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Anistia aponta fracasso do governo
DA REPORTAGEM LOCAL
Relatório da Anistia Internacional entregue ontem ao Comitê de
Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) diz
que o governo do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva fracassou na
implantação de políticas de direitos humanos. Para a entidade, o
Plano Nacional de Segurança Pública, anunciado por Lula no início da gestão, não se concretizou.
"A grande promessa do governo brasileiro de fazer reforma na
segurança pública não está sendo
vista. A segurança segue baseada
na repressão, na violação dos direitos humanos e na corrupção",
disse ontem Tim Cahill, pesquisador da Anistia para o Brasil.
O relatório da maior entidade
de direitos humanos do mundo
ajudará a embasar os questionamentos do comitê a representantes do governo brasileiro, em encontro que começa hoje, em Genebra (Suíça). A prestação de
contas é prevista no Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, firmado pelo Brasil em 1992.
A última sabatina foi em 1996.
No relatório "Brasil: nove anos
de oportunidades perdidas nos
direitos humanos", a Anistia denuncia a continuidade de execuções sumárias (muitas com apoio
de policiais), tortura, maus-tratos
nas prisões e instituições para jovens infratores e ameaças a defensores dos direitos humanos.
A principal crítica do documento, no entanto, é referente ao período do governo Lula. "Houve
uma falta por parte do governo
em implementar as propostas do
Plano Nacional de Segurança Pública. Isso foi refletido no fato de
que a população brasileira votou
claramente no "não" no referendo
por causa da falta de crença no governo na questão de segurança",
afirmou Cahill.
Segundo o pesquisador, o Brasil
não investiga os homicídios de
forma eficaz, e a maioria dos casos de tortura fica impune. "A expectativa [de melhoria] era muito
alta. Mas faltou vontade política
por parte do governo Lula. A
questão de segurança pública é
evitada a todo custo pelo governo
federal. É deixada à margem da
Secretaria Nacional de Segurança
Pública. E é só um elemento do
Ministério da Justiça, não é uma
parte forte", disse.
Esse descaso, segundo relatório
da Anistia, justificaria a redução
dos recursos do Fundo Nacional
de Segurança Pública: de R$ 417
milhões para R$ 170 milhões.
A Anistia também afirmou que
o Plano Nacional de Direitos Humanos, de 1996, não impediu a
continuidade dos casos de tortura
e mortes em que os agentes são os
principais suspeitos.
A comitiva de 12 representantes
do governo brasileiro responde
hoje e amanhã aos questionamentos do comitê. O relatório da
Anistia deve complicar a situação
do Brasil nesse debate. No começo de novembro, os membros do
órgão devem finalizar uma série
de recomendações que deverão
ser seguidas pelo governo.
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