São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2005

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LONGE DO FOGO

No crudivorismo, que ganhou as telas no seriado "Sex and the City", preparação de pratos pode demorar um dia

SP ganha restaurante de comida crua

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em uma cidade na qual há até restaurantes que servem flores no cardápio, é de se estranhar que algum tipo de culinária ainda seja novidade. Mas a inventividade dos chefs não pára, e, na próxima terça-feira, será inaugurado em São Paulo o primeiro restaurante brasileiro de "raw food". Em português: crudivorismo.
Trata-se de um tipo de vegetarianismo no qual só são consumidos alimentos crus ou, no máximo, submetidos a uma temperatura de 42C, que, dizem os adeptos, equivale a um dia quente de verão (senegalês, pelo jeito).
"Rebatizaram a salada?", pode perguntar alguém mais cético. Nada disso. O curioso da raw food é que o cardápio inclui arroz, tortas, biscoitos e pães.
A cozinha, portanto, é uma atração à parte: tem desde trituradores específicos para fazer farinha de avelã e centrífugas até um desidratador, que "suga" a umidade dos alimentos com jatos de ar de 42C. Embora a sabedoria popular pregue que "apressado come cru", alguns pratos podem demorar mais de um dia para ficar prontos, pois são secos à luz do sol -técnica não muito indicada ao instável clima paulistano. Saem da receita laticínios e ovos e entram os grãos germinados, especialmente os de trigo.
O resultado final é uma comida com um sabor mais pronunciado do que se fosse cozida, afirma Flávio Hernandez, sócio do restaurante Deloonix, que funcionará na rua Bela Cintra, nos Jardins. O nome do estabelecimento alude ao nome científico do flamboyant -que não integra o cardápio.
"O alimento fica com um gosto mais intenso, mais vivo. Nosso enfoque é na gastronomia, não no discurso da saúde, porque ninguém vai a um restaurante para ter alimentação saudável, e sim para se divertir", diz Hernandez.
Como nem todo mundo engole fácil o discurso natureba, o restaurante também vai oferecer alguns pratos vegetarianos que vão ao fogo e outros com peixes e frutos do mar -que, aliás, são a especialidade do chef da casa, Júnior Belém. Para assumir o restaurante, ele passou por um curso com o chef Rafael Rosa. "É uma culinária simples, mas muito criativa", diz Belém.
A onda da raw food começou na Califórnia, há cerca de dez anos, quando a chef Cherie Soria começou a desenvolver pratos sofisticados a partir da teoria alimentar que havia sido desenvolvida pelo médico higienista Edmund Szekeley no início do século 20 e que, até então, era tão empolgante quanto pode ser uma bela porção de chuchu e cenoura.

Popularização
A adoção da dieta por celebridades como as atrizes Demi Moore e Alicia Silverstone tornaram a raw food mais conhecida. A popularização aumentou ainda mais quando um restaurante de raw food foi cenário de um episódio do seriado ""Sex and the City".
Em 2002, Nova York recebeu a sua primeira rede especializada nesse tipo de culinária, a Quintessence.
No Brasil, a raw food foi tema de palestras no Congresso Vegetariano Mundial, realizado em Florianópolis (SC), em novembro do ano passado. Desde que participou do evento, a ambientalista Nina Rosa Jacob, 61, só usa comidas cruas. "É bom para a saúde, e eu estou descobrindo novos sabores. Antes, não comeria um pimentão cru. Agora, gosto. Vou ao supermercado com outros olhos."


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