São Paulo, quarta-feira, 26 de outubro de 2005

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Rio lança guia de bens preservados, mas omite degradação dos locais

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Recém-editado pelo governo estadual, o álbum "Patrimônio Cultural-Guia dos Bens Tombados pelo Estado do Rio de Janeiro 1965-2005" omite informações a respeito do atual estado de imóveis, espaços públicos, recantos naturais e relíquias que deveriam estar preservadas.
Entre os bens tombados pelas administrações fluminenses nos últimos 40 anos estão áreas em processo de devastação, como as dunas de Cabo Frio (a 155 km do Rio, na região dos lagos); prédios em péssimo estado de conservação, como o da Polícia Federal, no centro do Rio; e áreas verdes ameaçadas pela favelização, como o morro Dois Irmãos e o parque da Cidade (zona sul).
O álbum será lançado hoje na Casa França-Brasil (rua Visconde de Itaboraí, 78, centro), às 19h.
Em capa dura que destaca a quase tricentenária capela de Nossa Senhora da Conceição, em Guapimirim (município a 85 km do Rio), o livro traz fotos coloridas e textos explicativos sobre cada bem tombado.
Na apresentação da obra, a governadora Rosinha Matheus (PMDB) enaltece "o papel fundamental exercido pelo governo fluminense na preservação de bens que fazem parte da memória de todos os brasileiros". Ela cita como importantes no "esforço para garantir a preservação das feições originais de determinado lugar" o tombamento da praia de Grumari (zona oeste carioca), "a única do Rio de Janeiro livre de construções", e dos "costões, formações geológicas únicas" de Armação dos Búzios (a 190 km do Rio).
A apresentação da governadora não aborda as precárias condições de parte dos bens. O assunto também não é citado ao longo das 122 páginas. Em seu texto sobre o Inepac, o secretário estadual de Cultura, Arnaldo Niskier, não faz referências ao tema.
O diretor-geral do Inepac (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural), Marcus Monteiro, disse à Folha que foi deliberada a omissão das informações a respeito do estado dos bens tombados.
De acordo com Monteiro, se trouxesse informações sobre os bens sob tombamento em má conservação, o álbum ficaria desatualizado em caso de restauração. Da mesma forma, disse, o livro terá informações defasadas caso um dos bens, em boas condições na atualidade, venha a ser depredado no futuro.
Como exemplo do que chama de "dinâmica da rotina do Inepac", Monteiro conta que, depois de a publicação ter ido para o prelo, mais dois bens foram tombados pelo governo estadual: um galpão na Urca (zona sul do Rio) e um sobrado que veio a dar origem ao município de Nilópolis (Baixada Fluminense).
Inicialmente, o guia de bens não será vendido. A distribuição vai ser gratuita para bibliotecas e escolas da rede estadual de ensino. Somente se houver uma segunda tiragem é que poderá haver a venda do álbum, de acordo com a Secretaria Estadual de Cultura.
Na lista de bens tombados, há prédios, monumentos, obras de artes plásticas, formações rochosas, trechos de litoral, serras, praças e até a sede de um clube de futebol, o Fluminense, no bairro das Laranjeiras (zona sul).


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