São Paulo, domingo, 27 de janeiro de 2008

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Em SP, escola de samba vende até perfume

Rosas de Ouro pretende lançar a marca de um novo produto, feito com exclusividade para a escola, em pleno desfile

O enredo da agremiação, que fala sobre perfumes, também conseguiu atrair patrocínio de outras empresas do segmento

KARIN DELEUSE BLIKSTAD
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Se no Carnaval do Rio os recursos públicos se destacaram no financiamento dos desfiles de 2008, em São Paulo os apelos das escolas de samba estiveram mais direcionados para a iniciativa privada -embora nem sempre com sucesso.
O ápice da estratégia comercial por trás da alegria dos foliões será a Rosas de Ouro, que pretende lançar a marca de um novo produto em pleno desfile.
O perfume Rosaessência teve sua fragrância exclusiva preparada pela Symrise para se tornar tema da apresentação da escola de samba -durante a qual serão distribuídos 35 mil sachês à platéia do Anhembi.
O enredo vai servir para divulgar a nova marca do produto, ligado à Rosas de Ouro e que deve ser vendido no mercado.
Em seu desfile sobre perfumes, além da própria fragrância que pretende comercializar, a Rosas também conseguiu atrair outras empresas do segmento, embora mantenha sob segredo as cifras de patrocínio.
A Parfums de France terá um carro alegórico para divulgar seus produtos. "Vamos botar os frascos na avenida. Entregamos nossos modelos e foram feitas réplicas", diz Laurent Morcrette, diretor da empresa.
A busca por um enredo potencialmente "patrocinável" para os desfiles deste ano levou duas escolas a baterem as cabeças. Águia de Ouro e Acadêmicos do Tucuruvi vão falar do mesmo assunto: sorvete.
A coincidência teve origem na sugestão feita há seis anos por Eduardo Weisberg, presidente da Abis (Associação Brasileiras das Indústrias de Sorvetes), que queria a divulgação do produto não só como guloseima, mas como alimento, para aumentar seu consumo.
As duas escolas chegaram a organizar uma festa para os empresários do ramo de sorvete, segundo Hussein Abdo El Selan, conhecido como Jamil, presidente da Acadêmicos do Tucuruvi. Cada uma desembolsou R$ 10 mil, segundo ele.
Mas a busca de dinheiro privado acabou fracassada. Nenhuma empresa investiu nas escolas, exceto com a prometida distribuição de 20 mil sorvetes nas apresentações. "O pior é que nós gastamos e não recebemos. Esperávamos conseguir uns R$ 700 mil", afirma Jamil.
"Não houve tempo hábil para captar os recursos pela Lei Rouanet. Mas faço questão de dar os parabéns às escolas", diz Weisberg, argentino que vive há três décadas no Brasil.
Mesmo escolas de samba paulistanas sem enredos abertamente comerciais chegam a realizar adaptações questionáveis para conseguir dinheiro da iniciativa privada no Carnaval.
No desfile da Tom Maior, por exemplo, haverá uma ala com fantasias de cotonetes, dentre outros utensílios de higiene.
Seu enredo é: "Glória Paulista - São Paulo na Vanguarda da Economia Brasileira". O que tem a ver com os cotonetes? A versão da escola é a de que invoca a expansão dessa indústria no Estado e a disseminação dos produtos à população.
Mas por trás da decisão está um patrocínio de R$ 25 mil que a Tom Maior diz ter recebido da Johnson & Johnson. O dinheiro não cobre nem 2% dos gastos de um desfile para disputar título do Carnaval, mas é valorizado diante da escassez.
A escola de samba procurou 300 empresas atrás de parcerias. Mesmo com a disposição de expor cotonetes para falar da economia de São Paulo, conseguiu só três -totalizando R$ 75 mil em patrocínios.
Os desfiles acontecem na sexta-feira e no sábado.


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