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SAÚDE
Posição era ocupada por acidentes de carros; maior parte das vítimas foi atingida em assaltos, brigas ou por bala perdida
Tiros lideram causa de lesão medular em SP
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os disparos de armas de fogo lideram o ranking de causas de lesão medular em São Paulo, posição anteriormente ocupada pelos
acidentes de trânsito. Os tiros
também aparecem nas estatísticas
de paralisia facial, lesões no cérebro e amputações dos principais
serviços de reabilitação da capital.
A maioria dos lesionados foi baleada durante assaltos, brigas, sequestros ou em situações de bala
perdida. Só na AACD (Associação
de Assistência à Criança Deficiente), quase a metade dos pacientes
paraplégicos (paralisia dos membros inferiores) e tetraplégicos
(paralisia dos quatro membros) é
vítima da violência urbana.
No Brasil, cerca de 7.000 pessoas
ficam paraplégicas ou tetraplégicas por ano. Desse total, 32% foram vítimas de armas de fogo, e
19%, de acidentes de carro. Nos
EUA, 45% dessas lesões estão relacionadas a acidentes de trânsito,
e 15%, a armas de fogo.
Na AACD, em média 190 pessoas são atendidas por ano vítimas de lesão medular provocada
por tiros. Atualmente, 280 paraplégicos e tetraplégicos aguardam
por até quatro meses o início do
tratamento na fila de espera.
Segundo o ortopedista Antônio
Carlos Fernandes, diretor clínico
da AACD, em 1985 os acidentes
de trânsito eram responsáveis por
45% dos casos de paralisia por
traumas atendidos na instituição,
enquanto as armas de fogo respondiam por 25%. Em 2002, os
acidentes causaram 30% das lesões de medula, e os tiros, 47%.
No Lar Escola São Francisco
(Lesf), serviço de reabilitação ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a situação é bem
parecida. De 171 portadores de lesão medular avaliados por um estudo, 30% foram vítimas de armas de fogo, enquanto os acidentes de trânsito foram responsáveis
por 9% das ocorrências.
Segundo a médica fisiatra Therezinha Rosane Chamlian, diretora técnica do Lesf, entre as vítimas
de armas de fogo, 34% foram baleadas em assaltos. A idade média
dos pacientes é de 35 anos. "A violência está levando a um grave
problema de saúde pública. A
maioria dessas vítimas é lesionada no auge de sua vida produtiva.
Temos de incentivar muito o desarmamento da população", diz.
Na opinião do deputado federal
Roberto Jefferson (PTB-RJ), o "cidadão de bem" deve ter o direito
de portar uma arma em casa para
defender sua família contra os
bandidos. "A maioria dos crimes
é praticada com armas ilegais",
afirma Jefferson.
No serviço de reabilitação do
Hospital das Clínicas de São Paulo, 29% dos 220 pacientes com lesão de medula óssea foram vítimas de tiros, enquanto 18% ficaram paralíticos após se envolverem em acidentes de trânsito.
Face
A face é outro local do corpo que
acaba sendo alvo da violência. O
ambulatório do Hospital das Clínicas de São Paulo atende por mês
em média seis pessoas vítimas de
balas no rosto. Segundo o otorrinolaringologista Ricardo Bento,
chefe do ambulatório, a maioria é
vítima de assaltos no semáforo ou
de brigas. Em décadas passadas, o
serviço recebia muitos casos relacionados a tentativas de suicídio.
Hoje, recebe em média um caso
de tentativa de suicídio por mês
que leva à paralisia facial.
A frequência desse tipo de lesão
relacionada à violência urbana
impressionou a classe médica internacional. Tanto que, desde
1996, Bento passou a ministrar
nos EUA um curso voltado a médicos sobre como tratar as lesões.
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