São Paulo, sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sem verba, Cebrap fecha curso tradicional

Fim do financiamento força Centro Brasileiro de Análise e Planejamento a fechar Programa de Formação de Quadros Profissionais

Financiadora das bolsas do programa desde 1989, Capes, ligada ao Ministério da Educação, não renovou acordo para o ano que vem

UIRÁ MACHADO
COORDENAÇÃO DE ARTIGOS E EVENTOS

Por falta de financiamento, o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) precisará encerrar seu mais tradicional curso, o Programa de Formação de Quadros Profissionais, criado em 1986.
A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), do Ministério da Educação, financiadora das bolsas do programa desde 1989, não renovou o acordo para o ano que vem.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Capes diz que o contrato termina em fevereiro de 2008 e que esse curso do Cebrap não se enquadra nos seus programas. Afirma ainda que a análise de situações como essa será feita só em janeiro.
Na prática, porém, sem a renovação do contrato ainda neste ano, o Cebrap não pode abrir edital para selecionar novos bolsistas. Tampouco pode garantir a permanência dos atuais estudantes em 2008.
Anualmente, o Cebrap vinha abrigando nesse programa quatro novos pesquisadores. As bolsas concedidas atualmente eram de pós-doutorado -cerca de R$ 3.000-, por dois anos.
Desde seu início, passaram pelo curso nomes como Ronaldo Porto Macedo Jr., Sérgio Fausto, Amaury Bier, Leda Paulani, Esther Hamburguer, Marcos Antonio M. Cintra e Pedro Puntoni, entre outros.
Tradicional reduto de intelectuais tucanos, o Cebrap foi fundado em 1969 por um grupo de professores universitários, entre os quais estava o hoje ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ao longo da ditadura militar, seus programas ficaram a salvo de interferências.
O programa de formação de quadros, que surgiu após o fim da ditadura, não havia enfrentado problemas de renovação de contrato com a Capes até 2005, em meio ao primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
O atual convênio -firmado em 2002 e aditado no começo de 2004- definia que as bolsas, que antes eram para estudantes de mestrado ou doutorado, passaria a ser para recém-doutores; e estabelecia prazo de vigência até o começo de 2008.
Em outubro de 2005, porém, o coordenador do curso, José Arthur Giannotti, professor emérito de filosofia da USP, recebeu um ofício da Capes. O órgão anunciava a extinção do programa em dezembro daquele ano. A causa: "indisponibilidade orçamentária" da agência.
Giannotti contornou a situação negociando a observação da vigência do convênio. "O que se espera agora é que o programa seja avaliado para poder ser interrompido ou prosseguir de acordo com seus méritos ou deméritos. Não queremos ficar enviesados", diz.
A Folha enviou ao presidente da Capes, Jorge Almeida Guimarães, sete questões sobre o assunto. Queria entender por que um curso que não se enquadra nos programas da entidade foi financiado por tanto tempo e por que seria extinto só agora. Esperou mais de um mês, fez cobranças semanais, mas não obteve resposta da presidência do órgão.


Texto Anterior: Helicóptero resgata coração no trânsito
Próximo Texto: Entrevista / Sérgio Cabral Filho: Se homem ficasse grávido, aborto já seria legal no país
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.