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ORÇAMENTO PARTICIPATIVO
Das 142 prioridades para 2002, só 55 estão prontas; governo atribui atraso à falta de terrenos
55% das obras não superaram a burocracia
DA REPORTAGEM LOCAL
Não há tijolo sobre tijolo no local onde deveriam estar 78 das 142
obras propostas por moradores
de São Paulo nas assembléias do
Orçamento Participativo de 2001
(execução prevista para 2002).
São 24 unidades de saúde, um
centro de zoonoses e 53 escolas e
creches que não conseguiram
vencer a burocracia da máquina e
sair do papel (veja quadro).
Essas obras, segundo a prefeitura, estão em fase de análise ou
aquisição de terreno, orçamento,
projeto ou licitação. Encontrar
áreas que comportem os equipamentos, segundo o governo, é o
maior obstáculo às construções.
Das 64 obras restantes, 55 foram
concluídas e nove estão em obras
-todas elas são creches ou escolas, pois a primeira obra de posto
de saúde começará em março.
A situação se refere a 31 de dezembro. Nessa data, das 55 unidades concluídas, 30 estavam em
funcionamento e 25 esperavam
móveis e professores para atender
aos alunos neste ano. Móveis e
professores não estão incluídos
no Orçamento Participativo.
Para construir os prédios, comprar os terrenos e pagar os projetos, a prefeitura empenhou até 31
de dezembro R$ 361,36 milhões
dos R$ 459,58 milhões reservados
para os pedidos da população.
Para os coordenadores do Orçamento Participativo, o resultado é
bom, pois nenhum governo conseguiu 100% de realização na estréia do programa.
Além de apontar obras prioritárias, os debatedores do Orçamento Participativo de 2001 solicitaram investimentos em serviços.
Um deles, a criação de novas
equipes do Programa de Saúde da
Família (PSF), tinha a meta de fechar 2002 com 900 equipes, mas
chegou a 76,6% desse total.
A criação de novas vagas em
creches conveniadas foi o outro
serviço pedido. A proposta era
que a cidade saltasse de 55.872 vagas no final de 2001 para 76.072 no
final de 2002. A meta ficou em
82,7% do previsto.
Atraso na pele
As dificuldades enfrentadas pelo governo atingem em cheio a
população. A dona-de-casa Noele
Queiroz de Oliveira, 22, mora na
Casa Verde Alta (zona norte) e
tem três filhos, de dois, três e quatro anos. O marido está preso. Ela,
desempregada. Morando de favor
com a mãe, ela diz que não há creches na região para que possa deixar as crianças e procurar serviço.
"No ano passado falaram que
iria abrir uma creche por aqui. Fiz
a inscrição, mas não abriram."
A creche a qual ela se refere deveria ter sido construída na avenida Massao Watanabe, área da
Subprefeitura da Casa Verde. Era
a prioridade da região, mas não
existe. A prefeitura diz que o local
escolhido pela população era uma
área de uso comum do povo. Ou
seja: teria de abrigar uma praça,
por exemplo, não uma creche.
"Teria um enorme custo político pedir que a Câmara Municipal
enterrasse definitivamente a possibilidade de existir uma praça em
um local onde não há área de lazer", afirma o paraguaio Félix
Sánchez, coordenador do programa. "Aí começamos a procurar
outro terreno, o que demora. A
falta de área é um problema de toda obra pública, mas esse conflito
entre a necessidade e a possibilidade fica mais evidente no Orçamento Participativo."
Sánchez espera que a implantação dos governos locais aproxime
os subprefeitos de suas regiões e
minimize o desconhecimento da
administração sobre a situação
jurídica das áreas, o que pode ajudar nas escolhas feitas nas discussões do Orçamento Participativo
para 2004.
(SÍLVIA CORRÊA e DAGUITO RODRIGUES)
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