São Paulo, Quinta-feira, 26 de Agosto de 1999
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CRISE NOS TRANSPORTES
Manifestação de motoristas deixou 900 mil passageiros a pé, segundo a prefeitura
Vereador líder dos taxistas provoca adiamento da legalização de perueiros

RODRIGO VERGARA
MARCELO OLIVEIRA
da Reportagem Local

Uma manobra do presidente do sindicato dos taxistas de São Paulo, o vereador Natalício Bezerra (PTB), adiou ontem pela segunda vez a votação de dois polêmicos projetos de lei sobre o transporte. Anteontem, os projetos foram motivo de confrontos entre perueiros e motoristas de ônibus.
A manobra de Natalício Bezerra ocorreu quando os projetos passavam por um congresso de comissões, uma medida adotada para acelerar sua tramitação.
Bezerra, que é vice-presidente da comissão de transportes, pediu "vistas" ao projeto. Com isso, ganhou 48 horas para analisar o texto. Mas ele mesmo assume sua intenção: não quer em São Paulo nenhum perueiro, categoria que faz concorrência aos taxistas.
A medida teve dois efeitos. O primeiro foi descumprir a palavra do presidente da Câmara, Armando Mellão, que anteontem havia prometido as votações a perueiros e motoristas.
"É lamentável. Acordo é para ser cumprido", disse Mellão, após a sessão.
A desobediência de Bezerra, integrante do grupo de vereadores que apóia Pitta, ainda reforçou o racha na base de governo do prefeito, motivado pela insatisfação de um grupo de vereadores que quer mais influência no governo.
Ontem, por exemplo, Bezerra não estava sozinho na oposição aos projetos. Toninho Paiva (PL) e pelo menos mais um vereador, do PTB, já haviam anunciado sua intenção de pedir vistas.
A reação ao adiamento da votação foi menos violenta que a do dia anterior. Os perueiros, que lotaram a galeria da Câmara, demoraram a perceber que a votação havia sido adiada. Só notaram quando a sessão foi encerrada.
A revolta foi pequena. Os manifestantes cantaram e gritaram, em protesto, e jogaram moedas e notas de dinheiro sobre os vereadores, mas saíram sem incidentes.
Após a sessão, decidiram que só voltam a se manifestar na terça-feira, quando deve ser apresentado o projeto do prefeito para votação. Hoje, às 11h30, eles realizam uma reunião para decidir como será o protesto.
Apesar de não estarem presentes à sessão, os motoristas de ônibus causaram mais transtorno, com a continuidade da greve parcial, que completou três dias. Ontem, foram prejudicados 900 mil passageiros, segundo a SPTrans.
Dez empresas de ônibus (seis delas na zona leste) amanheceram fechadas por motoristas e quatro terminais de ônibus (D. Pedro, AE Carvalho, João Dias e Capelinha) foram interditados.
Os momentos de maior tensão ocorreram de manhã. Motoristas e cobradores da Viação Campo Belo interditaram parcialmente a avenida Itapecerica. A polícia deteve alguns motoristas que haviam murchado pneus de ônibus e os liberou em seguida.


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