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Ponto de crack impede alfabetização de adultos
DA REPORTAGEM LOCAL
Durou dois meses uma classe
de alfabetização de adultos no Jardim Ângela, o distrito com o
maior número de homicídios em
São Paulo. Depois foi fechada
porque os alunos não aceitavam
estudar ao lado de um ponto-de-venda e consumo de crack.
A classe funcionava dentro de
uma creche da prefeitura e nem
era noturna; era vespertina. A
pouco mais de 500 metros dela, há
um posto de polícia comunitária.
"Não teve jeito. Os alunos morriam de medo", diz Antônio Valter Fiusa, 30, da organização não-governamental Cio da Terra,
coordenador de dez classes de alfabetização de adultos no Jardim
Ângela.
A classe do Jardim Dionísio, um
dos bairros do Jardim Ângela, tinha 25 alunos.
No Jardim Nakamura, outro
bairro do distrito, Fiusa enfrentou
problema similar, mas conseguiu
reverter a situação. Os alunos de
uma turma que funcionava ao lado de um ponto-de-venda de
crack desistiram do curso, mas
voltaram uma semana depois.
Nesse processo, 5 dos 30 alunos
acabaram abandonando o curso.
Polícia
A coordenadora pedagógica
dos cursos do Jardim Ângela, Luciana Santos Almeida, 22, já está
acostumada com os revezes provocados pela violência.
"Cheguei um dia numa sala de
aula e não tinha ninguém. Descobri que todos haviam ido embora
porque tinha ocorrido um tiroteio
na rua não fazia 10 minutos", diz.
Luciana diz que, no caso da classe fechada, não ocorreu a ninguém chamar a polícia. Ela afirma
que a segurança do bairro melhorou com o posto policial, mas que
precisaria de proteção 24 horas
por dia para a classe operar. "Não
queremos proteção exclusiva. A
polícia tem de cuidar do bairro
como um todo", defende.
O sargento David Monteiro da
Conceição, que comanda a base
comunitária da Polícia Militar no
Jardim Ângela, reconhece que a
ação contra o tráfico deixa a desejar: "As informações sobre os traficantes estão chegando, mas conseguimos poucos resultados até
agora", diz.
A razão é a de sempre: faltam
homens e empenho para aumentar o policiamento na região. O
sargento tem 22 PMs para cuidar
de 235 mil habitantes -ou 1 PM
para 10.681 moradores, enquanto
a proporção recomendada pela
ONU (Organização das Nações
Unidas) é de 1 por 250.
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