritas. Dos 63 participantes da licitação, só sete não
operavam em Belo Horizonte
-dois eram do interior de Minas,
dois nem trabalhavam com transporte e só três vieram de fora do
Estado e perderam a disputa.
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