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Sem pesquisa, especialistas colecionam hipóteses positivas e negativas para tentar explicar redução de adoções
Para técnicos, há várias causas para queda
DA REPORTAGEM LOCAL
As crianças agora vivem bem
em suas famílias de origem ou falta maior vigilância sobre os maus-tratos que sofrem? Elas migraram
informalmente para outros lares
ou se acumulam nos abrigos?
Saber onde estão e como vivem
as crianças brasileiras pode ser o
caminho para desvendar se a queda do número de adoções é um
bom ou um mau sinal. Por enquanto, sem estudos científicos,
as hipóteses são variadas.
"Talvez a rede pública de assistência esteja melhor. Talvez se
busque exaurir as possibilidades
de a família de origem ficar com a
criança", arrisca o juiz Breno Beutler Jr., 47, da 1ª Vara de Infância e
Juventude de Porto Alegre.
O reforço do colchão social surge também na fala de um magistrado paulista. "Talvez as famílias
estejam mais assistidas. Com
mais vagas em creche, saúde melhor etc., menos pessoas entregam suas crianças", afirma Rodrigo Lobato Junqueira Enout, 49, da
Vara de Infância e Juventude de
Pinheiros e presidente da Associação dos Magistrados da Infância e Juventude, citando que os
abrigos de sua região tinham 400
crianças há sete anos e hoje têm
240 -seis disponíveis à adoção.
O contraste entre abrigados e
adotáveis pode sugerir, como inferiu Beutler, mais trabalho com
as famílias de origem. Mas nem
todos acreditam nisso.
"Faltam programas de assistência. Aí o Judiciário demora para
destituir o pátrio poder, pois não
tem certeza do perfil das famílias.
Cria-se, então, um universo de
crianças potencialmente disponíveis. O problema é que elas crescem. E quando se tornam oficialmente disponíveis já passaram da
idade e perderam dezenas de pretendentes", afirma Gabriela
Schreiner, 38, do Cecif, ONG que
capacita entidades que apóiam a
convivência familiar.
Pelo raciocínio, a lentidão agravaria o já acentuado desencontro
entre crianças e adotantes. "A matemática é adversa. As pessoas
querem meninas, recém-nascidas
e brancas. Os abrigos têm meninos, negros e com mais de seis
anos", resume a juíza catarinense
Sônia Maria Mazzetto Moroso,
39, diretora de família e infância
da Associação dos Magistrados
Catarinenses e mãe de Rafaelo, 2,
adotado aos dois meses e meio.
Santa Catarina é uma evidência
do contraste das filas. De um lado
há 2.749 pretendentes. Do outro,
72 crianças disponíveis. Mas os
mundos pouco se encontram.
"Para cada criança até dois anos
há, em geral, 30 pretendentes.
Acima de dez anos, elas são mais
de 60 por casal", diz Schreiner.
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