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São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 2003

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BARBARA GANCIA

E a violência na novela das oito?

O ímpeto usado para condenar a falsa entrevista com membros do PCC, apresentada por Gugu Liberato no "Domingo Legal", encerra um leque de intenções pouco nobres.
Por conta das informações sobre o caso publicadas nesta coluna, um canal de TV me ligou requisitando uma entrevista. Maldita a hora em que aceitei gravar o depoimento. Depois que a entrevista foi ao ar, o pessoal não me deu mais paz. Note que eu apenas reiterei na TV o que havia escrito na coluna. Mas não. O que se seguiu foi um desvario generalizado. Produtores, diretores e repórteres do tal canal passaram a ligar para a minha casa a todas as horas do dia e da noite pedindo mais, mais, mais.
Outro programa chegou a anunciar minha presença ao vivo, justamente no horário em que faço meu programa diário, no canal Bandsports. De onde veio essa voracidade toda? Gugu já não ajoelhou no milho? O caso já não foi devidamente desvendado? A resposta, todo mundo sabe, é que a história gerou tamanha repercussão que, desde que a entrevista com o falso PCC foi ao ar, a simples menção do nome de Gugu passou a ser sinônimo de audiência garantida.
Acontece que os mesmos programas que esfolaram Gugu Liberato, se nunca chegaram a armar uma farsa do porte da entrevista inventada com o PCC, também usam de uma concessão pública para exibir brutalidades em horário inadequado.
O Ministério Público Federal já requisitou as fitas dos programas de Márcia Goldsmith e Gilberto Barros. No caso de Márcia, o ministério quer investigar a história da mulher que disse ter vivido conjugalmente com seu próprio filho. E, no caso do Leão, quer saber quem é a vítima da explosão do shopping de Osasco que foi apresentada no programa, mas não consta da lista oficial.
Além de pegar no pé da Márcia e do Gilberto, será que o Ministério Público também vai se manifestar contra cenas como as exibidas por dois dias seguidos na novela das oito, do ex-marido arrebentando uma raquete de tênis sobre o corpo desnudo da professora? Foram momentos intermináveis de violência explícita. Ora, será que a narrativa da novela teria sido prejudicada se a violência tivesse sido apenas sugerida?
Mais: em vez de recorrer à asquerosa censura para castigar Gugu Liberato e, com isso, colocar em risco dezenas de empregos, não seria mais sensato começar estabelecendo o que é jornalismo e o que é mera diversão?


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