São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2000

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EDUCAÇÃO
Para o MEC, queda na qualidade decorre do aumento do contigente de alunos que retornaram às salas de aula
Ensino básico piora no Norte e no Nordeste

LISANDRA PARAGUASSÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O que já não era bom ficou pior. Os resultados do Saeb (Sistema de Avaliação do Ensino Básico), a serem apresentados esta semana pelo Ministério da Educação, apontam queda na qualidade de ensino não só em Estados que apresentam problemas desde a primeira análise, em 1995, como nos que estavam acima da média.
O maior exemplo da queda é Minas Gerais. O Estado, que na última avaliação, em 1997, estava acima do nível médio do país nas três séries avaliadas -4ª e 8ª do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio- em português e no 3º ano do ensino médio em matemática, caiu em todas elas.
Isso significa que, nessa última situação, no último antes do vestibular, os alunos sabem trabalhar apenas com potência, raiz quadrada e frações. Esses são temas para turmas de 5ª e 6ª série.
O exame, realizado a cada dois anos, é para mostrar a qualidade do ensino no país por meio de avaliação dos alunos, inclusive de escolas particulares. Português e matemática são as duas disciplinas em que é possível fazer comparação porque foram incluídas desde a primeira avaliação.
A pontuação obtida pelos estudantes é dividida em níveis -que medem o grau de conhecimento do avaliado- e em notas.
Os maiores problemas ficaram, mais uma vez, no Norte e no Nordeste. Em muitos casos, as notas regrediram para os valores de 1995, quando foi feito o primeiro Saeb, ou até menos. Em matemática, na 4ª série, com exceção do Amazonas, todos os outros 15 Estados dessas regiões têm médias entre 160 e 175, ou seja, o primeiro nível de aprendizagem, mesmo depois de quatro anos de escola.
A justificativa encontrada pelo Inep (Instituto Nacional de Estatísticas e Pesquisas em Educação) é que os sistemas de ensino absorveram, nos últimos anos, uma enorme quantidade de alunos que estava fora da escola.
São crianças e adultos, que voltaram ao ensino básico, após terem ficado sem estudar por muito tempo, muitos com dificuldades de aprendizagem, graças a programas como o Fundef (Fundo de Valorização do Ensino Fundamental) e o Renda Mínima.
"Na verdade, essa é a melhor notícia do Saeb", afirma Maria Helena Castro, presidente do Inep. "Apesar dessa enorme incorporação de alunos, há uma estabilização do sistema."
Maria Helena cita parte de um estudo com os resultados do Saeb para mostrar que a defasagem dos novos alunos puxou as médias para baixo. Segundo ela, a pesquisa mostra que um aluno de 11 anos na 4ª série tem uma nota nos testes de português 11 pontos mais baixa que um de 10 anos -a idade prevista para a série.
"A escola tem que se preparar para receber esses alunos", afirma. "Isso mostra que programas para corrigir essa defasagem são absolutamente necessários."
Mas a inclusão de novos alunos, reconhece Maria Helena, não é a única explicação. Prova disso é que, apesar da rede particular perder alunos, também houve queda nas médias, principalmente no 3º ano do ensino médio.
O MEC identifica uma estabilidade porque muitos Estados, apesar de terem baixado as suas médias, não chegaram a cair de nível de proficiência, ou seja, a medida das habilidades e do conteúdo que os alunos sabem. No entanto, há pouco o que comemorar também em relação a isso.
Em português, na 4ª série, com exceção de Minas, que caiu, todos os outros Estados continuam no mesmo nível -o primeiro.
Isso significa que os alunos lêem textos curtos, com frases diretas, e compreendem parte deles. Em matemática, 50% dos Estados têm seus estudantes no nível 1 -em que reconhecem figuras, como quadrado ou triângulo, e captam dados em gráficos de coluna.
A outra metade -a região Sul e Sudeste, mais Amazonas- conseguiu ensinar a seus alunos operações de soma e subtração.
No final da 4ª série espera-se, normalmente, que os estudantes façam as quatro operações.
No entanto, esse nível só é atingido pelos alunos da 8ª série. Isso em todos os Estados, apesar das médias no Sul e Sudeste serem um pouco mais altas.
Para Neroaldo de Azevêdo, presidente da União dos Dirigentes Municipais de Educação os resultados mostram que é necessário investir mais e capacitar professores e dirigentes de educação, que devem aprender a lidar melhor não só com os bons alunos, mas com os problemas também.


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