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LONGE DO FOGO
No crudivorismo, que ganhou as telas no seriado "Sex and the City", preparação de pratos pode demorar um dia
SP ganha restaurante de comida crua
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Em uma cidade na qual há até
restaurantes que servem flores no
cardápio, é de se estranhar que algum tipo de culinária ainda seja
novidade. Mas a inventividade
dos chefs não pára, e, na próxima
terça-feira, será inaugurado em
São Paulo o primeiro restaurante
brasileiro de "raw food". Em português: crudivorismo.
Trata-se de um tipo de vegetarianismo no qual só são consumidos alimentos crus ou, no máximo, submetidos a uma temperatura de 42C, que, dizem os adeptos, equivale a um dia quente de
verão (senegalês, pelo jeito).
"Rebatizaram a salada?", pode
perguntar alguém mais cético.
Nada disso. O curioso da raw food
é que o cardápio inclui arroz, tortas, biscoitos e pães.
A cozinha, portanto, é uma
atração à parte: tem desde trituradores específicos para fazer farinha de avelã e centrífugas até um
desidratador, que "suga" a umidade dos alimentos com jatos de
ar de 42C. Embora a sabedoria
popular pregue que "apressado
come cru", alguns pratos podem
demorar mais de um dia para ficar prontos, pois são secos à luz
do sol -técnica não muito indicada ao instável clima paulistano.
Saem da receita laticínios e ovos e
entram os grãos germinados, especialmente os de trigo.
O resultado final é uma comida
com um sabor mais pronunciado
do que se fosse cozida, afirma Flávio Hernandez, sócio do restaurante Deloonix, que funcionará
na rua Bela Cintra, nos Jardins. O
nome do estabelecimento alude
ao nome científico do flamboyant
-que não integra o cardápio.
"O alimento fica com um gosto
mais intenso, mais vivo. Nosso
enfoque é na gastronomia, não no
discurso da saúde, porque ninguém vai a um restaurante para
ter alimentação saudável, e sim
para se divertir", diz Hernandez.
Como nem todo mundo engole
fácil o discurso natureba, o restaurante também vai oferecer alguns pratos vegetarianos que vão
ao fogo e outros com peixes e frutos do mar -que, aliás, são a especialidade do chef da casa, Júnior Belém. Para assumir o restaurante, ele passou por um curso
com o chef Rafael Rosa. "É uma
culinária simples, mas muito criativa", diz Belém.
A onda da raw food começou na
Califórnia, há cerca de dez anos,
quando a chef Cherie Soria começou a desenvolver pratos sofisticados a partir da teoria alimentar
que havia sido desenvolvida pelo
médico higienista Edmund Szekeley no início do século 20 e que,
até então, era tão empolgante
quanto pode ser uma bela porção
de chuchu e cenoura.
Popularização
A adoção da dieta por celebridades como as atrizes Demi Moore e
Alicia Silverstone tornaram a raw
food mais conhecida. A popularização aumentou ainda mais
quando um restaurante de raw
food foi cenário de um episódio
do seriado ""Sex and the City".
Em 2002, Nova York recebeu a
sua primeira rede especializada
nesse tipo de culinária, a Quintessence.
No Brasil, a raw food foi tema de
palestras no Congresso Vegetariano Mundial, realizado em Florianópolis (SC), em novembro do
ano passado. Desde que participou do evento, a ambientalista
Nina Rosa Jacob, 61, só usa comidas cruas. "É bom para a saúde, e
eu estou descobrindo novos sabores. Antes, não comeria um pimentão cru. Agora, gosto. Vou ao
supermercado com outros
olhos."
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