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ACIDENTE EM ALTO-MAR
Governo se divide sobre decisão
Presidente da Petrobras depõe no Senado sob ameaça de demissão
OTÁVIO CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DANIELA MENDES
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente da Petrobras, Henri Philippe Reichstul, presta depoimento hoje na Comissão de
Infra-Estrutura do Senado sob
risco de demissão.
A cúpula do governo federal,
conforme a Folha apurou, está dividida em relação ao futuro de
Reichstul. Uma parte do governo,
liderada por Andrea Matarazzo
(Comunicação Social), quer a cabeça do presidente da Petrobras.
A argumentação oficial de Matarazzo é que Reichstul deve ser
demitido devido ao acidente que
gerou o afundamento da plataforma P-36 e a morte de 11 operários.
Mas, nos bastidores, Matarazzo
discorda do uso das verbas publicitárias pela Petrobras.
A empresa tem a maior verba de
publicidade, mas não usa esse dinheiro na promoção do governo,
na opinião do ministro. No Planalto, Matarazzo é apontado como interessado no cargo de
Reichstul se ele for demitido.
Em uma reunião no final da semana passada, ministros aconselharam o presidente Fernando
Henrique Cardoso a pelo menos
dar uma advertência pública ao
presidente da Petrobras.
Mas Pedro Parente (Casa Civil)
convenceu o presidente a dar um
crédito a Reichstul. Parente, que é
membro remunerado do conselho diretor da Petrobras, é seu
maior defensor no governo.
Desde o acidente, o ministro José Jorge (Minas e Energia) vem
sofrendo pressões dos dois grupos de ministros. A pressão aumentou quando foi divulgado um
relatório na sexta-feira -cujo
teor o Palácio do Planalto não
quis comentar- mostrando que
a Petrobras já sabia das falhas na
plataforma antes da explosão.
Depoimento
Reichstul foi convocado a depor
pelo senador Paulo Hartung
(PPS-ES). O presidente da comissão é José Alencar (PMDB-MG).
A oposição também critica o
presidente da Petrobras. O deputado federal Virgilio Guimarães
(PT-MG) enviou a FHC um ofício
pedindo a demissão do comando
da Petrobras. Para ele, os acidentes ambientais consecutivos demonstram que Reichstul não tem
condições de presidir a empresa.
O deputado Fernando Gabeira
(PV-RJ) discorda. "Tenho medo
que, se for demitido, o Reichstul
dê lugar a um político despreparado da base do governo, o que
agravaria a situação", afirma.
Os congressistas devem questionar Reichstul sobre o processo
de terceirização de mão-de-obra
que a Petrobras adotou desde a
quebra do monopólio e que é
apontado como um dos motivos
para sucessivos acidentes.
Eles devem perguntar também
sobre os boletins de produção que
registraram falhas no sistema de
ventilação da plataforma nos três
dias anteriores ao acidente.
Prestam ainda depoimento os
presidentes da Agência Nacional
do Petróleo, David Zylbersztajn, e
da associação dos engenheiros da
Petrobras, Fernando Siqueira, e o
diretor da Frente Única dos Petroleiros, Maurício Ruben.
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