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VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
FHC irá sancionar projeto aprovado pelo Senado que aumenta proteção à vítima de maus-tratos
Justiça vai poder afastar agressor de casa
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As vítimas de agressão doméstica poderão em breve contar com
uma ajuda inédita para quebrar o
ciclo de violência em casa. Anteontem, o Senado aprovou um
projeto que permite o afastamento preventivo do agressor de casa
por decisão judicial.
A proposta vale para qualquer
agressor, homem ou mulher, e já
foi encaminhada para o presidente Fernando Henrique Cardoso,
que deve sancioná-la sem vetos.
Em termos práticos, a nova medida deve corrigir uma brecha da
lei 9.099, de 1995, que proíbe a prisão em flagrante desse tipo de
agressor, desde que ele se comprometa a aparecer em um juizado especial. Agora, o juiz de plantão poderá determinar o afastamento cautelar do agressor do
"lar, domicílio ou local de convivência com a vítima".
Segundo a autora do projeto
original, a deputada Nair Lobo
(PMDB-GO), bastarão provas
preliminares, como o exame pericial que comprova a agressão. Ela
havia proposto a prisão imediata
do agressor, mas o relator da proposta, deputado José Roberto Batochio (PDT-SP), modificou-a
porque a Constituição proíbe a
detenção que não seja em flagrante ou determinada por um juiz.
Mais proteção
De acordo com Vera Lúcia da
Silva, chefe da Delegacia Especial
de Atendimento à Mulher de Brasília, a nova legislação permite
mais proteção da vítima. "Hoje há
uma brecha grave. O agressor,
mesmo preso em flagrante -o
que é muito difícil-, pode assinar um termo de compromisso e
voltar para casa. A gente fica impotente diante da situação."
Quando entrar em vigor, após
ser sancionada pelo presidente
Fernando Henrique Cardoso, o
agressor afastado de casa que tentar bater na vítima outra vez pode
ser preso por descumprir ordem
judicial. A polícia poderá ser acionada mais facilmente se o agressor tentar se reaproximar.
Vera diz que muitas vítimas
prestam queixa sob ameaça. Em
um casos atendidos pela delegacia, o agressor, mesmo indiciado,
cumpriu a promessa de vingança
devido à denúncia e tentou matar
sua mulher. Ela ficou paraplégica.
"É muito importante permitir a
retirada do agressor de casa. Muitas vezes, as mulheres terminam
morrendo", disse Solange Bentes,
secretária nacional dos Direitos
da Mulher. De acordo com ela, o
governo não tem motivos para
apresentar vetos ao projeto.
Segundo números da secretaria,
em 1999, por exemplo, quando foram levantados dados em 254 delegacias no país, foram registradas 167.503 ocorrências de violência contra a mulher. O governo federal não tem dados atualizados
sobre o assunto.
O afastamento cautelar, quando
entrar em vigor, poderá demorar
para funcionar adequadamente
porque os juízes podem determinar medidas alternativas e as delegacias podem falhar na hora de
prevenir as reaproximações.
De acordo com a secretaria dos
Direitos da Mulher, alguns juízes
ainda não estão devidamente sensibilizados para o problema, que
envolve um relacionamento emocional entre agressor e vítima. "Já
teve juiz que mandou o agressor
comprar um buquê de flores para
a mulher", relatou Solange.
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