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Método fônico avança na alfabetização
Sem alarde, sistema que associa letras a sons ganha espaço no Brasil; em países desenvolvidos, houve embate contra construtivistas
No país, polêmica sobre escolha do método durou só dois meses, quando o MEC disse em 2006 que poderia priorizar um dos sistemas
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Nos EUA, elas ficaram conhecidas como "Reading Wars"
(guerras de alfabetização). Foi
uma disputa encarniçada e com
fortes tintas ideológicas, que
chegou a ser comparada à polêmica em torno do aborto.
De um lado, estavam os defensores dos métodos fônicos,
que enfatizam a necessidade de
ensinar a criança a associar grafemas (letras) a fonemas
(sons). Do outro, perfilavam-se
os construtivistas, para quem o
aprendizado da leitura deve ser
um ato tão "natural" quanto
possível, a ser exercido com
textos originais e não com
obras artificiais como cartilhas.
No Brasil, a coisa lembra
mais a não havida Batalha de
Itararé: o que prometia ser o
mais sangrento conflito pedagógico do país acabou não
acontecendo, e a controvérsia
agora caminha para decidir-se
sem traumas maiores, com os
métodos fônicos ganhando espaço pelas bordas do sistema.
"Os construtivistas não gostam muito, mas a questão [dos
métodos] vem se resolvendo de
forma pouco explícita", declarou à Folha o ministro da Educação, Fernando Haddad.
Na mesma toada vai o professor de psicologia da USP
Fernando Capovilla. "Sem
muito alarde, as coisas estão
mudando. E é bom que seja assim. A ciência demonstrou que
o fônico é mais eficaz, especialmente para os mais pobres".
Nos países desenvolvidos, a
polêmica remonta aos anos 50,
atingiu seu ápice no final dos
90 e de algum modo se resolveu a partir dos 2000, depois
que os governos dos EUA, da
França e do Reino Unido, com
base em vários estudos comparativos, recomendaram o ensino dos elementos fônicos no
processo de alfabetização.
No Brasil, o "confronto final"
foi evitado. Em fevereiro de
2006, Haddad propôs o debate,
sugerindo a revisão dos PCNs
(parâmetros curriculares nacionais) da educação básica.
Os fonetistas viram aí a oportunidade de lançar o que seria o
golpe de misericórdia contra o
método global. Os construtivistas, por seu turno, valendo-se
da privilegiada posição de linha
pedagógica predominante na
maioria das escolas públicas e
privadas do país, prometiam
resistir por todos os meios.
Silvia Colello, professora de
pedagogia da USP, é uma das
que se opõem aos métodos fônicos. Para ela, quando o professor adota esses programas
"cartilhescos" e enfatiza o domínio do código escrito, ele "tira da língua o que ela tem de
mais precioso". O aluno, diz,
não se reconhece nesse artificialismo e se desinteressa.
Percebendo que o debate estava a gerar mais calor do que
luz, dois meses depois, em
abril, Haddad anunciou que o
ministério desistira de recomendar um método oficial.
"Levei tanta pancada, inclusive da Folha", disse o ministro. "Mas acho que serviu para
preparar o terreno. Hoje há
mais clima para discutir essas
questões", acrescentou.
A relativa indefinição favoreceu posições mais conciliatórias, como a de Magda Soares,
professora emérita da Faculdade de Educação da UFMG.
Para ela, o construtivismo teve o inegável mérito de colocar
a criança como sujeito ativo no
processo de aprendizagem,
mas, no caso da alfabetização,
acabou se tornando uma teoria
sem método que substituiu o
método sem teoria das cartilhas do século passado.
Soares, que prepara um livro
sobre o assunto, diz que existe
"produção riquíssima" lá fora
demonstrando a necessidade
de trabalhar com elementos fônicos. Para ela, o ponto-chave
para o sucesso na alfabetização
é a "formação dos formadores".
Experiência no molde defendido por Soares está em curso
em Lagoa Santa (região metropolitana de Belo Horizonte).
Ali a pedagoga Juliana Storino coordena um programa que,
sem esquecer pressupostos
construtivistas, como a adequação do currículo à realidade
do aluno, busca desde cedo
despertar a consciência fonológica dos alunos. "Apesar de já
operarmos há três anos, ainda
encontramos resistências por
parte de professores."
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