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São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 2003

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TRANSPORTE

Magistrado diz que obteve empréstimo em 97, até hoje não pago; polícia investiga caso

Juiz recebeu R$ 30 mil de sindicalista

CHICO DE GOIS
ALENCAR IZIDORO

DA REPORTAGEM LOCAL

O sindicato presidido por José Carlos de Sena, que reúne trabalhadores de transporte de cargas da capital paulista, depositou, em agosto de 1997, R$ 30 mil na conta do comerciante Rodolfo Vinícius do Amaral Gomes, filho do juiz Argemiro Gomes, que atuava no TRT (Tribunal Regional do Trabalho) de São Paulo e se aposentou no começo de 2002.
Sena é acusado pela polícia paulista e pelo Ministério Público Estadual de planejar a morte do ex-presidente do sindicato dos condutores de Guarulhos Maurício Alves Cordeiro, junto com Edivaldo Santiago Silva, líder dos motoristas e cobradores de São Paulo.
O sindicalista, que era 5º vice-presidente da Força Sindical, teve sua prisão temporária decretada e está foragido desde sexta-feira.
O juiz Argemiro Gomes era responsável por julgamento de dissídios e problemas trabalhistas que envolvem patrões e sindicatos no TRT. Ele disse à Folha que os R$ 30 mil depositados na conta de seu filho foram um "empréstimo" feito por Sena a ele, que não foi pago até hoje.
Gomes afirmou que era amigo do sindicalista, mas que não sabia da origem do dinheiro. Disse não saber com que interesse Sena teria feito o empréstimo, sem cobrar a devolução nem juros.
O depósito foi feito por meio do cheque número 00058, da Caixa Econômica Federal, agência 253, conta corrente 11.297-7. Rodolfo Gomes recebeu os R$ 30 mil em sua conta corrente do banco Real, agência Consolação, a mesma em que o juiz era cliente desde 1992.
Em troca do "empréstimo", Argemiro Gomes deixou um cheque com Sena no valor de R$ 30 mil, que serviria de garantia para a devolução do dinheiro, mas que acabou não sendo debitado.
O caso foi denunciado por Ebenezer Carvalho de Oliveira, ex-diretor do sindicato presidido por Sena. Oliveira, que diz sofrer ameaças, registrou no dia 20 de janeiro deste ano um boletim de ocorrência no qual acusa Sena de corrupção. Ele apresentou documentos sobre a transação e prestou depoimento na última semana à Polícia Federal.
Segundo Oliveira, "pessoas de moto, sem placa" têm ido à sua rua. "Vou pedir proteção porque posso ser o defunto de amanhã", afirmou. As denúncias dele estão sendo investigadas em um inquérito da Polícia Civil de São Paulo, que já pediu a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Sena.
Em depoimento formal à Polícia Civil, no dia 15 de março deste ano, Sena afirmou que fez esse empréstimo ao juiz porque "ele se encontrava em situação difícil". O sindicalista disse ainda que os R$ 30 mil já retornaram ao sindicato -o juiz afirma que não devolveu o dinheiro.
Gomes alega que conhece Sena desde os anos 60, quando atuava como advogado. Afirmou que esse depósito foi feito na conta de seu filho "por motivações fiscais" -não detalhou quais seriam. À Folha, deu outra versão.
A assessoria de imprensa do TRT informou que não é possível saber se Gomes julgou alguma ação envolvendo a entidade presidida por Sena. O juiz, porém, já chegou a atuar, em 2001, em audiências que envolviam os motoristas e cobradores de São Paulo.


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