São Paulo, quarta-feira, 26 de outubro de 2005

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Eles vendem facilidade, diz especialista

DA REPORTAGEM LOCAL

O problema da remuneração de PMs por moradores não se restringe à irregularidade do bico, mas principalmente à dificuldade de impedir a utilização da estrutura pública, na avaliação de especialistas na área de segurança.
"Os moradores geralmente contratam não só a segurança, mas suas facilidades. É um serviço particular de polícia. Se ele deixa de ser policial, não é contratado porque não usa as facilidades do Estado", afirma Guaracy Mingardi, pesquisador da ONU.
Entre os exemplos dessas "facilidades" está a possibilidade de solicitar a presença de carros da polícia com mais rapidez -inclusive podendo interferir nas prioridades de atendimento.
O coronel da reserva José Vicente da Silva, ex-secretário nacional de Segurança Pública, afirma que "a polícia não pode consentir" com essa prática. "Normalmente há esquemas por trás envolvendo vários lugares. Eles vendem prioridades e facilidades", afirma.
Evandro Capano, presidente da comissão de segurança pública da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), vê uma tendência de migração dos PMs para esse tipo de bico. Ele afirma que era mais comum a atuação dos policiais em estabelecimentos comerciais.
"De dois anos para cá, estão migrando. Na loja, ele está sozinho, é mais perigoso. Na rua, está mais disperso e menos exposto, além da facilidade de ligar, na hora do imprevisto, para a polícia", diz.
Capano diz que, "para a segurança pública, é algo ruim", mas entende a "lógica do morador".
A média salarial de um soldado da PM é próxima de R$ 1.300.
Altino Francisco da Silva Neto, presidente do sindicato dos vigilantes autônomos de São Paulo, diz haver atritos em algumas ruas por conta da presença de PMs tentando ocupar os espaços.
A categoria, que conta com mais de 400 mil no Estado, entre irregulares e regulares, tenta obter autorização para andar armada. Há projetos de lei que, se aprovados, poderão atender a esse pedido dos vigias de rua.
Carlos Roberto Silveira, assessor do sindicato dos vigilantes que atuam em empresas de São Paulo, afirma que os PMs fazem um tipo de concorrência desleal nas ruas, já que cobram menos que as firmas regulares de proteção de propriedades. "É um fenômeno novo", afirma.


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