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"Não sei de onde saiu o dinheiro"
DA REPORTAGEM LOCAL
O juiz aposentado Argemiro
Gomes disse ontem, em entrevista à Folha por telefone, que não vê
problema no fato de José Carlos
de Sena ter depositado R$ 30 mil
na conta de seu filho. Ele disse que
não sabia a origem do dinheiro.
"Jamais passou pela minha cabeça que ele poderia pegar esse dinheiro do sindicato", afirmou.
Gomes disse que já havia até se
esquecido do "empréstimo", mas
que tem "um patrimônio muito
grande" e que irá devolver os R$
30 mil quando for cobrado.
Questionado se já julgou no
TRT causas ligadas ao sindicato
dos trabalhadores de transporte
de cargas de São Paulo, disse inicialmente que não. Questionado
novamente, afirmou: "Que eu me
lembre, assim de momento, não".
Leia abaixo trechos da entrevista:
Folha - A gente teve informação
de um empréstimo de R$ 30 mil ...
Argemiro Gomes - É, eu pedi para
ele [Sena], como meu amigo. Ele
me emprestou e eu dei um cheque
para ele para a garantia da dívida.
Folha - O sr. pediu empréstimo ao
sindicato ou...
Gomes - Não, pedi para ele, como meu amigo, há 30 anos. Eu o
conhecia, já advoguei para ele
quando era advogado ainda.
Folha - A denúncia é de que o dinheiro saiu da conta do sindicato.
Gomes - De onde saiu eu não sei.
Folha - O sr. chegou a devolver o
dinheiro?
Gomes - Mais cedo ou mais tarde
vou ter que devolver a quem de
direito. Não estou me preocupando com isso. Quando falarem "me
paga", eu vou lá e pago.
Folha - O fato de o dinheiro ter
saído da conta do sindicato...
Gomes - Eu não sei de onde saiu.
Por lá, parece que saiu da conta do
sindicato. Eu não sei.
Folha - Por que o dinheiro foi depositado na conta do filho do sr.?
Gomes - Eu estava montando
uma choperia para ele naquela
época. Botei na conta dele e ele
pagou as contas da choperia.
Folha - O sr., como juiz, chegou a
julgar alguma causa relacionada
ao sindicato?
Gomes - Não, nunca. Não tenho
nada a esconder. Tanto que dei
um cheque como garantia.
Folha - Mas ainda não foi compensado.
Gomes - O que aconteceu com o
cheque eu não [sei]. O dia que cobrarem eu vou lá e pago. Tenho
disponibilidade suficiente.
Folha - O sr. teria condições de
pagar hoje?
Gomes - A hora que quiser. Eu
tenho um patrimônio muito
grande, advoguei muito tempo.
Folha - Está correndo algum juro
sobre esse empréstimo?
Gomes - Não sei. Mas, se quiserem cobrar juros, eu pago juros.
Foi um favor que me fizeram.
Folha - O sr., que é amigo do Sena, ficou surpreso com a decretação da prisão dele?
Gomes - Não sei. Eu me afastei
do Sena.
Folha - Hoje o sr. tem muito contato com ele?
Gomes - É muito difícil.
Folha - Se o sr. soubesse que o dinheiro era do sindicato, teria recebido o empréstimo?
Gomes - Não sei. Poderia até
pensar se eu devia ou não devia.
Acho que não deveria.
Folha - O sr. diz que nunca julgou
no TRT nada relacionado a ele.
Gomes - Que eu me lembre, assim de momento, não.
Folha - O sr. diz que, quando for
cobrado, o sr....
Gomes - Se um dia me cobrarem,
eu vou pagar, ainda que a dívida
esteja prescrita.
Folha - Com qual interesse o Sena
faria esse empréstimo ao sr.?
Gomes - Não sei nem responder.
Posso falar a verdade? Eu me esqueci que estava devendo esse negócio.
Folha - Mas com qual interesse
ele poderia ter feito o empréstimo?
Gomes - Ele emprestou porque
eu pedi. Ele era meu amigo. E dei
um cheque como garantia para
ele descontar. Ele não descontou,
foi passando, perdi o contato.
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