|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Em SP, escola de samba vende até perfume
Rosas de Ouro pretende lançar a marca de um novo produto, feito com exclusividade para a escola, em pleno desfile
O enredo da agremiação, que fala sobre perfumes, também conseguiu atrair patrocínio de outras empresas do segmento
KARIN DELEUSE BLIKSTAD
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Se no Carnaval do Rio os recursos públicos se destacaram
no financiamento dos desfiles
de 2008, em São Paulo os apelos das escolas de samba estiveram mais direcionados para a
iniciativa privada -embora
nem sempre com sucesso.
O ápice da estratégia comercial por trás da alegria dos foliões será a Rosas de Ouro, que
pretende lançar a marca de um
novo produto em pleno desfile.
O perfume Rosaessência teve
sua fragrância exclusiva preparada pela Symrise para se tornar tema da apresentação da
escola de samba -durante a
qual serão distribuídos 35 mil
sachês à platéia do Anhembi.
O enredo vai servir para divulgar a nova marca do produto, ligado à Rosas de Ouro e que
deve ser vendido no mercado.
Em seu desfile sobre perfumes, além da própria fragrância
que pretende comercializar, a
Rosas também conseguiu
atrair outras empresas do segmento, embora mantenha sob
segredo as cifras de patrocínio.
A Parfums de France terá um
carro alegórico para divulgar
seus produtos. "Vamos botar os
frascos na avenida. Entregamos nossos modelos e foram
feitas réplicas", diz Laurent
Morcrette, diretor da empresa.
A busca por um enredo potencialmente "patrocinável"
para os desfiles deste ano levou
duas escolas a baterem as cabeças. Águia de Ouro e Acadêmicos do Tucuruvi vão falar do
mesmo assunto: sorvete.
A coincidência teve origem
na sugestão feita há seis anos
por Eduardo Weisberg, presidente da Abis (Associação Brasileiras das Indústrias de Sorvetes), que queria a divulgação
do produto não só como guloseima, mas como alimento, para aumentar seu consumo.
As duas escolas chegaram a
organizar uma festa para os
empresários do ramo de sorvete, segundo Hussein Abdo El
Selan, conhecido como Jamil,
presidente da Acadêmicos do
Tucuruvi. Cada uma desembolsou R$ 10 mil, segundo ele.
Mas a busca de dinheiro privado acabou fracassada. Nenhuma empresa investiu nas
escolas, exceto com a prometida distribuição de 20 mil sorvetes nas apresentações. "O pior é
que nós gastamos e não recebemos. Esperávamos conseguir
uns R$ 700 mil", afirma Jamil.
"Não houve tempo hábil para
captar os recursos pela Lei
Rouanet. Mas faço questão de
dar os parabéns às escolas", diz
Weisberg, argentino que vive
há três décadas no Brasil.
Mesmo escolas de samba
paulistanas sem enredos abertamente comerciais chegam a
realizar adaptações questionáveis para conseguir dinheiro da
iniciativa privada no Carnaval.
No desfile da Tom Maior, por
exemplo, haverá uma ala com
fantasias de cotonetes, dentre
outros utensílios de higiene.
Seu enredo é: "Glória Paulista - São Paulo na Vanguarda da
Economia Brasileira". O que
tem a ver com os cotonetes? A
versão da escola é a de que invoca a expansão dessa indústria no Estado e a disseminação
dos produtos à população.
Mas por trás da decisão está
um patrocínio de R$ 25 mil que
a Tom Maior diz ter recebido
da Johnson & Johnson. O dinheiro não cobre nem 2% dos
gastos de um desfile para disputar título do Carnaval, mas é
valorizado diante da escassez.
A escola de samba procurou
300 empresas atrás de parcerias. Mesmo com a disposição
de expor cotonetes para falar
da economia de São Paulo, conseguiu só três -totalizando R$
75 mil em patrocínios.
Os desfiles acontecem na
sexta-feira e no sábado.
Texto Anterior: Chegada da família real portuguesa como tema rende verba extra a escolas Próximo Texto: Temas e patrocínio de escolas surgem de "ciranda de contatos' Índice
|