São Paulo, quarta-feira, 27 de fevereiro de 2002

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URBANIDADE

Uma linda pedra no meio do caminho

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Começa nesta semana a sair do papel um projeto artístico que vai produzir o viaduto esteticamente mais original do país. Será feita uma experiência com um pigmento de tinta, ainda em teste, planejado para colorir automóveis só no próximo ano.
A tinta será aplicada no Cebolinha, complexo viário que passa por cima da avenida 23 de Maio, no Ibirapuera (zona sul de São Paulo). O resultado será a alteração da cor da fachada da construção sob o efeito da luz natural ou dos faróis dos automóveis. O viaduto vai transformar-se, assim, em uma espécie de painel que muda de roupagem várias vezes por dia.
"Quero mostrar que é possível uma integração da arte com a natureza na cidade", diz Amélia Toledo, uma das mais importantes artistas plásticas brasileiras, que, do seu tempo de menina, lembra-se dos passeios a pé pela avenida Paulista e do seu encantamento com os ipês floridos.
Enquanto seguia os passos do pai e da mãe, viajava na trilha desenhada pelas flores no chão. O fascínio da menina pela natureza está na intervenção no Cebolinha.
Em 1930, quando tinha quatro anos de idade, ela ganhou de presente dos pais uma caixa com uma coleção de pedras. Desde então, apaixonou-se pela beleza dos minerais, usados como ingredientes em suas obras. Com 75 anos, Amélia pretende perpetuar num espaço público a paixão mineral: além da experiência cromática, vai erguer esculturas de pedra nos vãos que ficam embaixo do viaduto, transformados em jardins. As esculturas estão planejadas para servir de bancos e de mesas.
Esses jardins serão interligados pela passarela de pedestres, a ser construída pela Emurb (Empresa Municipal de Urbanização). "Quero mostrar que a beleza pública é possível em nossa cidade". A perspectiva de uma nova cidade é a idéia que orienta a obra, intitulada "Caleidoscópio", que ergueu na estação Brás do metrô. São placas curvadas de aço inoxidável, de dois metros, que formam um labirinto e produzem jogos de reflexos.
Disposta a enfrentar o labirinto social, Amélia sonha em criar a Escola da Pedra para ensinar a jovens da periferia a arte de talhar, polir e conhecer a natureza da pedra. "Quase não há mais mestres dedicados a esse ofício. Penso nessa escola como um jeito de perpetuar uma técnica e dar aos jovens uma profissão."

E-mail - gdimen@uol.com.br



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