|
Próximo Texto | Índice
SEGURANÇA
Policiais substituem vigias e são acionados por celular quando algum morador vai entrar ou sair de casa; prática é ilegal
Classe média paga PMs para proteger bairro
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Moradores de classe média da
cidade de São Paulo têm contratado policiais militares para a proteção de seus bairros, em substituição aos tradicionais vigias de rua
-que, por lei, são obrigados a
trabalhar desarmados.
O atendimento, ilegal, é personalizado. Os PMs não ficam parados na rua, como os vigias normais, mas fazem rondas e são
acionados por celular quando alguém vai chegar ou sair de casa
-e os riscos de assalto crescem.
Os policiais pagos atuam fora
do horário de trabalho, mas, segundo alguns moradores, dão
uma atenção especial aos bairros
mesmo em seu expediente.
O custo -que vai de R$ 50 a R$
150 por moradia- é atrativo por
ser inferior ao cobrado por empresas regulares de proteção de
propriedades, muitas vezes contratadas pelas classes mais altas.
A Folha identificou a existência
desse esquema em bairros como
Saúde, Vila Guarani, Cidade Vargas e Vila Parque Jabaquara, na
zona sul, e em ruas de classe média do Morumbi, na zona oeste.
O serviço em Cidade Vargas
chegou a ser oferecido por meio
de cartas preparadas por uma
presidente de Conseg (Conselho
Comunitário de Segurança) e distribuídas nas ruas do bairro.
O Conseg, conselho que discute
os problemas de violência da região, é definido pela Secretaria da
Segurança Pública como uma entidade para apoiar a "Polícia Estadual nas relações comunitárias".
A secretaria é representada em
cada conselho comunitário pelo
comandante da PM da região e
pelo correspondente delegado titular do distrito policial.
Nas cartas, entregues nas portas
das casas, a líder comunitária, em
nome dos moradores, se dizia
cansada dos constantes assaltos,
roubos de carro e seqüestros relâmpagos. "A segurança será feita
por policiais militares, portanto
pessoas experientes na abordagem dos suspeitos", anunciava.
O serviço, hoje por R$ 50,
abrange comunicação direta com
os PMs por celular. "Mais barato
que os despreparados vigilantes"
de rua, argumentava a moradora.
Lá, a adesão, em três anos de
funcionamento, chegou a 150 residências -de um total de mil-
num quadrilátero com 20 ruas,
monitorado por carros e motos.
Bico ilegal
O serviço dos PMs é irregular
até porque, mesmo que na hora
de folga, eles são proibidos de fazer bico. A prática está sujeita à
prisão dentro dos quartéis e, em
caso de reincidência, até a demissão. O expediente de um policial
militar pode variar dependendo
da função que exerce, mas, normalmente, é de 12 horas de trabalho por 36 horas de folga.
A prática do bico se torna mais
polêmica pelo conjunto de vantagens que agrega. "Quando eles
vêem alguém pulando um muro
ou algo assim, eles também chamam a polícia. E, pelo fato de ser
PM, lógico, ligando para a polícia....", diz Miriam Eboli Bock,
presidente do Conseg Jabaquara.
"Tem mais força?", pergunta a
reportagem. "Você entendeu,
né?", completa a moradora, que
diz quase ter sido "linchada" por
um grupo de 20 vigias de rua que
foram dispensados na região depois da contratação dos policiais.
"O PM é preparado, está acostumado com operações de risco e dá
para pagar. Se for contratar uma
segurança privada, eles cobram
caríssimo, R$ 400 por casa", afirma Bock.
"Eles fazem a segurança na folga. Mas, quando não podem vir
naquele horário, vem a viatura
deles que está na rua. Ela fica dando cobertura. São amigos, passam
aqui toda hora", diz uma mulher
da Vila Parque Jabaquara, onde
também houve convocação por
carta para a vizinhança aderir.
Neste bairro, a proposta de uso
dos PMs como vigias foi articulada há três meses, depois que um
morador, magistrado do Tribunal
de Justiça de São Paulo, foi vítima
de cinco assaltos, em 2005, no período de cinco meses -a Folha
preserva seu nome porque ele
afirma sofrer ameaças em razão
do cargo que ocupa.
O magistrado, em um dos assaltos, teve uma metralhadora apontada para a sua cabeça e viu a
agressividade dos criminosos
contra alguns familiares, segundo
relatos de moradores.
O pagamento aos policiais militares na região é feito por 30 casas,
incluindo a do magistrado do TJ,
que atuou na organização do serviço. O preço inicial foi de R$ 150,
mas depois caiu para R$ 100.
Próximo Texto: Eles vendem facilidade, diz especialista Índice
|