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PASQUALE CIPRO NETO
"Mexa-se! Toma..."
Há duas semanas, analisei uma questão da última
prova da Fuvest. Os leitores gostaram e pediram que eu repetisse a
dose. Vejamos, então, outra pergunta do mesmo exame, em que o
assunto é o uso do verbo no modo
imperativo. Para preparar o terreno, pense nesta mensagem, que
encerra uma peça publicitária estrelada por um ex-jogador de futebol: "Mexa-se! Toma XX".
Que tal a correlação entre as
formas imperativas "mexa-se" e
"toma"? Vá pensando nisso, enquanto trocamos duas palavras a
respeito do caso. Nas várias regiões do Brasil, o imperativo da
língua do dia-a-dia não é uniforme. Na oralidade baiana, por
exemplo, teríamos "Se mexa! Tome XX"; na paulista, "Se mexe!
Toma XX". E como ficaria essa
mensagem na escrita culta?
Enquanto você pensa, apresento-lhe a mencionada questão da
Fuvest: "Entre as mensagens
abaixo, a única que está de acordo com a norma escrita culta é: a)
Confira as receitas incríveis preparadas para você. Clica aqui! / b)
Mostra que você tem bom coração. Contribua para a campanha
do agasalho! / c) Cura-te a ti mesmo e seja feliz! / d) Não subestime
o consumidor. Venda produtos de
boa procedência. / e) Em caso de
acidente, não siga viagem. Pede o
apoio de um policial.".
Talvez seja bom (re)lembrar como se forma o imperativo afirmativo culto. A segunda pessoa do
singular (tu) vem do presente do
indicativo, sem o "s" final. Na frase "a" da questão da Fuvest, a forma "clica" ("Clica aqui!") está na
segunda do singular, já que resulta da eliminação do "s" final de
"clicas" ("eu clico, tu clicas"). Na
mesma frase, encontra-se "confira" ("Confira as receitas..."). Essa
forma é da terceira pessoa do singular ("você", "senhor/a" etc.) do
imperativo afirmativo, que vem
diretamente do presente do subjuntivo ("que eu confira, que tu
confiras, que você confira...").
As formas imperativas "confira" e "clica" são de pessoas gramaticais diferentes. Na escrita
culta, teríamos "Confira as receitas (...) preparadas para você. Clique aqui!" ou "Confere as receitas
(...) para ti. Clica aqui!".
Você já pode responder sobre a
mensagem publicitária. "Mexa-se" combina com "tome" ("Mexa-se! Tome XX"). Ambas são da terceira pessoa do singular do imperativo afirmativo, que, como já
vimos, vem do presente do subjuntivo. Para que se use "toma",
da segunda do singular ("tu") do
imperativo, é preciso que se use
"Mexe-te!". "Mexe-te" resulta da
eliminação do "s" de "mexes"
("eu me mexo, tu te mexes...").
Você já concluiu que, na questão da Fuvest, a resposta é... Qual
é? É "d". Nela, os dois verbos estão
na terceira do singular. O detalhe
é que o primeiro verbo ("Não subestime") está no imperativo negativo, cujo processo de formação
não é igual ao do afirmativo. Para formar o negativo, basta copiar o presente do subjuntivo.
Na letra "b", teríamos "Mostre
que você tem bom coração. Contribua..." (ou "Mostra que tens
bom coração. Contribui...". Na
"e", "Não siga viagem. Peça o
apoio de um policial" (ou "Não
sigas viagem. Pede o apoio...").
Mereceria comentário particular a frase "c" ("Cura-te a ti mesmo e seja feliz!"), especialmente
pelo verbo "ser". Volto ao assunto
na próxima coluna. É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.
E-mail - inculta@uol.com.br
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