São Paulo, terça-feira, 26 de outubro de 2004

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BRIGA POR ESPAÇO

Grupos entraram em confronto por prédio abandonado em SP; antigos ocupantes registraram ocorrência

Sem-teto invadem hotel e expulsam hippies

DO AGORA

Seis "hippies sem-teto" foram desalojados de um hotel abandonado, não por policiais da Tropa de Choque ou seguranças particulares contratados, mas por militantes... sem-teto.
Cerca de 20 membros do Movimento de Trabalhadores Sem-Teto da Região Central invadiram, às 22h30 de anteontem, o hotel já ocupado, na rua 13 de Maio, no Bexiga (região central). Com 17 quartos, o hotel estava abandonado há cerca de oito meses.
Seis moradores de rua, quatro homens e duas mulheres, que viviam no hotel abandonado há cerca de dois meses, foram expulsos pelos militantes.
"Nós os colocamos para fora porque eram um monte de hippies usuários de drogas, e o movimento não pode conviver com o consumo de droga", disse o coordenador-geral do movimento Amilton de Souza.
Os dois grupos de sem-teto entraram em confronto, com mordidas e pedradas, e houve feridos leves dos dois lados.
Segundo Souza, a invasão de anteontem foi organizada após o pedido da ambulante Paula Monteiro, 32, uma sétima sem-teto que vivia no hotel, mas não simpatizava com os demais devido ao suposto consumo de drogas.
"Eles eram um bando de maloqueiros, que só viviam fazendo lambança do pior tipo", afirmou Monteiro.
"Chamei o povo do movimento para organizar a situação", disse. Ela foi para o hotel após abandonar um quarto de pensão em Diadema, onde pagava R$ 170 por mês. "Estava há dois meses sem conseguir pagar aluguel", disse.
Quatro dos sem-teto expulsos foram ao 5º Distrito Policial (Aclimação) registrar um boletim de ocorrência de averiguação de constrangimento ilegal: o garçom Douglas Martins de Camargo, 31, o balconista Júlio César da Silva, 30, e os artesões Gabriel Martine Garcia, 28, e Danielle Cristiane dos Santos, 20.
Segundo a polícia, eles foram embora antes que a ocorrência estivesse encerrada. Santos e Garcia, que teriam sido agredidos, não chegaram a fazer o exame de corpo de delito.
Os militantes também acusaram os sem-teto "informais" de agressão. "Os "nóias" jogaram pedras na gente e uma delas até me mordeu", contou a balconista Kelly Diane de Souza, 23, mostrando as marcas de dentes no polegar. Kelly e a mãe estão no movimento há sete anos.
"Não desanimamos, porque temos esperança de conseguir um lugar para morar."
Na manhã de ontem, enquanto lavavam o local para receber os novos moradores, os sem-teto encontraram seringas e latas cortadas usadas por viciados.

Novas invasões
O líder Souza disse que a ocupação de anteontem foi apenas a primeira de outras programadas para esta semana. Segundo ele, as novas invasões servirão para reacomodar 136 famílias que atualmente moram em três prédios invadidos, todos ameaçados de reintegração de posse.
Um deles é um prédio na rua Diocleciano, no Bom Retiro, com 80 famílias. Na avenida São Joaquim, há um outro endereço invadido, com 40 famílias, e um imóvel na rua 21 de Abril abriga 16 famílias de sem-teto.
"Como nos três deve haver despejo no começo de fevereiro, vamos fazer outras invasões para poder acomodar as famílias", afirmou Souza.
O prédio na rua 13 de Maio vai abrigar 20 famílias.


Colaborou a Reportagem Local

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