São Paulo, terça-feira, 27 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EMASCULADOS

Suspeito está preso desde dezembro, acusado de morte no Maranhão; ele morou em Altamira (PA) de 92 a 96

Mecânico diz ter matado 12 meninos no Pará

SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA

O mecânico de bicicletas Francisco das Chagas Rodrigues Brito, 34, disse em depoimento à Polícia Civil do Maranhão ter sido o autor da morte de 12 meninos, parte deles emasculados (castrados), em Altamira (PA). A informação foi divulgada ontem pelo gerente de Segurança do Maranhão, Raimundo Cutrim.
Os crimes em Altamira ocorreram entre 89 e 93. Nove meninos entre oito e 14 anos tiveram os órgãos sexuais retirados, sendo seis mortos; outras seis crianças estão desaparecidas. Cinco desses casos foram a julgamento no ano passado e quatro pessoas, condenadas.
"Ele confessou 12 casos com detalhes que nem a polícia sabia", disse Cutrim. O mecânico morou em Altamira de 92 a 96.
O gerente disse ter enviado ofício ao governo do Pará e à Superintendência da Polícia Federal relatando o depoimento de Brito.
O advogado Jânio Siqueira, que defende três dos quatro condenados dos casos de Altamira, disse que o depoimento do mecânico "revoluciona o panorama das provas" e que irá incluir as novas informações no recurso que pede a anulação do julgamento.
Os condenados supostamente participavam da seita LUS (Lineamento Universal Superior), que seria liderada por Valentina Andrade. Ela também foi julgada -e absolvida. A Promotoria tenta invalidar o julgamento.
O mecânico está preso desde dezembro de 2003, acusado da morte de Jonahtan Vieira dos Santos, 15. Desde o final de março, Brito disse ter matado 28 meninos em São Luís (MA), segundo Cutrim. No dia 26, a polícia encontrou três ossadas enterradas dentro da casa de Brito.
A reportagem tentou falar com o defensor público indicado para defender o mecânico, mas não conseguiu localizá-lo.
Segundo o delegado João Carlos Diniz, responsável pela condução do inquérito no Maranhão, o mecânico deu diversos detalhes sobre as mortes de Altamira.
"Ele conta a história toda. Diz: "O menino estava desse jeito, vestia a roupa tal, estava fazendo isso. Peguei ele e levei para tal lugar". A gente vai conferir no processo e está lá", disse Diniz.
Segundo o delegado, o inquérito sobre as mortes no Maranhão não foi concluído, pois ainda existem perguntas a serem respondidas pelo mecânico.
"Ele ainda não explicou por que emascula. Diz não lembrar do momento da emasculação. Ele lembra só até o momento em que agride a criança. Ele não assume a premeditação, que a gente tem observado em todos os crimes."
O promotor de Justiça Márcio Tadeu disse que é preciso ter cautela em relação às declarações de Brito. "A procuradoria-geral tem uma posição de muita cautela. Essas confissões não desconstituem decisões judiciais nem processos. Para nós, são motivos suficientes para continuarmos a investigar."

OEA
Por recomendação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos), o secretario especial dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, vai iniciar um acordo com o governador José Reinaldo Tavares (PFL-MA) para reparação de danos às famílias dos "garotos emasculados do Maranhão".
A reunião será na próxima quinta-feira, em São Luís, um dia antes do prazo final dado pela comissão para iniciar solução amistosa. Em 2002, a OEA recomendou ao governo brasileiro que fossem pagas indenizações, dado apoio psicológico às famílias e que a investigação dos crimes fosse feita pela Polícia Federal.


Colaborou KÁTIA BRASIL, da Agência Folha, em Manaus

Texto Anterior: Outro lado: Coordenador e ministério apóiam comissão
Próximo Texto: Panorâmica - Recorde: Febem de Ribeirão Preto tem sexta fuga
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.