São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2000

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Ponto de crack impede alfabetização de adultos

DA REPORTAGEM LOCAL

Durou dois meses uma classe de alfabetização de adultos no Jardim Ângela, o distrito com o maior número de homicídios em São Paulo. Depois foi fechada porque os alunos não aceitavam estudar ao lado de um ponto-de-venda e consumo de crack.
A classe funcionava dentro de uma creche da prefeitura e nem era noturna; era vespertina. A pouco mais de 500 metros dela, há um posto de polícia comunitária.
"Não teve jeito. Os alunos morriam de medo", diz Antônio Valter Fiusa, 30, da organização não-governamental Cio da Terra, coordenador de dez classes de alfabetização de adultos no Jardim Ângela.
A classe do Jardim Dionísio, um dos bairros do Jardim Ângela, tinha 25 alunos.
No Jardim Nakamura, outro bairro do distrito, Fiusa enfrentou problema similar, mas conseguiu reverter a situação. Os alunos de uma turma que funcionava ao lado de um ponto-de-venda de crack desistiram do curso, mas voltaram uma semana depois. Nesse processo, 5 dos 30 alunos acabaram abandonando o curso.

Polícia
A coordenadora pedagógica dos cursos do Jardim Ângela, Luciana Santos Almeida, 22, já está acostumada com os revezes provocados pela violência.
"Cheguei um dia numa sala de aula e não tinha ninguém. Descobri que todos haviam ido embora porque tinha ocorrido um tiroteio na rua não fazia 10 minutos", diz.
Luciana diz que, no caso da classe fechada, não ocorreu a ninguém chamar a polícia. Ela afirma que a segurança do bairro melhorou com o posto policial, mas que precisaria de proteção 24 horas por dia para a classe operar. "Não queremos proteção exclusiva. A polícia tem de cuidar do bairro como um todo", defende.
O sargento David Monteiro da Conceição, que comanda a base comunitária da Polícia Militar no Jardim Ângela, reconhece que a ação contra o tráfico deixa a desejar: "As informações sobre os traficantes estão chegando, mas conseguimos poucos resultados até agora", diz.
A razão é a de sempre: faltam homens e empenho para aumentar o policiamento na região. O sargento tem 22 PMs para cuidar de 235 mil habitantes -ou 1 PM para 10.681 moradores, enquanto a proporção recomendada pela ONU (Organização das Nações Unidas) é de 1 por 250.


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