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"Nenhuma droga provoca o crime"
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A cocaína usada por Gustavo
Napolitano agiu como um desbloqueador de sentimentos que o
estudante já vinha alimentando.
Os assassinatos -que ele relatou
já ter cogitado antes- poderiam
ocorrer em outra madrugada de
uso ou num dia de bebedeira.
Esse ponto é compartilhado por
especialistas ouvidos ontem. O
psiquiatra Sergio Seibel, do comitê de álcool e drogas da Associação Paulista de Medicina, diz que
"nenhuma droga em si é criminógena, ela não provoca o crime".
"A cocaína serviu para que ele tirasse o pé do freio", que realizasse
um desejo que já tinha antes e que
só será entendido pelo especialista que vier a cuidar dele.
Seibel, que é um dos autores do
livro "Dependência de Drogas"
(Atheneu), não vê a droga como
"criadora de psicopatologia".
O psiquiatra Dartiu Xavier da
Silveira, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), diz que
"uma droga não é capaz de provocar um comportamento homicida". "No máximo, a droga liberta uma tendência contida." Segundo ele, a relação droga-violência, sempre referida, tem a ver
com a ilegalidade da droga, que
leva o dependente a se envolver
em situações de risco.
Silveira diz que o uso frequente
pode provocar microinfartos que
levam a alterações de personalidades. "O mais provável, no entanto, é que o problema seja anterior ao uso da droga."
Sandra Scivoletto, psiquiatra do
Grea, grupo de estudos em drogas
do Instituto de Psiquiatria do
Hospital das Clínicas, diz que o
"uso de cocaína pode levar, em
casos extremos, a uma desestruturação da vida e dos valores".
"Num momento de desespero, ele
pode achar que a solução mais rápida de eliminar cobranças que
estão fazendo a ele é eliminar as
pessoas que o estão cobrando."
Intoxicado, ele distorce os valores
a ponto de oferecer o carro em
troca de papelotes de droga.
O uso de medicamentos antidepressivos, citado por Napolitano,
potencializaria o efeito da cocaína, por serem dois estimulantes,
mas não justifica uma atitude violenta, dizem os psiquiatras.
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