São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

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SEGURANÇA

Detentos em DP aproveitam dia de visita para fazer rebelião; reivindicação principal é o fim da superlotação

Presos retêm mulheres e crianças em motim

DO "AGORA"

Presos no 5º DP (Aclimação), em São Paulo, aproveitaram ontem o dia de visita e a presença de cerca de 70 mulheres com 25 crianças -algumas de colo- para fazer uma rebelião. O motim, que começou às 16h, não havia acabado até as 23h15.
A carceragem do distrito conta com cinco celas e tem capacidade para abrigar no máximo 30 detentos. Atualmente estão detidos 170.
Com o apoio de suas mães, mulheres, irmãs, namoradas e filhos, os presos exigiram transferência para outras cadeias.
"Só na cela do meu filho, com vaga para seis presos, tem mais de 30", disse a pesquisadora Sônia Guedes, 44 anos.
Ela contou que estava dentro da carceragem visitando seu filho quando a rebelião começou. De acordo com Sônia, alguns presos foram de cela em cela durante a visita, "convidando" as mulheres a permanecer no local até que a polícia cedesse e começasse a realizar as transferências.
Ainda de acordo com Sônia, além da superlotação, os presos também reclamaram de supostas agressões de policiais.
"Toda vez que algum preso pede para ir ao pronto-socorro, é espancado", disse.
No início da noite, dez mães saíram da carceragem para chamar a imprensa. Até então, a existência do motim não havia sido divulgada pelas autoridades.
À noite, dezenas de policiais civis do GOE (Grupo de Operações Especiais) e do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos) cercaram a delegacia.
Enquanto isso, o delegado Gérson de Carvalho, diretor do Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital), tentava negociar com os rebelados a saída das mulheres e crianças.
"As mulheres insistem que vão ficar até amanhã [hoje" de manhã. Não podemos fazer nada. Se invadirmos a cadeia, as vidas delas e das crianças estariam em risco", afirmou Carvalho.
Sobre as denúncias de suposta violência por parte dos policiais, o diretor do Decap também afirma desconhecer agressões a presos da delegacia. Quanto à reclamação dos detentos de que há superlotação, Carvalho diz que não há vagas para eles em outros distritos para fazer transferências.
Ontem, os presos estariam exigindo que todos os detentos já julgados e condenados fossem transferidos, além de outros 40 rebelados.
Às 23h, Carvalho desistiu das negociações e deixou o DP. Segundo a polícia, não havia feridos nem destruição na carceragem. Os familiares, de acordo com a polícia, poderiam sair da cadeia assim que quisessem.


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