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REFERENDO
Para secretário-geral, vitória do "não" indica que população considera o Estado ineficiente para prover sua proteção
País não crê na segurança pública, diz CNBB
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O secretário-geral da CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil), dom Odilo Scherer,
afirmou ontem que a vitória do
"não" no referendo sobre a proibição da venda de armas e munições no país demonstra que a população brasileira "não confia" na
segurança pública e que considera o Estado "ineficiente" para prover a segurança das pessoas.
"O referendo traz à tona uma
série de questões. Parece que a sociedade, diante das propagandas
do "sim" e do "não", não pode confiar na segurança pública. E entendeu que o Estado é ineficiente
para prover a segurança das pessoas", disse dom Odilo, em entrevista ontem na sede da CNBB.
Segundo ele, é "problemático" o
fato de as pessoas estarem procurando armas para cuidar da própria segurança, o que, segundo
ele, é papel do Estado.
"Ficou a idéia de que é importante que a sociedade e as pessoas
físicas tenham acesso às armas e
possam elas mesmas cuidar de
si", afirmou ele.
Dom Odilo sinalizou que a vitória do "não" pode trazer um risco
de explosão na sociedade. "Parece
-me problemático ir por esse caminho [de cada um se armar],
porque quanto mais pólvora no
meio da população maior é o risco de explosão. O Estado é quem
tem de assegurar a segurança."
O Brasil, diz, "continua nutrindo" a cultura da violência. "Não
somos ainda uma sociedade que
prioriza uma cultura da paz e da
não-violência, mas ainda prioriza
o fato de ter uma arma na mão para se defender e até ameaçar."
Bispo de Jales (SP) e integrante
do Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social da Presidência, dom Demétrio Valentini disse
que "o resultado do referendo nos
convida a uma séria reflexão". "O
referendo não dividiu o Brasil em
duas partes. Houve sim uma convergência nacional muito clara
sobre a preocupação de todos
com a segurança."
Apuração
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) concluiu às 10h30 de ontem
a apuração dos votos do referendo sobre a proibição do comércio
de armas e munições. No último
domingo, 95,375 milhões de pessoas compareceram às 323.368 seções eleitorais do país, e o "não"
teve 63,94% dos votos.
Os números finais são: o "não"
teve 59,109 milhões de votos
(63,94%), o "sim", 33,333 milhões
(36,06%). Houve 1,329 milhão de
votos brancos (1,39%) e 1,604 milhão nulos (1,68%).
O "não" teve maior votação em
Marechal Thaumaturgo
(97,44%), no Acre. O "sim" obteve a maior soma em Rio dos Pires
(78,60%), na Bahia.
Veja o resultado da votação em cada cidade na
www.folha.com.br/052981
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