São Paulo, quinta-feira, 26 de dezembro de 2002

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PASQUALE CIPRO NETO

"Mexa-se! Toma..."

Há duas semanas, analisei uma questão da última prova da Fuvest. Os leitores gostaram e pediram que eu repetisse a dose. Vejamos, então, outra pergunta do mesmo exame, em que o assunto é o uso do verbo no modo imperativo. Para preparar o terreno, pense nesta mensagem, que encerra uma peça publicitária estrelada por um ex-jogador de futebol: "Mexa-se! Toma XX".
Que tal a correlação entre as formas imperativas "mexa-se" e "toma"? Vá pensando nisso, enquanto trocamos duas palavras a respeito do caso. Nas várias regiões do Brasil, o imperativo da língua do dia-a-dia não é uniforme. Na oralidade baiana, por exemplo, teríamos "Se mexa! Tome XX"; na paulista, "Se mexe! Toma XX". E como ficaria essa mensagem na escrita culta?
Enquanto você pensa, apresento-lhe a mencionada questão da Fuvest: "Entre as mensagens abaixo, a única que está de acordo com a norma escrita culta é: a) Confira as receitas incríveis preparadas para você. Clica aqui! / b) Mostra que você tem bom coração. Contribua para a campanha do agasalho! / c) Cura-te a ti mesmo e seja feliz! / d) Não subestime o consumidor. Venda produtos de boa procedência. / e) Em caso de acidente, não siga viagem. Pede o apoio de um policial.".
Talvez seja bom (re)lembrar como se forma o imperativo afirmativo culto. A segunda pessoa do singular (tu) vem do presente do indicativo, sem o "s" final. Na frase "a" da questão da Fuvest, a forma "clica" ("Clica aqui!") está na segunda do singular, já que resulta da eliminação do "s" final de "clicas" ("eu clico, tu clicas"). Na mesma frase, encontra-se "confira" ("Confira as receitas..."). Essa forma é da terceira pessoa do singular ("você", "senhor/a" etc.) do imperativo afirmativo, que vem diretamente do presente do subjuntivo ("que eu confira, que tu confiras, que você confira...").
As formas imperativas "confira" e "clica" são de pessoas gramaticais diferentes. Na escrita culta, teríamos "Confira as receitas (...) preparadas para você. Clique aqui!" ou "Confere as receitas (...) para ti. Clica aqui!".
Você já pode responder sobre a mensagem publicitária. "Mexa-se" combina com "tome" ("Mexa-se! Tome XX"). Ambas são da terceira pessoa do singular do imperativo afirmativo, que, como já vimos, vem do presente do subjuntivo. Para que se use "toma", da segunda do singular ("tu") do imperativo, é preciso que se use "Mexe-te!". "Mexe-te" resulta da eliminação do "s" de "mexes" ("eu me mexo, tu te mexes...").
Você já concluiu que, na questão da Fuvest, a resposta é... Qual é? É "d". Nela, os dois verbos estão na terceira do singular. O detalhe é que o primeiro verbo ("Não subestime") está no imperativo negativo, cujo processo de formação não é igual ao do afirmativo. Para formar o negativo, basta copiar o presente do subjuntivo.
Na letra "b", teríamos "Mostre que você tem bom coração. Contribua..." (ou "Mostra que tens bom coração. Contribui...". Na "e", "Não siga viagem. Peça o apoio de um policial" (ou "Não sigas viagem. Pede o apoio...").
Mereceria comentário particular a frase "c" ("Cura-te a ti mesmo e seja feliz!"), especialmente pelo verbo "ser". Volto ao assunto na próxima coluna. É isso.


Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.
E-mail - inculta@uol.com.br



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