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Programa contra
seca poderá excluir
50% dos atingidos
VANDECK SANTIAGO
da Agência Folha, em Recife (PE)
ADELSON BARBOSA
em Areia de Baraúnas (PB)
O programa de combate à seca a
ser implantado pelo governo federal deverá excluir dos benefícios
diretos mais de 4,7 milhões de pessoas -metade da população atingida pela estiagem.
Isso acontecerá porque, de acordo com estudo feito pela Sudene,
essas pessoas já têm alguma cobertura do INSS ou possuem alguma
outra fonte de renda. Medida semelhante foi adotada em secas anteriores.
A situação é observada, por
exemplo, na região rural e na periferia das pequenas cidades da Paraíba, onde a maior parte do dinheiro que circula é proveniente
das aposentadorias pagas aos idosos pelo INSS (Instituto Nacional
de Seguridade Social).
Famílias inteiras, com até 15 pessoas, dependem desse dinheiro
para sobreviver. Com os R$ 120
que ganham por mês, os aposentados compram feijão e farinha para
os filhos e netos.
No sítio Caiçara, em Areia de Baraúnas (280 km de João Pessoa), a
aposentada Laura Alves de Sousa,
80, que tem problemas na coluna,
afirma que não pode nem morrer.
"Se eu morrer, meus sete netos
vão morrer de fome", diz Laura,
que mora com a filha Margarida
Sousa Nascimento, 40, e os netos.
Sentada em uma rede, rodeada pelos parentes, ela afirma que não
tem mais esperança de melhorar
de vida antes de morrer.
"Não estou mais nem rezando.
Perdi a crença de tudo", declara
Laura sobre as condições de vida
percebidas a partir de sua pequena
casa, suja e cheia de moscas, em
cima de uma serra na zona rural.
Para a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), a tensão social existente na
região ainda não chegou ao nível
registrado na última seca, em 1993
-quando os benefícios diretos
atenderam a 70% da população
atingida.
Mas a exclusão já provoca reações de prefeitos e sindicalistas rurais do Nordeste, região em que
quase 70% dos municípios estão
na área da seca.
"O governo está brincando
com fogo", disse a prefeita Maria
Giselda Simões Inácio (PPS), de
Afogados da Ingazeira (PE), onde
o Exército foi convocado recentemente para proteger de saques um
armazém de alimentos.
Cestas básicas
O programa do governo federal
deve iniciar sua primeira etapa
-distribuição de cestas básicas -
na primeira quinzena de maio.
Está prevista a doação de 965 mil
cestas, mas não todas de uma só
vez. No primeiro mês, serão distribuídas 20% delas (193 mil). No segundo mês, outras 20%. No terceiro mês, as 60% restantes. Ainda
não há plano para o que acontecerá a partir do quarto mês.
De acordo com a Sudene, em alguns Estados o "período chuvoso" ainda não acabou. Existe a
possibilidade de que possa chover
até julho ou agosto, o que poderia
causar "reversibilidade do quadro crítico" hoje existente.
Mas para a Fetape (Federação
dos Trabalhadores na Agricultura
de Pernambuco), que congrega os
sindicatos rurais do Estado e rivaliza em importância com o MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra), a ocorrência
de chuvas não trará mudanças significativas na situação das famílias
atingidas pela seca.
Isso porque o que havia para
plantar, os pequenos agricultores
já plantaram, e perderam tudo.
Entre as pessoas que serão atendidas pelo programa do governo
federal, segundo previsão da Sudene, 50% devem ser alistadas em
"frentes produtivas" -trabalho em determinadas obras, mediante o pagamento de um salário
mínimo mensal.
A bolsa-escola -uma novidade
em ações contra a seca-, deverá
atender, com meio salário mínimo
por trabalhador, 30% dos que serão beneficiados pelo programa.
Os demais 20% serão incluídos
em uma linha específica de crédito
rural e nas ações permanentes
(obras de infra-estrutura já incluídas no Orçamento da União).
Estão previstas também a perfuração de 4.400 poços, recuperação
de 2.600, e distribuição de água,
com carros-pipa.
A coordenação central do programa deve ficar com a Sudene. A
distribuição da água será comandada pelos Estados e municípios.
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