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MEDICINA
Equipamentos para tratamento de tumores com radiação diminuem nível de toxicidade e reduzem riscos para tecido sadio
Novos aparelhos ajudam a tratar câncer
CÉLIA CHAIM
DA REPORTAGEM LOCAL
Um senhor do interior de São
Paulo, com 70 anos, está entrando
para a história do Hospital Sírio
Libanês, um dos melhores centros de competência médica do
país, pioneiro na implantação da
unidade de terapia intensiva, da
detecção do vírus da AIDs em
exames de sangue e da telemedicina, uma maneira rápida e eficiente de obter uma segunda opinião de um especialista do Memorial Hospital, de Nova York.
Todos os dias, por volta das 10h,
aquele senhor alto e esquio é o
principal personagem de uma nova era no campo do tratamento de
tumores com radiação, uma instalação sofisticada que custou
US$ 5 milhões e que, ao leigo, parece coisa de ficção.
O conjunto inclui aparelhos de
última geração, todos gerenciados por um software de integração, um dos mais abrangentes sistemas de gestão hospitalar existente na área de oncologia no
mundo, administrando desde a
admissão do paciente até a completa execução do tratamento.
Segundo a direção do hospital
brasileiro, não mais do que 30
centros de saúde no mundo têm
esse conjunto, que embute uma
técnica avançada e complexa de
tratamento com radioterapia,
através da qual se esculpe a irradiação aplicada ao tumor.
Chama-se IMTR o coração dessa revolução, sigla de Intensity
Modulation Radiation Therapy,
um sistema que não só dá a forma
do feixe de irradiação como modula a sua intensidade, campo por
campo, segmento após segmento.
Assim, pode-se atingir doses antes não imaginadas de radiação
nos tumores, aumentando a
chance de cura e diminuindo a níveis muito baixos a toxicidade, o
que reduz ao mínimo os prejuízos
nos tecidos sadios.
"O Sírio Libanês está fazendo
um investimento forte em tratamento e diagnóstico de câncer",
diz o médico Antonio Carlos Buzaid, diretor executivo do Centro
de Oncologia do hospital, reconhecido aqui e nos Estados Unidos, onde trabalhou durante
anos.
No final de 2001 todo o centro
será transferido para um prédio
de quatro andares em construção
ao lado do hospital, onde os pacientes farão quimioterapia em
quartos individuais com o conforto de um hotel e terão acesso ao
que há de mais recente no tratamento de câncer.
Buzaid parece estar conectado a
um radar que acompanha passo a
passo tudo de novo que surge no
mundo da oncologia. Atualmente, ele diz, a estratégia mais promissora no tratamento de câncer
é a combinação de anticorpos
com quimioterapia. Esses anticorpos, chamados "smart drugs",
vão atrás dos caminhos por onde
circulam as células cancerosas.
Ele cita o exemplo do "myelotag", que age contra leucemias
agudas. É uma droga bem recente
que é muito útil para 20% a 30%
dos pacientes. "Ajuda, ou seja, diminui o câncer, prolonga a vida,
mas ainda não cura", diz o especialista.
O armamento de drogas novas
efetivamente vem aumentando.
"Inclusive para o tratamento quimioterápico", diz o oncologista
Wladimir Nadalin, diretor dos
serviços de radioterapia do Hospital Oswaldo Cruz e do Hospital
das Clínicas, em São Paulo. "Elas
trazem uma perspectiva e uma
resposta que não existiam há cinco, dez anos", ele diz.
É na radioterapia, porém, que o
desenvolvimento dos últimos
anos alcança seu apogeu -não
por coincidência, justamente a
época da grande arrancada da tecnologia digital.
Todos os recursos da nova instalação de radioterapia do Sírio
Libanês são integrados num programa de computador que consolida e gerencia as ordens médicas.
Graças ao avanço tecnológico, o
sistema permite até 40 graduações da radiação, o que tradicionalmente é feito numa só.
O trabalho é tão preciso que exigiu 150 horas da equipe multidisciplinar do Sírio Libanês, comandada pelo radiooncologista João
Luis Fernandes da Silva. "É o
must dos últimos 30 anos", diz.
O sistema reduz a possibilidade
de falha humana a zero (o técnico
não entra na sala) e também reduz o tempo de radiação, da média de 14 minutos para a média de
11 minutos. "Requer um enorme
controle de qualidade."
No Hospital Oswaldo Cruz, novos acessórios tecnológicos se
agregam aos equipamentos de radioterapia para permitir que o
computador reconstrua o tumor
de forma tridimensional, marcando as barreiras de proteção
aos tecidos normais e dirigindo
100% da radiação para o alvo.
Da mesma forma, o avanço da
tecnologia digital vem permitindo que hospitais como o Oswaldo
Cruz, entre outros, realizem as
chamadas radiocirurgias: são arcos que o aparelho de radioterapia descreve em torno da cabeça
do paciente para atingir tumores
que não ultrapassem 2,5 centímetros de diâmetro.
Se essas inovações, mais ou menos recentes, não curam completamente, proporcionam melhores
condições de vida ao paciente. Indagado pelo médico João Luis
Fernandes da Silva sobre seu estado, o senhor de 70 anos que inaugura o novo sistema do Sírio Libanês e tem um tumor na próstata
disse que vai muito bem.
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