São Paulo, terça-feira, 27 de março de 2001

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SEGURANÇA

PM paulista troca plástico, que causa ferimentos graves, por borracha em granadas usadas para dispersar protestos

Tropa de choque passa a usar bomba "macia"

SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Os explosivos Preto GL 307, Branco GL 304 e Vermelho GL 305, usados pela tropa de choque da Polícia Militar, serão modificados. Esses armamentos são utilizados para dispersar manifestantes nos mais variados tipos de conflitos, de greves a rebeliões.
Segundo o Centro de Suprimento e Manutenção de Armamentos e Munição da PM, o plástico rígido que envolve os explosivos será substituído por um novo material, chamado elastômero macio -um tipo de borracha.
A atual bomba, quando detonada, se transforma em milhares de pequenos pedaços altamente cortantes. Na nova versão, segundo o centro de suprimento, os estilhaços se tornam inofensíveis.
Os novos explosivos deverão ser entregues à Polícia Militar na próxima compra de munição, cuja data ainda não foi fixada porque depende do uso do atual estoque e da liberação de verba do governo estadual.

Experiências negativas
O pedido de substituição do material foi feito pela própria tropa de choque, há cerca de um ano. No uso diário do material, os policiais perceberam o seu perigo e decidiram chamar o fabricante, a Condor, para relatar as experiências negativas dos soldados com as granadas.
Antes disso, esses explosivos já tinham passado por uma modificação. Na primeira versão, a tampa da bomba, de alumínio, era lançada como um projétil, podendo até matar quem atingisse.
Para contornar o problema, foi criado um novo sistema, de duas explosões -uma fraca, que lança a tampa, e outra forte, que a destrói completamente.

Ferimentos
O mesmo armamento provocou ferimentos graves em Ingrid Ferreira Gama, 3, durante a operação policial para conter os detentos da Penitenciária do Estado, na megarrebelião que atingiu 29 presídios no dia 18 de fevereiro.
Ingrid estava no colo da mãe, a doceira Rosana Ferreira Gama, 28, na hora em que a bomba foi lançada para o alto, contra os amotinados e seus parentes. Porém, em vez de explodir ao cair no chão, a bomba quicou e explodiu na altura do rosto da menina.
Os estilhaços do armamento provocaram ferimentos na mão direita, na boca e no pescoço de Rosana. Também atingiram a face, o tórax e os braços da menina.
Ingrid passou por cirurgia plástica no rosto para retirar os estilhaços do explosivo e ficou na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Santa Casa de Misericórdia durante 17 dias.

"Conceito"
O capitão Carlos Botelho, 43, estrategista da tropa de choque, afirma que equipamentos não-letais como os explosivos têm essa classificação, na verdade, por causa da forma como são usados. "Qualquer um pode matar se for utilizado de outra maneira. O não-letal, na verdade, é um conceito", diz Botelho.
A operação da tropa de choque na penitenciária foi criticada pelos familiares, que acusaram a Polícia Militar de ter sido violenta.
No entanto o comandante da divisão, coronel Osvaldo de Barros Filho, 50, que capitaneou a operação do início ao fim, afirma que ela foi perfeita (leia texto nesta página).
Segundo o coronel, a tropa encontrou uma situação muito adversa na penitenciária, que estava sem luz, enfumaçada pela queima de colchões e com um grupo de cerca de 4.000 pessoas por pavilhão "oferecendo resistência".

Vídeo
A ação da tropa foi gravada em vídeo por uma equipe da PM. Aliás, a câmera se tornou um dos armamentos mais eficientes da corporação.
A Polícia Militar tem uma equipe de soldados para documentar em vídeo o trabalho da tropa.
"Gravamos não só para nos defendermos de uma possível acusação como para avaliarmos a operação", afirma o capitão Carlos Botelho.


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