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TRANSPORTE
Magistrado diz que obteve empréstimo em 97, até hoje não pago; polícia investiga caso
Juiz recebeu R$ 30 mil de sindicalista
CHICO DE GOIS
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O sindicato presidido por José
Carlos de Sena, que reúne trabalhadores de transporte de cargas
da capital paulista, depositou, em
agosto de 1997, R$ 30 mil na conta
do comerciante Rodolfo Vinícius
do Amaral Gomes, filho do juiz
Argemiro Gomes, que atuava no
TRT (Tribunal Regional do Trabalho) de São Paulo e se aposentou no começo de 2002.
Sena é acusado pela polícia paulista e pelo Ministério Público Estadual de planejar a morte do ex-presidente do sindicato dos condutores de Guarulhos Maurício
Alves Cordeiro, junto com Edivaldo Santiago Silva, líder dos motoristas e cobradores de São Paulo.
O sindicalista, que era 5º vice-presidente da Força Sindical, teve
sua prisão temporária decretada e
está foragido desde sexta-feira.
O juiz Argemiro Gomes era responsável por julgamento de dissídios e problemas trabalhistas que
envolvem patrões e sindicatos no
TRT. Ele disse à Folha que os R$
30 mil depositados na conta de
seu filho foram um "empréstimo"
feito por Sena a ele, que não foi
pago até hoje.
Gomes afirmou que era amigo
do sindicalista, mas que não sabia
da origem do dinheiro. Disse não
saber com que interesse Sena teria
feito o empréstimo, sem cobrar a
devolução nem juros.
O depósito foi feito por meio do
cheque número 00058, da Caixa
Econômica Federal, agência 253,
conta corrente 11.297-7. Rodolfo
Gomes recebeu os R$ 30 mil em
sua conta corrente do banco Real,
agência Consolação, a mesma em
que o juiz era cliente desde 1992.
Em troca do "empréstimo", Argemiro Gomes deixou um cheque
com Sena no valor de R$ 30 mil,
que serviria de garantia para a devolução do dinheiro, mas que
acabou não sendo debitado.
O caso foi denunciado por Ebenezer Carvalho de Oliveira, ex-diretor do sindicato presidido por
Sena. Oliveira, que diz sofrer
ameaças, registrou no dia 20 de janeiro deste ano um boletim de
ocorrência no qual acusa Sena de
corrupção. Ele apresentou documentos sobre a transação e prestou depoimento na última semana à Polícia Federal.
Segundo Oliveira, "pessoas de
moto, sem placa" têm ido à sua
rua. "Vou pedir proteção porque
posso ser o defunto de amanhã",
afirmou. As denúncias dele estão
sendo investigadas em um inquérito da Polícia Civil de São Paulo,
que já pediu a quebra dos sigilos
bancário e fiscal de Sena.
Em depoimento formal à Polícia Civil, no dia 15 de março deste
ano, Sena afirmou que fez esse
empréstimo ao juiz porque "ele se
encontrava em situação difícil". O
sindicalista disse ainda que os R$
30 mil já retornaram ao sindicato
-o juiz afirma que não devolveu
o dinheiro.
Gomes alega que conhece Sena
desde os anos 60, quando atuava
como advogado. Afirmou que esse depósito foi feito na conta de
seu filho "por motivações fiscais"
-não detalhou quais seriam. À
Folha, deu outra versão.
A assessoria de imprensa do
TRT informou que não é possível
saber se Gomes julgou alguma
ação envolvendo a entidade presidida por Sena. O juiz, porém, já
chegou a atuar, em 2001, em audiências que envolviam os motoristas e cobradores de São Paulo.
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