FERNANDA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Estou com o corpo todo dolorido e preciso juntar R$ 18 até o final do dia para dormir em um hotel", disse Danielle Cristiane de Souza, 20.
Souza é uma das "sem-teto hippies" que foi expulsa por sem-teto militantes do hotel na rua 13 de Maio na noite de anteontem.
Ela e outro amigo, o argentino Gabriel Garcia Martine, 28, moravam no endereço havia quatro meses. Os dois fazem artesanato e vendem brincos, colares e pulseiras nas calçadas da av. Paulista.
Eles contam que, quando começaram a viver no hotel, ninguém morava lá.
"Pulei uma janela num dia, depois pulei outra janela no outro, até que o dono desistiu e aceitou que a gente ficasse no local com a condição de deixá-lo limpo", diz Gabriel, há dez anos no Brasil.
Segundo eles, os militantes sem-teto chegaram ao hotel armados de facas "de açougue" e jogaram a comida que eles e mais sete amigos estavam preparando.
"Eles já chegaram e foram mandando a gente sair dos quartos, fui apanhando de um lado e de outro. Não consegui nem tirar as minhas coisas de lá", disse Danielle.
Ela e Gabriel, que disse ter recebido uma facada no pé, ficaram mais de quatro horas na delegacia e, quando viram que a polícia não ia fazer nada, decidiram ir embora. Isso já era quase às 5h da madrugada de ontem.
Foram então ao Hospital Público do Servidor Municipal, onde o pé de Gabriel foi costurado com três pontos e enfaixado.
Os militantes disseram que houve apenas empurrões.
"Disseram que a gente estava drogado? Queria ver se iam conseguir me tirar de lá se eu estivesse bêbada", disse Danielle.
Ela está na rua há cerca de seis meses, faltando dois meses para terminar o ensino médio. Quando saiu de casa, seu pai lhe deu um celular, mas ela nunca carrega a bateria. Às vezes, vai visitar a família, que mora na zona sul.
Por que você não vai dormir na casa da sua mãe? "Ih, nem rola", disse desconversando.


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