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Falta de reintegração às famílias e demora em destituição de pátrio poder fazem crianças crescerem em instituições
Em abrigos, maioria tem mais de 6 anos
DA REPORTAGEM LOCAL
Na fila, 89% dos candidatos
querem, preferencialmente,
crianças de até um ano e 91% pedem que sejam brancas. Na outra
ponta desse processo, 50% das
crianças dos abrigos têm mais de
seis anos. Esse é o cenário no Rio
Grande do Sul, o Estado do país
no qual os dados sobre adoção estão mais organizados.
"E o descompasso é igual do
Oiapoque ao Chuí", afirma o juiz
Breno Beutler Jr., 47. Parece estar
certo. No Rio, 86% das crianças
disponíveis têm mais de seis anos
e 46% são negras ou pardas.
Para tentar adequar a demanda,
o juiz Siro Darlan baixou nesta semana uma medida polêmica: suspendeu temporariamente o cadastramento de casais que tenham preferência por meninas
recém-nascidas.
A medida não encontra muito
apoio entre juízes e pesquisadores
da área. Para eles, é melhor incentivar trabalhos de informação e
apoio aos candidatos, o que pode
alterar essa preferência. Uma pesquisa feita pelo Cecif em 30 dos
mais de cem grupos de apoio à
adoção do país mostra que 71%
dos pretendentes chegam ao processo querendo bebês de até dois
anos. Depois do trabalho, 6%
adotam crianças mais velhas.
A taxa pode parecer pequena,
mas altera algumas histórias como a dos irmãos T. e N., há dez
anos em um abrigo no Morumbi
(zona oeste de SP). T., 14, o mais
velho, pouco lembra dos cinco
anos que viveu fora da instituição.
"Só lembro que morava na rua e
que a minha mãe desapareceu."
Abandonados há tanto tempo,
os dois, porém, só ficaram disponíveis para adoção em julho de
2001, quando o pai, presidiário,
abriu mão dos filhos. Pouco depois, morreu assassinado.
Novos horizontes
O drama não é muito diferente
do das irmãs L., 9, A., 11, e M., 12,
que vivem no mesmo local. Abrigadas desde o fim de 1995, elas só
tiveram o processo para adoção
concluído há dois anos. A mãe sumiu. O pai bem que tentou, mas
não conseguiu sustentá-las. Deixou-as no abrigo, só que a destituição do pátrio poder demorou.
Agora, como a chance é quase
nula de adoção, a Justiça liberou a
volta das visitas do pai. No domingo passado foi a primeira vez
que apareceu neste ano.
É para evitar casos como o dessas irmãs que tramita na Câmara
dos Deputados desde 2003 um
projeto de lei para alterar algumas
regras da adoção. De autoria do
deputado João Matos (PMDB-SC), o novo texto fixa, entre outras mudanças, prazos máximos
para trabalho com as famílias de
origem, para inclusão das crianças no cadastro de adotáveis etc.
É também para incentivar a
adoção tardia que o projeto prevê
licença-maternidade de quatro
meses para qualquer caso.
O texto ainda torna obrigatório
o cadastro nacional de adoções,
cuja implantação é apenas sugerida no ECA (Estatuto da Criança e
do Adolescente). A idéia é que ele
possa ser base de políticas públicas mais agressivas.
Com ou sem lei, o governo
-que defende a mudança- já
prepara a unificação dos dados.
No segundo, o Sipia (Sistema de
Informações para a Infância e
Adolescência) deve fornecer, via
internet, o perfil de crianças aptas
à adoção, de requerentes habilitados e de processos efetivados.
"Os dados permitirão trabalhos
estratégicos, que devem aumentar os casos de adoção", avalia
Maria das Graças Bibas, 53, coordenadora do projeto do governo
federal.
(SÍLVIA CORRÊA e PEDRO DIAS LEITE)
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