São Paulo, terça-feira, 26 de novembro de 2002

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"Nenhuma droga provoca o crime"

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A cocaína usada por Gustavo Napolitano agiu como um desbloqueador de sentimentos que o estudante já vinha alimentando. Os assassinatos -que ele relatou já ter cogitado antes- poderiam ocorrer em outra madrugada de uso ou num dia de bebedeira.
Esse ponto é compartilhado por especialistas ouvidos ontem. O psiquiatra Sergio Seibel, do comitê de álcool e drogas da Associação Paulista de Medicina, diz que "nenhuma droga em si é criminógena, ela não provoca o crime". "A cocaína serviu para que ele tirasse o pé do freio", que realizasse um desejo que já tinha antes e que só será entendido pelo especialista que vier a cuidar dele.
Seibel, que é um dos autores do livro "Dependência de Drogas" (Atheneu), não vê a droga como "criadora de psicopatologia".
O psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), diz que "uma droga não é capaz de provocar um comportamento homicida". "No máximo, a droga liberta uma tendência contida." Segundo ele, a relação droga-violência, sempre referida, tem a ver com a ilegalidade da droga, que leva o dependente a se envolver em situações de risco.
Silveira diz que o uso frequente pode provocar microinfartos que levam a alterações de personalidades. "O mais provável, no entanto, é que o problema seja anterior ao uso da droga."
Sandra Scivoletto, psiquiatra do Grea, grupo de estudos em drogas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, diz que o "uso de cocaína pode levar, em casos extremos, a uma desestruturação da vida e dos valores". "Num momento de desespero, ele pode achar que a solução mais rápida de eliminar cobranças que estão fazendo a ele é eliminar as pessoas que o estão cobrando." Intoxicado, ele distorce os valores a ponto de oferecer o carro em troca de papelotes de droga.
O uso de medicamentos antidepressivos, citado por Napolitano, potencializaria o efeito da cocaína, por serem dois estimulantes, mas não justifica uma atitude violenta, dizem os psiquiatras.


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