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URBANIDADE
Uma linda pedra no meio do caminho
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Começa nesta semana a
sair do papel um projeto
artístico que vai produzir o viaduto esteticamente mais original
do país. Será feita uma experiência com um pigmento de tinta,
ainda em teste, planejado para
colorir automóveis só no próximo ano.
A tinta será aplicada no Cebolinha, complexo viário que passa
por cima da avenida 23 de Maio,
no Ibirapuera (zona sul de São
Paulo). O resultado será a alteração da cor da fachada da construção sob o efeito da luz natural
ou dos faróis dos automóveis. O
viaduto vai transformar-se, assim, em uma espécie de painel
que muda de roupagem várias
vezes por dia.
"Quero mostrar que é possível
uma integração da arte com a
natureza na cidade", diz Amélia
Toledo, uma das mais importantes artistas plásticas brasileiras,
que, do seu tempo de menina,
lembra-se dos passeios a pé pela
avenida Paulista e do seu encantamento com os ipês floridos.
Enquanto seguia os passos do
pai e da mãe, viajava na trilha
desenhada pelas flores no chão.
O fascínio da menina pela natureza está na intervenção no Cebolinha.
Em 1930, quando tinha quatro
anos de idade, ela ganhou de
presente dos pais uma caixa com
uma coleção de pedras. Desde
então, apaixonou-se pela beleza
dos minerais, usados como ingredientes em suas obras. Com
75 anos, Amélia pretende perpetuar num espaço público a paixão mineral: além da experiência cromática, vai erguer esculturas de pedra nos vãos que ficam embaixo do viaduto, transformados em jardins. As esculturas estão planejadas para servir
de bancos e de mesas.
Esses jardins serão interligados
pela passarela de pedestres, a ser
construída pela Emurb (Empresa Municipal de Urbanização).
"Quero mostrar que a beleza pública é possível em nossa cidade". A perspectiva de uma nova
cidade é a idéia que orienta a
obra, intitulada "Caleidoscópio", que ergueu na estação Brás
do metrô. São placas curvadas
de aço inoxidável, de dois metros, que formam um labirinto e
produzem jogos de reflexos.
Disposta a enfrentar o labirinto social, Amélia sonha em criar
a Escola da Pedra para ensinar a
jovens da periferia a arte de talhar, polir e conhecer a natureza
da pedra. "Quase não há mais
mestres dedicados a esse ofício.
Penso nessa escola como um jeito de perpetuar uma técnica e
dar aos jovens uma profissão."
E-mail - gdimen@uol.com.br
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