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EDUCAÇÃO
Para o MEC, queda na qualidade decorre do aumento do contigente de alunos que retornaram às salas de aula
Ensino básico piora no Norte e no Nordeste
LISANDRA PARAGUASSÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O que já não era bom ficou pior.
Os resultados do Saeb (Sistema de
Avaliação do Ensino Básico), a serem apresentados esta semana
pelo Ministério da Educação,
apontam queda na qualidade de
ensino não só em Estados que
apresentam problemas desde a
primeira análise, em 1995, como
nos que estavam acima da média.
O maior exemplo da queda é
Minas Gerais. O Estado, que na
última avaliação, em 1997, estava
acima do nível médio do país nas
três séries avaliadas -4ª e 8ª do
ensino fundamental e 3º ano do
ensino médio- em português e
no 3º ano do ensino médio em
matemática, caiu em todas elas.
Isso significa que, nessa última
situação, no último antes do vestibular, os alunos sabem trabalhar
apenas com potência, raiz quadrada e frações. Esses são temas
para turmas de 5ª e 6ª série.
O exame, realizado a cada dois
anos, é para mostrar a qualidade
do ensino no país por meio de
avaliação dos alunos, inclusive de
escolas particulares. Português e
matemática são as duas disciplinas em que é possível fazer comparação porque foram incluídas
desde a primeira avaliação.
A pontuação obtida pelos estudantes é dividida em níveis -que
medem o grau de conhecimento
do avaliado- e em notas.
Os maiores problemas ficaram,
mais uma vez, no Norte e no Nordeste. Em muitos casos, as notas
regrediram para os valores de
1995, quando foi feito o primeiro
Saeb, ou até menos. Em matemática, na 4ª série, com exceção do
Amazonas, todos os outros 15 Estados dessas regiões têm médias
entre 160 e 175, ou seja, o primeiro
nível de aprendizagem, mesmo
depois de quatro anos de escola.
A justificativa encontrada pelo
Inep (Instituto Nacional de Estatísticas e Pesquisas em Educação)
é que os sistemas de ensino absorveram, nos últimos anos, uma
enorme quantidade de alunos
que estava fora da escola.
São crianças e adultos, que voltaram ao ensino básico, após terem ficado sem estudar por muito
tempo, muitos com dificuldades
de aprendizagem, graças a programas como o Fundef (Fundo de
Valorização do Ensino Fundamental) e o Renda Mínima.
"Na verdade, essa é a melhor
notícia do Saeb", afirma Maria
Helena Castro, presidente do
Inep. "Apesar dessa enorme incorporação de alunos, há uma estabilização do sistema."
Maria Helena cita parte de um
estudo com os resultados do Saeb
para mostrar que a defasagem dos
novos alunos puxou as médias
para baixo. Segundo ela, a pesquisa mostra que um aluno de 11
anos na 4ª série tem uma nota nos
testes de português 11 pontos
mais baixa que um de 10 anos -a
idade prevista para a série.
"A escola tem que se preparar
para receber esses alunos", afirma. "Isso mostra que programas
para corrigir essa defasagem são
absolutamente necessários."
Mas a inclusão de novos alunos,
reconhece Maria Helena, não é a
única explicação. Prova disso é
que, apesar da rede particular
perder alunos, também houve
queda nas médias, principalmente no 3º ano do ensino médio.
O MEC identifica uma estabilidade porque muitos Estados, apesar de terem baixado as suas médias, não chegaram a cair de nível
de proficiência, ou seja, a medida
das habilidades e do conteúdo
que os alunos sabem. No entanto,
há pouco o que comemorar também em relação a isso.
Em português, na 4ª série, com
exceção de Minas, que caiu, todos
os outros Estados continuam no
mesmo nível -o primeiro.
Isso significa que os alunos lêem
textos curtos, com frases diretas, e
compreendem parte deles. Em
matemática, 50% dos Estados têm
seus estudantes no nível 1 -em
que reconhecem figuras, como
quadrado ou triângulo, e captam
dados em gráficos de coluna.
A outra metade -a região Sul e
Sudeste, mais Amazonas- conseguiu ensinar a seus alunos operações de soma e subtração.
No final da 4ª série espera-se,
normalmente, que os estudantes
façam as quatro operações.
No entanto, esse nível só é atingido pelos alunos da 8ª série. Isso
em todos os Estados, apesar das
médias no Sul e Sudeste serem
um pouco mais altas.
Para Neroaldo de Azevêdo, presidente da União dos Dirigentes
Municipais de Educação os resultados mostram que é necessário
investir mais e capacitar professores e dirigentes de educação, que
devem aprender a lidar melhor
não só com os bons alunos, mas
com os problemas também.
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