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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/INVESTIGAÇÃO
TCU irá investigar contrato de reforma da pista de Congonhas
O objetivo, diz ministro do tribunal, é verificar se existe alguma relação entre a execução da obra e as causas do acidente da TAM
Relatório do TCU já apontava 12 irregularidades, como superfaturamento de quase R$ 13 milhões em cerca de 20% da obra analisada
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O ministro do TCU (Tribunal
de Contas da União) Benjamin
Zymler determinou ontem à
secretaria do órgão em São
Paulo que inspecione o contrato firmado entre a Infraero e as
empresas OAS e Galvão Engenharia para a reforma da pista
principal do aeroporto de Congonhas, onde ocorreu o acidente com o Airbus da TAM, que
matou pelo menos 199 pessoas.
O objetivo, diz Zymler, é verificar se existe alguma correlação entre a execução da obra e
as causas do acidente aéreo. A
Secex-SP (Secretaria de Controle Externo do TCU em São
Paulo) deverá analisar os laudos técnicos que estão sendo
preparados pela Polícia Federal e pela Aeronáutica.
A secretaria, afirma o ministro, deverá confrontar o projeto
inicial de reforma da via com o
que já foi executado.
Comparação similar foi feita
no ano passado pelo TCU. O objeto foi a obra de infra-estrutura do aeroporto de Congonhas,
que aumentou o terminal de
passageiros, incluiu novas escadas rolantes no prédio e reformou a pista auxiliar.
À época, técnicos do tribunal
emitiram um relatório, ainda
não apreciado pelo plenário,
apontando 12 "graves irregularidades", como sobrepreço de
até 252% e superfaturamento
de quase R$ 13 milhões em cerca de 20% da obra analisada.
Um exemplo de sobrepreço é
a compra da ponte de embarque de passageiros ("nose-loader"). A Infraero pagou R$ 2,21
milhões, mas, segundo técnicos
do TCU, o preço de mercado
era de R$ 630 mil.
Esse relatório preliminar levou o Ministério Público Federal a abrir uma ação contra dirigentes da Infraero por suposto
enriquecimento ilícito. No processo, que corre em sigilo, a
Justiça determinou o bloqueio
de bens e a quebra dos sigilos
bancário e fiscal dos citados.
Sem licitação
O TCU analisa ainda o fato de
a Infraero ter contratado em
caráter emergencial (sem licitação) a OAS e a Galvão Engenharia para reformar a pista
principal de Congonhas. O
mesmo procedimento foi adotado pelo Ministério Público
Federal, que quer saber por que
a via foi excluída das obras programadas em 2004.
"Se a pista apresentava problemas desde 2001, por que o
item mais importante de um
aeroporto não foi planejado antes? Isso nós vamos investigar",
afirma a procuradora da República Suzana Fairbanks.
Superintendente da Infraero
Regional Sudeste desde setembro do ano passado, Edgard
Brandão Jr. diz que a reforma
da pista não era prioridade em
2004. Neste ano, porém, com
os constantes problemas de
alagamento, não haveria tempo
para abrir uma licitação.
Em abril deste ano, alegando
urgência na reforma da via, a
Infraero pediu a quatro empresas que disputaram a concorrência de 2004 que apresentassem suas propostas. A OAS e a
Galvão -que foram as vitoriosas na licitação de 2004, ao lado
da Camargo Côrrea- foram escolhidas. A obra foi orçada em
quase R$ 20 milhões.
Segundo Brandão Jr., o contrato foi assinado pelo departamento de engenharia da Infraero, em Brasília. Procurada
pela reportagem, a Infraero e a
OAS não se pronunciaram sobre o caso. A Galvão Engenharia informou que "prefere não
se manifestar neste momento".
A Camargo Côrrea, por sua vez,
disse que a âncora do consórcio
é a OAS, a quem cabe qualquer
pronunciamento.
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