São Paulo, sexta-feira, 26 de agosto de 2005

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ÉTICA NA PROFISSÃO

Categoria desiste de incluir em código item que determinava denunciar casos de violência relatados por pacientes

Psicólogo fica desobrigado de quebrar sigilo

DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de quase um ano de debates, os psicólogos brasileiros resolveram deixar a critério do profissional a decisão de quebrar o sigilo de declarações de pacientes que envolvam casos de violência.
É que foi abolida a idéia de incluir no novo código de ética da categoria -que entra em vigor amanhã- um dispositivo que obrigasse o psicólogo a quebrar o sigilo quando o paciente admitisse ter sofrido ou cometido algum ato de violência.
Ana Bock, presidente do Conselho Federal de Psicologia, afirma, no entanto, que o novo código deixa claro que o sigilo é só para questões íntimas do paciente.
Por exemplo, se o profissional que trabalha em um presídio sabe da prática de tortura no local ou ouve reclamações sobre isso de pacientes, deve denunciá-la.
Na decisão sobre a quebra ou não do sigilo o profissional deverá buscar o menor prejuízo para os envolvidos, diz o novo texto.
O código, por exemplo, proíbe ainda o psicólogo de compartilhar de práticas preconceituosas -por exemplo, a de departamentos de recursos humanos de empresas que vetam contratações de negros e gays.
A reformulação do texto é debatida desde 1998 em congressos da categoria. Em novembro de 2003, houve em Brasília (DF) um fórum sobre ética que acolheu sugestões de todas as instâncias regionais dos conselhos -foi daí que saiu a proposta polêmica sobre a quebra obrigatória de sigilo.
Em setembro de 2004, após uma reportagem da Folha, a categoria iniciou um intenso debate.
"Quando a mídia publicou, aí as pessoas se manifestaram. Chamamos filósofos, jornalistas, advogados. Foi ficando claro que estávamos vivendo uma dúvida que não tinha a ver com a especificidade da vida da psicologia, mas com tensões da modernidade, entre a privacidade e a vida pública", diz Bock, que era uma das principais defensoras da obrigatoriedade da quebra do sigilo. Na época da divulgação da proposta, houve críticas porque ela poderia prejudicar a relação psicólogo-paciente, e também em relação à maneira como a idéia teria sido introduzida, sem ser debatida com profissionais de diferentes tendências.
"A gente não quer ser polícia, mas também não é padre. Foi muito importante ter colocado [a discussão], ela tornou-se um problema social", concluiu a presidente sobre o desfecho da polêmica em torno do sigilo profissional.
Para Bock, a mudança mais importante é o fato de o código colocar claramente que o psicólogo trabalha em uma sociedade complexa e que poderá estar envolvido em questões polêmicas, em que terá de tomar decisões.
Segundo Bock, a mudança resultará em novas discussões nos cursos de psicologia.


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