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AMAZÔNIA
Valor da passagem varia de R$ 25 a R$ 300 no porto clandestino; usuário teme acidente, mas não desiste de viajar
Apesar do risco, preço baixo atrai morador
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM E MANAUS
O medo de enfrentar um naufrágio está constantemente na cabeça dos passageiros das embarcações regionais da Amazônia.
Mesmo assim, eles contornam o
temor para chegar ao destino com
uma passagem um pouco mais
barata, mesmo viajando em um
barco superlotado, como os que
saem do porto Manaus Moderna.
No porto, quem controla a burocracia são os chamados peões,
que trabalham para Boizão, o dono do Manaus Moderna. Ele não
foi localizado pela Folha.
"Trabalho nessa área [vendendo bilhetes" há sete anos. É o dono
do barco que tem o controle de
passageiros", disse o peão William Siqueira Lima, 23, que tinha
bilhetes para as cidades de Tefé e
Santarém. Nesse trecho, uma passagem pode custar de R$ 25 a R$
300, se o passageiro viajar numa
suíte -um camarote com banheiro. O camarote simples custa
R$ 250. Por um lugar para a rede,
que o passageiro leva para atar no
convés, paga-se até R$ 80.
Edith Duarte de Oliveira, 50,
gastou R$ 585 pelas passagens [R$
80 cada" dela e dos dois filhos,
Maciel, 17, e Otávio, 15, e pelo
transporte da sua mudança para
Fortaleza. "Eu fico muito nervosa
quando penso nos naufrágios,
mas não há outro meio para eu
viajar", disse. De Belém, Edith pegaria um ônibus até Fortaleza. A
outra alternativa seria viajar de
avião, pagando até R$ 1.017.
No barco Almirante Azevedo, o
comandante não forneceu à reportagem o total de passageiros,
da carga, como também não quis
se identificar. Mas era notória a
superlotação da embarcação
-passageiros disputavam no grito um lugar para atar a rede.
Os comandantes negam haver
riscos. Há 30 anos no ramo, Amadeu Gonzaga, 48, faz papel de capitão, prático e conferente do barco Pai João, que faz a rota Nova
Olinda-Borba (AM), na região do
rio Madeira. "Nos dois naufrágios
que aconteceram comigo, ninguém morreu. Só morre se acontecer descuido", disse Gonzaga,
que ganha R$ 300 mensais.
Descuido ou não, sobreviventes
do naufrágio do Dom Luiz 15-1º
não tiram da lembrança o dia da
tragédia. A dona-de-casa Elcilene
dos Santos, conseguiu salvar o bebê Jefferson, de três meses, após
ter sido atirada no rio.
"Usei um pedaço de tábua para
deitar a criança enquanto esperava socorro. Fiquei cinco horas na
água à espera de ajuda", disse.
Os familiares viveram o drama
da procura pelos desaparecidos
na praia do rio Pará, em Barcarena. Mortos foram resgatados diariamente. Apesar disso, os familiares esperançosos permaneciam
aguardando nas margens do rio.
As buscas já foram encerradas e
totalizaram 44 mortos.
A estudante Ana Regina, 24,
procurava pela mãe Joselina Alves, 57 ."Vivo uma angústia diária
à espera de notícias da minha
mãe, que não apareceu na lista de
sobreviventes. Ela iria passar o
Natal em Belém", disse.
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