São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

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DESASTRE NO RIO

Defesa Civil suspeita que haja pelo menos duas vítimas soterradas; buscas foram suspensas por risco de novo acidente

Obra irregular pode ter derrubado prédio

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Equipes de resgate trabalham na busca de possíveis vítimas soterradas pelo desabamento do prédio


SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

Um prédio de quatro andares desabou ontem à tarde na rua 1º de Março, uma das mais movimentadas do centro do Rio de Janeiro. A Defesa Civil suspeita que no local, onde funcionavam um hotel, um restaurante e um chaveiro, haja pelo menos duas pessoas soterradas.
Até o fechamento desta edição, não havia informações precisas sobre o número de vítimas.
À noite, a Defesa Civil suspendeu as escavações no local porque os escombros estariam servindo como escora ao prédio do lado, de cinco andares. Segundo o coordenador do órgão, coronel Jorge Lopes, o edifício -um dos três que ainda correm risco de desabamento- pode ruir caso os escombros sejam retirados.
À tarde, cerca de 20 minutos após o acidente, um estalo em um dos prédios próximos provocou pânico entre os curiosos que acompanhavam o trabalho dos bombeiros.
O coronel Lopes disse que engenheiros farão hoje um projeto de escoramento do prédio lateral. Para ele, a possibilidade de haver sobreviventes é remota.
O desabamento do hotel ocorreu às 15h10. Cinco minutos antes, um forte estalo foi ouvido, assustando as pessoas que estavam no prédio. Muitas delas deixaram o local. O estalo foi provocado pelo descolamento entre o edifício e o prédio vizinho, segundo o Corpo de Bombeiros.
Após o estalo, o edifício, construído há cerca de 40 anos, começou a inclinar para o lado esquerdo, desabando logo depois de maneira vertical. Os escombros, que também caíram sobre a calçada e a rua, provocaram uma nuvem de cerca de 10 metros de altura. Todos os prédios do quarteirão foram evacuados imediatamente.

Feridos
Três pessoas que estavam próximas ao acidente foram socorridas no Hospital Municipal Souza Aguiar.
Paula Ariane Neves Alcântara, 18, foi atingida na cabeça por um pedaço do prédio. Apesar de seu estado não ser considerado grave, a paciente passaria a noite internada, em observação médica.
O taxista Sérgio Batista da Silva, 42, foi internado com escoriações nas duas pernas. Ele contou que passava sob a marquise quando o prédio desabou. Os médicos o liberaram no início da noite.
O funcionário público Antônio Carlos Bolhosa da Motta, 60, foi internado às 17h30. Segundo o hospital, ele foi pisoteado durante o tumulto ocorrido em seguida ao desabamento. Motta também foi liberado no início da noite.
Risco Cerca de 150 profissionais trabalharam na remoção de escombros, auxiliados por três retroescavadeiras e nove caminhões. Cinco cães farejadores, entre eles o labrador Mike, que ajudou na busca ao corpo do jornalista Tim Lopes, foram levados para o local.
Segundo o vice-presidente do Crea (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura), Jaques Sherique, uma obra irregular pode ter causado o desabamento. A obra estava sendo feita havia cerca de um mês no restaurante que funcionava no primeiro andar.
Segundo Sherique, a obra não tinha autorização do Crea. Ele anunciou a abertura de sindicância para apurar se havia autorização da prefeitura e da Defesa Civil. "Se houver um engenheiro, ele será responsabilizado pelo acidente e poderá ter o registro cassado."
O prefeito Cesar Maia (PFL) chegou ao local às 18h30. Ele disse que a administração do prédio foi notificada há três meses pela prefeitura para que realizasse obras de conservação na fachada.
O secretário estadual de Segurança Pública, Roberto Aguiar, também esteve no local momentos após o desabamento. Ele disse que o Estado ajudará a apurar responsabilidades pelo desastre. A 1ª DP (Delegacia de Polícia) abriu inquérito.

Colaboraram MARIO HUGO MONKEN, RAFAEL CARIELLO e TALITA FIGUEIREDO, da Sucursal do Rio


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