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São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 2003

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"Não sei de onde saiu o dinheiro"

DA REPORTAGEM LOCAL

O juiz aposentado Argemiro Gomes disse ontem, em entrevista à Folha por telefone, que não vê problema no fato de José Carlos de Sena ter depositado R$ 30 mil na conta de seu filho. Ele disse que não sabia a origem do dinheiro. "Jamais passou pela minha cabeça que ele poderia pegar esse dinheiro do sindicato", afirmou.
Gomes disse que já havia até se esquecido do "empréstimo", mas que tem "um patrimônio muito grande" e que irá devolver os R$ 30 mil quando for cobrado.
Questionado se já julgou no TRT causas ligadas ao sindicato dos trabalhadores de transporte de cargas de São Paulo, disse inicialmente que não. Questionado novamente, afirmou: "Que eu me lembre, assim de momento, não". Leia abaixo trechos da entrevista:

Folha - A gente teve informação de um empréstimo de R$ 30 mil ...
Argemiro Gomes -
É, eu pedi para ele [Sena], como meu amigo. Ele me emprestou e eu dei um cheque para ele para a garantia da dívida.

Folha - O sr. pediu empréstimo ao sindicato ou...
Gomes -
Não, pedi para ele, como meu amigo, há 30 anos. Eu o conhecia, já advoguei para ele quando era advogado ainda.

Folha - A denúncia é de que o dinheiro saiu da conta do sindicato.
Gomes -
De onde saiu eu não sei.

Folha - O sr. chegou a devolver o dinheiro?
Gomes -
Mais cedo ou mais tarde vou ter que devolver a quem de direito. Não estou me preocupando com isso. Quando falarem "me paga", eu vou lá e pago.

Folha - O fato de o dinheiro ter saído da conta do sindicato...
Gomes -
Eu não sei de onde saiu. Por lá, parece que saiu da conta do sindicato. Eu não sei.

Folha - Por que o dinheiro foi depositado na conta do filho do sr.?
Gomes -
Eu estava montando uma choperia para ele naquela época. Botei na conta dele e ele pagou as contas da choperia.

Folha - O sr., como juiz, chegou a julgar alguma causa relacionada ao sindicato?
Gomes -
Não, nunca. Não tenho nada a esconder. Tanto que dei um cheque como garantia.

Folha - Mas ainda não foi compensado.
Gomes -
O que aconteceu com o cheque eu não [sei]. O dia que cobrarem eu vou lá e pago. Tenho disponibilidade suficiente.

Folha - O sr. teria condições de pagar hoje?
Gomes -
A hora que quiser. Eu tenho um patrimônio muito grande, advoguei muito tempo.

Folha - Está correndo algum juro sobre esse empréstimo?
Gomes -
Não sei. Mas, se quiserem cobrar juros, eu pago juros. Foi um favor que me fizeram.

Folha - O sr., que é amigo do Sena, ficou surpreso com a decretação da prisão dele?
Gomes -
Não sei. Eu me afastei do Sena.

Folha - Hoje o sr. tem muito contato com ele?
Gomes -
É muito difícil.

Folha - Se o sr. soubesse que o dinheiro era do sindicato, teria recebido o empréstimo?
Gomes -
Não sei. Poderia até pensar se eu devia ou não devia. Acho que não deveria.

Folha - O sr. diz que nunca julgou no TRT nada relacionado a ele.
Gomes -
Que eu me lembre, assim de momento, não.

Folha - O sr. diz que, quando for cobrado, o sr....
Gomes -
Se um dia me cobrarem, eu vou pagar, ainda que a dívida esteja prescrita.

Folha - Com qual interesse o Sena faria esse empréstimo ao sr.?
Gomes -
Não sei nem responder. Posso falar a verdade? Eu me esqueci que estava devendo esse negócio.

Folha - Mas com qual interesse ele poderia ter feito o empréstimo?
Gomes -
Ele emprestou porque eu pedi. Ele era meu amigo. E dei um cheque como garantia para ele descontar. Ele não descontou, foi passando, perdi o contato.


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