São Paulo, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

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MORTES EM SÉRIE

Intoxicação atingiu 37 porcos-espinhos, bichos que iriam a leilão; polícia vê atentado contra o parque

Zôo confirma envenenamento de 56 animais

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Exames toxicológicos confirmaram que 56 animais do Zoológico de São Paulo foram mortos por envenenamento desde 24 de janeiro deste ano.
Entre os mortos estão 37 porcos-espinhos africanos, integrantes de um lote de 50, bichos que deveriam ser levados a um leilão de espécies exóticas em março ou abril, junto com antílopes africanos e cisnes.
A morte de animais considerados estratégicos e prestes a serem leiloados é, para o zoológico, um indício de envolvimento de alguém que tem informações sobre a instituição e que pretende causar prejuízos a ela.
"Somos a única instituição na América Latina que reproduz esse porco-espinho. É uma espécie de interesse muito grande para o zôo", afirmou José Luiz Catão Dias, diretor técnico-científico.
Outro fator praticamente restringe as suspeitas a pessoas de dentro da fundação: dos 56 animais mortos, 43 estavam em área restrita à visitação do público.
Tanto a polícia quanto a fundação já descartam a hipótese de envenenamento acidental.
"Foi um atentado contra o parque", afirmou o delegado Clóvis Ferreira de Araújo, chefe da unidade de inteligência do Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital).
A polícia centra as investigações em cinco funcionários que tinham acesso aos animais e "noções" sobre produtos químicos.
Os animais morreram envenenados com um potente raticida, o mono fluoracetato de sódio, conhecido como "Mão Branca". Sua fabricação e venda estão proibidas no Brasil.
No caso dos porcos-espinhos, o zoológico informou que considerou intoxicados todos os 37 animais a partir da avaliação de parte deles. Dois morreram ontem, outros seis estavam debilitados e não devem resistir. Depois de envenenados pela substância, animais podem sobreviver por até 12 dias.
O diretor técnico-científico do zôo não apresentou uma estimativa de quanto poderiam valer os animais. Segundo ele, a instituição esperava ter uma idéia melhor do valor de mercado no próprio leilão. A venda estava programada desde 2002, mas foi suspensa por uma decisão judicial depois de ser questionada pela Promotoria de Justiça do Meio Ambiente.
O Ministério Público considerou que a comercialização poderia prejudicar os bichos e o meio ambiente.
No final do ano passado, a fundação fez um acordo com a Promotoria, e o leilão foi liberado.
Os exames toxicológicos foram feitos Centro de Toxicologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Botucatu. Faltam ainda os resultados da avaliação de cinco animais.
Cem mortes foram investigadas desde o dia 24. Até sábado passado, o zôo havia informado 35 mortes de bichos, mas em apenas oito havia confirmação de envenenamento por mono fluoracetato. Segundo o zoológico, parte das mortes não foi divulgada para não atrapalhar as investigações.


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