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Governo corta R$ 12,6 milhões do orçamento de educação especial, que
cuida de alunos portadores de deficiências, como a visual e a auditiva
Escrita braile exige régua ou máquina
MARCIO RODRIGUES LOATTI
DA EQUIPE DE TRAINEES
A alfabetização depende
muito da visão. Mas
quem não enxerga pode
ler e escrever com muita
facilidade usando o tato
por meio do braile. O francês
Louis Braille inventou esse sistema em 1825 e deu sua versão definitiva e universal em 1837.
A combinação de seis pontos
em relevo constitui a cela braile.
Cada cela braile pode formar
qualquer uma das 63 combinações que representam o alfabeto,
as vogais acentuadas, os sinais de
pontuação, os numerais, os símbolos matemáticos.
Para ler em braile utiliza-se a
ponta do dedo indicador de uma
das mãos. Por meio de uma leve
pressão sobre os pontos é possível
a percepção dos sinais.
"É fundamental que eles tenham decorado as letras para que
saibam escrevê-las e reconhecê-las", diz Marifátima Nunes, professora do Instituto de Cegos Padre Chico, em São Paulo, que oferece ensino gratuito a 124 deficientes visuais e tem dez crianças
na 1ª série.
As crianças escrevem fazendo
uso da máquina ou da reglete e
punção -utilizados por alunos
que não têm deficiência motora.
A reglete é uma régua dupla de
metal que tem as celas braile. O
punção é como se fosse a caneta
com que se escreve em braile.
Da direita para a esquerda
O papel é colocado entre as duas
partes da régua e escreve-se da direita para a esquerda com o punção, preenchendo cada cela braile
com seu respectivo relevo.
Já para a leitura é preciso virar a
folha a fim de sentir o relevo que
foi feito, passando a ponta do dedo da esquerda para a direita.
Existe também a máquina de
datilografia em braile. Ela tem nove teclas, seis delas correspondentes aos seis pontos da cela braile.
O toque de uma ou mais teclas
produz a combinação de pontos
em relevo correspondente ao símbolo desejado. Depois é só pressionar a tecla central para proceder à escrita do próximo sinal. A
tecla da esquerda do teclado principal é para mudar de linha, a da
direita, para retroceder.
Quando as crianças se familiarizam com o alfabeto, a professora
passa ensinar as palavras. As
crianças são estimuladas, por
exemplo, a formar palavras com
"ar". "Elas falam armário, armadilha e escrevem; surgem as dificuldades, por exemplo, o "lha" elas
escrevem "lia", então apresento
outras famílias."
Sempre se procura apresentar o
concreto antes de grafar as palavras. Por isso, o instituto tem animais empalhados e todo ano leva
as crianças para a fazenda Estação
Natureza, em Santo Amaro (SP).
Marifátima aponta como a
principal dificuldade no processo
de alfabetização de deficientes visuais a marca da oralidade. "As
crianças falam "palitu", "bolu", e
querem escrever com "u", por isso
é importante pronunciar corretamente as palavras para eles."
Inclusão irresponsável
O orçamento da Seesp (Secretaria de Educação Especial) complementa as políticas do MEC de
educação comum, como o Renda
Mínima e o transporte escolar, ou
seja, serve para capacitar professores e adaptar livros.
Este ano, o orçamento previsto
teve uma redução de R$ 12,6 milhões, ou seja, de 38%, se comparado com o previsto para 2000,
conforme o coordenador-geral de
planejamento da Seesp, Reinaldo
Estelles.
"Na verdade não houve redução; houve um crescimento atípico ano passado devido a emendas
parlamentares, e não se repetiu a
dose para este ano", afirma Luciano Oliva Patrício, secretário-executivo do MEC.
O livro didático para portadores
de deficiência segue as normas do
Programa Nacional do Livro Didático, sendo que para os deficientes visuais é necessário realizar a transcrição para o braile.
O atendimento pode ser feito
em escolas com classes comuns
integradas a salas de recursos, em
classes especiais ou em escolas especiais. A Seesp quer a inclusão
do portador de deficiência na rede
regular de ensino com o apoio pedagógico da sala de recurso.
Mas tal orientação tem provocado muita controvérsia entre os
educadores. Segundo Nely Garcia, professora da Faculdade de
Educação da USP, faltam professores capacitados para alfabetizar
em braile em São Paulo. "É a inclusão irresponsável."
"O ensino público está muito
ruim pelo excesso de alunos",
afirma a professora Auta Aihara,
que dá aulas tanto no instituto como na sala de recursos da escola
pública Caetano de Campos.
Segundo o censo escolar, ocorreu um aumento de 27% no atendimento do aluno com necessidades especiais em classes comuns
de 1999 para 2000, ou seja, passou
de 59,2 mil para 75,3 mil. No total,
356.151 alunos especiais foram
atendidos no país em 2000.
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