São Paulo, sexta-feira, 26 de outubro de 2001

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VIOLÊNCIA

Dois crânios e ossadas foram localizados em uma vala no morro do Cantagalo, localizado na zona sul da cidade

Polícia do Rio acha cemitério clandestino

Carlo Wrede/Agência JB
Policiais procuram ossadas em cemitério clandestino descoberto após denúncia anônima, no Rio


DANIELA MENDES
DA SUCURSAL DO RIO

Um cemitério clandestino foi encontrado ontem por policiais da Core (Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais) e da Delegacia de Homicídios no morro do Cantagalo, entre Ipanema e Copacabana, cartões-postais da zona sul do Rio. Uma denúncia anônima revelou o local.
Os morros do Cantagalo e do Pavão-Pavãozinho compõem um complexo de favelas com acesso tanto por Ipanema quanto por Copacabana. No complexo vivem cerca de 20 mil pessoas.
O cemitério ficava no alto do Cantagalo, onde ainda existe uma mata. Numa vala, em um dos paredões do morro, foram localizados dois crânios e ossadas. A suspeita é que traficantes usassem o local para fazer o despejo dos cadáveres de pessoas mortas por eles mesmos dentro da favela.
Um pé de tênis, tíbias, partes de costelas e de colunas vertebrais, além dos crânios, foram recolhidos por dois alpinistas da Polícia Civil. Com a ajuda de um helicóptero Águia, os policiais tiveram de escalar uma encosta para chegar ao local onde estavam as ossadas.
A Core investigou a denúncia anônima durante duas semanas, até encontrar fortes indícios de que era verdadeira. Segundo a polícia, as ossadas estavam lá havia pelo menos três anos. No entanto, dados definitivos sobre a causa da morte e a idade dos ossos só serão revelados depois da perícia do IML (Instituto Médico Legal) e da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), que mantém convênio com a Polícia Civil.
"Tinha muito osso, no mínimo dois cadáveres, com possibilidade de haver três ou quatro corpos", afirmou o inspetor da Delegacia de Homicídios Sérgio Santos, que participou da operação.
O delegado da Core Carlos Eduardo de Almeida afirmou que a identificação dos corpos pode elucidar crimes em investigação. "É óbvio que ali houve um crime. Existe chance de que algum corpo pertença a pessoas que estão sendo procuradas pela família."
A polícia acredita que existam muito mais corpos em cemitérios clandestinos naquela região. Novas buscas não estão descartadas.
De acordo com o comandante da GPAE (Grupamento de Policiamento de Áreas Especiais), major Antônio Carlos Carballo, existem fortes suspeitas de que haja mais ossadas em três pontos do complexo de favelas Cantagalo e Pavão-Pavãozinho. O problema, segundo ele, é que nesses locais existe muito lixo, o que dificulta o acesso e a operação varredura.
O comandante disse que é muito comum nas favelas que as pessoas reclamem do sumiço de parentes. "Não podemos continuar convivendo com esses fantasmas. É preciso esclarecer as coisas, passar a história a limpo, para ninguém ficar refém desse passado."
Ele disse que não foram registrados homicídios no morro desde que o GPAE foi instalado na área, há um ano. Mas admite que é difícil impedir crimes cometidos nas disputas pelas bocas-de-fumo. "A guerra dentro da própria quadrilha é difícil prevenir. Essas ossadas devem ser de pessoas ligadas ao tráfico mortas num desses combates", disse.


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