São Paulo, sexta-feira, 27 de maio de 2011

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Kit escolar é "propaganda de opção sexual", diz Dilma

Presidente não comenta pressão de congressistas religiosos contra o material

Dilma disse que viu pedaço de vídeo na TV, sem especificar qual; para ativista gay, é um "grande mal entendido"


ANA FLOR
DE BRASÍLIA

Um dia após barrar a produção e a distribuição do kit anti-homofobia do Ministério da Educação, a presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que o governo não deve interferir na vida privada das pessoas e que não aceita que o governo faça "propaganda de opção sexual".
Disse ainda não concordar com o material por não acreditar que ele "faça a defesa de práticas não homofóbicas".
Dilma disse que não assistiu aos vídeos do MEC, mas viu "um pedaço na televisão". Segundo assessores, ela assistiu a um vídeo que está na internet -sem especificar qual- e tem sido usado em reportagens de TVs.
O kit em estudo era composto por três vídeos e um guia destinados a professores interessados em abordar o tema com alunos de ensino médio (a partir dos 14 anos).
Os vídeos abordavam transexualidade, bissexualidade e a relação entre duas meninas homossexuais.
A suspensão do material ocorreu após bancadas religiosas ameaçarem apoiar o pedido para convocar o ministro Antonio Palocci (Casa Civil) para explicar sua evolução patrimonial. Questionada sobre a pressão dos religiosos contra o kit, Dilma não falou sobre o assunto.
Cerca de 60 congressistas se reuniram na quarta com o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) e pediram a demissão do titular da Educação, Fernando Haddad.
"O governo defende a educação e também a luta contra práticas homofóbicas. No entanto, não vai ser permitido a nenhum órgão do governo fazer propaganda de opções sexuais", afirmou Dilma.
O principal argumento dos evangélicos contra o kit é justamente de que o material incentiva o homossexualismo.
O veto ao kit desagradou a comunidade gay. Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, diz acreditar que há um grande mal entendido.
"Ela não assistiu aos vídeos, não falou com Haddad nem com a comunidade LGBT. Ninguém quer propaganda de orientação sexual e sim contra a discriminação."
Ele disse que vários movimentos irão se reunir com o governo. "Se ela quiser melhorar o kit, muito bem, apoiamos."
Em entrevista, Haddad disse que os kits "poderão ser refeitos". "A presidente entendeu que esse material não combate a homofobia.
Não foi desenhado de maneira apropriada para promover aquilo que ele pretende, que é o combate à violência."

Colaborou RAPHAEL MARCHIORI


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