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ÉTICA NA PROFISSÃO
Categoria desiste de incluir em código item que determinava denunciar casos de violência relatados por pacientes
Psicólogo fica desobrigado de quebrar sigilo
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de quase um ano de debates, os psicólogos brasileiros resolveram deixar a critério do profissional a decisão de quebrar o sigilo de declarações de pacientes
que envolvam casos de violência.
É que foi abolida a idéia de incluir no novo código de ética da
categoria -que entra em vigor
amanhã- um dispositivo que
obrigasse o psicólogo a quebrar o
sigilo quando o paciente admitisse ter sofrido ou cometido algum
ato de violência.
Ana Bock, presidente do Conselho Federal de Psicologia, afirma,
no entanto, que o novo código
deixa claro que o sigilo é só para
questões íntimas do paciente.
Por exemplo, se o profissional
que trabalha em um presídio sabe
da prática de tortura no local ou
ouve reclamações sobre isso de
pacientes, deve denunciá-la.
Na decisão sobre a quebra ou
não do sigilo o profissional deverá
buscar o menor prejuízo para os
envolvidos, diz o novo texto.
O código, por exemplo, proíbe
ainda o psicólogo de compartilhar de práticas preconceituosas
-por exemplo, a de departamentos de recursos humanos de empresas que vetam contratações de
negros e gays.
A reformulação do texto é debatida desde 1998 em congressos da
categoria. Em novembro de 2003,
houve em Brasília (DF) um fórum
sobre ética que acolheu sugestões
de todas as instâncias regionais
dos conselhos -foi daí que saiu a
proposta polêmica sobre a quebra
obrigatória de sigilo.
Em setembro de 2004, após uma
reportagem da Folha, a categoria
iniciou um intenso debate.
"Quando a mídia publicou, aí as
pessoas se manifestaram. Chamamos filósofos, jornalistas, advogados. Foi ficando claro que estávamos vivendo uma dúvida que não
tinha a ver com a especificidade
da vida da psicologia, mas com
tensões da modernidade, entre a
privacidade e a vida pública", diz
Bock, que era uma das principais
defensoras da obrigatoriedade da
quebra do sigilo. Na época da divulgação da proposta, houve críticas porque ela poderia prejudicar
a relação psicólogo-paciente, e
também em relação à maneira como a idéia teria sido introduzida,
sem ser debatida com profissionais de diferentes tendências.
"A gente não quer ser polícia,
mas também não é padre. Foi
muito importante ter colocado [a
discussão], ela tornou-se um problema social", concluiu a presidente sobre o desfecho da polêmica em torno do sigilo profissional.
Para Bock, a mudança mais importante é o fato de o código colocar claramente que o psicólogo
trabalha em uma sociedade complexa e que poderá estar envolvido em questões polêmicas, em
que terá de tomar decisões.
Segundo Bock, a mudança resultará em novas discussões nos
cursos de psicologia.
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