São Paulo, terça-feira, 27 de março de 2001

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ACIDENTE EM ALTO-MAR

Governo se divide sobre decisão

Presidente da Petrobras depõe no Senado sob ameaça de demissão

OTÁVIO CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

DANIELA MENDES
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente da Petrobras, Henri Philippe Reichstul, presta depoimento hoje na Comissão de Infra-Estrutura do Senado sob risco de demissão.
A cúpula do governo federal, conforme a Folha apurou, está dividida em relação ao futuro de Reichstul. Uma parte do governo, liderada por Andrea Matarazzo (Comunicação Social), quer a cabeça do presidente da Petrobras.
A argumentação oficial de Matarazzo é que Reichstul deve ser demitido devido ao acidente que gerou o afundamento da plataforma P-36 e a morte de 11 operários. Mas, nos bastidores, Matarazzo discorda do uso das verbas publicitárias pela Petrobras.
A empresa tem a maior verba de publicidade, mas não usa esse dinheiro na promoção do governo, na opinião do ministro. No Planalto, Matarazzo é apontado como interessado no cargo de Reichstul se ele for demitido.
Em uma reunião no final da semana passada, ministros aconselharam o presidente Fernando Henrique Cardoso a pelo menos dar uma advertência pública ao presidente da Petrobras.
Mas Pedro Parente (Casa Civil) convenceu o presidente a dar um crédito a Reichstul. Parente, que é membro remunerado do conselho diretor da Petrobras, é seu maior defensor no governo.
Desde o acidente, o ministro José Jorge (Minas e Energia) vem sofrendo pressões dos dois grupos de ministros. A pressão aumentou quando foi divulgado um relatório na sexta-feira -cujo teor o Palácio do Planalto não quis comentar- mostrando que a Petrobras já sabia das falhas na plataforma antes da explosão.

Depoimento
Reichstul foi convocado a depor pelo senador Paulo Hartung (PPS-ES). O presidente da comissão é José Alencar (PMDB-MG).
A oposição também critica o presidente da Petrobras. O deputado federal Virgilio Guimarães (PT-MG) enviou a FHC um ofício pedindo a demissão do comando da Petrobras. Para ele, os acidentes ambientais consecutivos demonstram que Reichstul não tem condições de presidir a empresa.
O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) discorda. "Tenho medo que, se for demitido, o Reichstul dê lugar a um político despreparado da base do governo, o que agravaria a situação", afirma.
Os congressistas devem questionar Reichstul sobre o processo de terceirização de mão-de-obra que a Petrobras adotou desde a quebra do monopólio e que é apontado como um dos motivos para sucessivos acidentes.
Eles devem perguntar também sobre os boletins de produção que registraram falhas no sistema de ventilação da plataforma nos três dias anteriores ao acidente.
Prestam ainda depoimento os presidentes da Agência Nacional do Petróleo, David Zylbersztajn, e da associação dos engenheiros da Petrobras, Fernando Siqueira, e o diretor da Frente Única dos Petroleiros, Maurício Ruben.


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