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São Paulo, domingo, 27 de abril de 2003

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SAÚDE

Estudos avaliaram benefícios da reposição hormonal para menopausa em mulheres saudáveis e sem sintomas

Hormônio não melhora humor feminino

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Vêm aí dois novos estudos para serem colocados na balança na hora de a paciente decidir fazer a terapia hormonal.
Os trabalhos, prontos para publicação em revistas científicas, têm o foco nos possíveis benefícios psicossociais: indicam que a reposição hormonal não previne quadros depressivos e problemas de cognição ou tem efeitos significativos em mulheres saudáveis e com poucos ou nenhum sintoma da menopausa.
Resumindo: nesses casos, gastar com os remédios é bobagem.
"Nossa pesquisa mostrou que, para essas mulheres saudáveis e com pouco ou nenhum sintoma da menopausa, o hormônio, na prática, tem o mesmo resultado de uma pílula de farinha, que usamos para comparar com o remédio", diz o psiquiatra Joel Rennó Júnior, coordenador do Projeto de Atenção à Saúde Mental da Mulher do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP. Ele é o autor de uma tese de doutorado sobre reposição com estrogênio em 59 mulheres que será publicado na revista norte-americana "Menopause".
Pesquisadores do WHI (Women's Health Initiative), megaestudo com mais de 16 mil mulheres patrocinado pelo governo dos EUA, foram além, mas na mesma trilha, em trabalho que será publicado no próximo mês no "New England Journal of Medicine".
Ao estudarem a combinação do mesmo tipo e dosagem de estrogênio (estrogênio conjugado equino, 0,625 mg/dia) com um tipo de progestogênio (acetato de medroxiprogesterona, 2,5 mg/ dia) sobre as condições psicossociais da mulher, chegaram a uma conclusão polêmica sobre ganhos na qualidade de vida. "Não houve efeito significativo da combinação na saúde geral, limitações físicas e emocionais, vitalidade, habilidades sociais, saúde mental, sintomas depressivos ou satisfação sexual", dizem no trabalho.
"Mulheres que vêm usando o estrógeno há muito tempo só para efeito preventivo em relação à saúde mental devem discutir com seus médicos. Aquelas mais jovens que pensam em iniciar o tratamento também devem ter cautela", diz o diretor de pesquisa clínica do Centro de Saúde Mental da Mulher da Harvard Medical School (EUA), Cláudio N. Soares.

Hormônios e humor
O estrogênio já demonstrou, em pesquisas in vitro (com células) e com animais, ter uma ação antidepressiva e sobre a cognição. Ele age sobre neurotransmissores (substâncias que fazem a comunicação das células cerebrais) como a serotonina e a acetilcolina, que participam desses processos. O hormônio também tem o poder de alterar o núcleo de células cerebrais, modificando a secreção de enzimas que facilitam a síntese desses neurotransmissores. Daí o interesse em verificar seus efeitos em estudos com pessoas.
As mulheres do estudo de Rennó Júnior eram atendidas em três centros médicos de São Paulo. A escolha das que iriam tomar placebo (a pílula de farinha, inócua) e das que tomariam hormônio foi aleatória e nem médicos ou pacientes sabiam o que cada grupo estava tomando. A menopausa tinha ocorrido há pelo menos dois anos e no máximo há dez anos, não tinham o útero, em razão de doenças não-malignas, e relatavam poucos ou nenhum episódio de fogacho, as ondas de calor.
A medicina não tem provas de que a menopausa cause problemas psiquiátricos. Nenhuma das pacientes tinha uma doença mental, como depressão, mas queixas depressivas, como tristeza, desânimo, e de memória ruim, por exemplo. Foram acompanhadas por cerca de seis meses, com a aplicação de uma série de testes para avaliar suas condições.
A escolha de mulheres sem doenças e poucos ou nenhum sintoma ocorreu para evitar inferências nos resultados, afirmou Rennó Júnior. Isso porque o fogacho leva a uma série de alterações psicossociais, como desânimo e irritabilidade.
"Antes achávamos que dando hormônio protegeríamos mulheres saudáveis de problemas no coração. Agora, entende-se que não. Parece que o mesmo processo se repete agora em relação ao cérebro", diz o professor-adjunto de ginecologia do Hospital das Clínicas, Hans Halbe.


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