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CIÊNCIAS SOCIAIS
Norte-americana mostra que moradores buscam ajuda de criminosos e de entidades para intermediar conflitos
Traficante atua como "juiz", diz pesquisa
CRISTINA GRILLO
ENVIADA ESPECIAL A PETRÓPOLIS
Um trabalho de campo que vem
sendo desenvolvido pela pesquisadora norte-americana Corine
Davis na Rocinha mostra que os
moradores da favela tendem a
buscar a intermediação legal para
resolver conflitos de patrimônio
ou de vizinhança.
Mas quando os problemas são
criminais, a solução procurada é o
que a pesquisadora chama de instância "extralegal informal"-ou
seja, as quadrilhas de tráfico.
Corine mora há um ano na favela da Rocinha e o estudo fará parte
de sua tese de doutorado na Universidade do Texas. Socióloga e
especialista em estudos sobre violência, ela apresentou as conclusões iniciais do estudo no 24ª Encontro Anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais), que termina hoje em Petrópolis (Rio).
Dos oito casos apresentados no
encontro da Anpocs, cinco se referiam a conflitos entre vizinhos.
Três eram problemas criminais.
Os cinco casos envolvendo conflitos de vizinhança foram resolvidos com a intermediação de instituições como associação de moradores, Região Administrativa
ou ONGs instaladas na favela.
Com os problemas criminais, a
situação foi diferente. Dois foram
resolvidos pela instância "extralegal informal" -o tráfico.
No primeiro deles, um viciado
assaltou um morador e ainda
queixou-se do assaltado com os
traficantes -provavelmente, por
ter encontrado pouco dinheiro.
"Como ele tinha contatos regulares com a quadrilha, ou seja, tinha "conceito" entre os traficantes,
achou que conseguiria a punição.
Mas os traficantes não ficaram do
seu lado", conta. Sem ter nenhuma ligação com o tráfico, o assaltado percebeu que, a partir daí,
passara a dever "favores" à quadrilha que ficara do seu lado. Mudou-se da Rocinha pouco depois.
No segundo caso, nem mesmo
houve uma "queixa formal" aos
traficantes. Uma mulher que costumava bater no marido -que
mantinha ligações com a quadrilha da área- recebeu um "aviso"
de que seria bom parar com os espancamentos, sob risco de ela receber o mesmo tratamento.
"O homem, apesar de não ter se
queixado, tinha "conceito" entre
os traficantes e por isso recebeu
ajuda", explica a pesquisadora.
O terceiro caso acabou na Justiça depois que os traficantes, consultados, disseram que não iriam
entrar na questão -que envolvia
um policial militar aposentado
que dera um soco na cunhada.
Sujeitar o PM ao "castigo" que
costuma ser aplicado em casos de
agressão a mulheres -uma surra
ou, em casos mais graves, até a
morte- não foi visto com bons
olhos pelos traficantes, já que a
decisão poderia desencadear uma
operação policial na favela.
Ela recebeu, então, a recomendação dos próprios traficantes para que procurasse a Justiça.
Isso demonstra, diz, que nas
questões não-criminais, como
discussões por causa da construção de uma parede, a intervenção
das quadrilhas vem diminuindo
muito e as instituições legais informais, como as associações de
moradores, ganham espaço como
intermediadores de conflitos.
"O que não exclui a ameaça de
"chamar os caras", mesmo que
não se tenha a intenção de efetivamente chamar. Em todas as circunstâncias, eles funcionam como um poder regulador", diz.
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