São Paulo, sábado, 27 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sem pesquisa, especialistas colecionam hipóteses positivas e negativas para tentar explicar redução de adoções

Para técnicos, há várias causas para queda

DA REPORTAGEM LOCAL

As crianças agora vivem bem em suas famílias de origem ou falta maior vigilância sobre os maus-tratos que sofrem? Elas migraram informalmente para outros lares ou se acumulam nos abrigos?
Saber onde estão e como vivem as crianças brasileiras pode ser o caminho para desvendar se a queda do número de adoções é um bom ou um mau sinal. Por enquanto, sem estudos científicos, as hipóteses são variadas.
"Talvez a rede pública de assistência esteja melhor. Talvez se busque exaurir as possibilidades de a família de origem ficar com a criança", arrisca o juiz Breno Beutler Jr., 47, da 1ª Vara de Infância e Juventude de Porto Alegre.
O reforço do colchão social surge também na fala de um magistrado paulista. "Talvez as famílias estejam mais assistidas. Com mais vagas em creche, saúde melhor etc., menos pessoas entregam suas crianças", afirma Rodrigo Lobato Junqueira Enout, 49, da Vara de Infância e Juventude de Pinheiros e presidente da Associação dos Magistrados da Infância e Juventude, citando que os abrigos de sua região tinham 400 crianças há sete anos e hoje têm 240 -seis disponíveis à adoção.
O contraste entre abrigados e adotáveis pode sugerir, como inferiu Beutler, mais trabalho com as famílias de origem. Mas nem todos acreditam nisso.
"Faltam programas de assistência. Aí o Judiciário demora para destituir o pátrio poder, pois não tem certeza do perfil das famílias. Cria-se, então, um universo de crianças potencialmente disponíveis. O problema é que elas crescem. E quando se tornam oficialmente disponíveis já passaram da idade e perderam dezenas de pretendentes", afirma Gabriela Schreiner, 38, do Cecif, ONG que capacita entidades que apóiam a convivência familiar.
Pelo raciocínio, a lentidão agravaria o já acentuado desencontro entre crianças e adotantes. "A matemática é adversa. As pessoas querem meninas, recém-nascidas e brancas. Os abrigos têm meninos, negros e com mais de seis anos", resume a juíza catarinense Sônia Maria Mazzetto Moroso, 39, diretora de família e infância da Associação dos Magistrados Catarinenses e mãe de Rafaelo, 2, adotado aos dois meses e meio.
Santa Catarina é uma evidência do contraste das filas. De um lado há 2.749 pretendentes. Do outro, 72 crianças disponíveis. Mas os mundos pouco se encontram.
"Para cada criança até dois anos há, em geral, 30 pretendentes. Acima de dez anos, elas são mais de 60 por casal", diz Schreiner.


Texto Anterior: Infância: Número de adoções sofre redução de 19%
Próximo Texto: Em abrigos, maioria tem mais de 6 anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.