São Paulo, sexta-feira, 27 de maio de 2011

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Veto a kit só considera igreja, diz educador

Opinião é de membro do Conselho de Educação

RAPHAEL MARCHIORI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A decisão da presidente Dilma Rousseff, na quarta-feira, de suspender a distribuição e a produção do kit anti-homofobia, encomendado pelo Ministério da Educação, gerou críticas entre especialistas em educação.
Para César Callegari, da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, a decisão do governo federal levou em conta apenas a reação das igrejas frente ao material.
"As igrejas tomaram isso [o kit] como se fosse para uma utilização sem critérios. Mas, ao contrário, o material iria dialogar com o conteúdo pedagógico da escola e, adequadamente trabalhado, ajudaria na luta contra a homofobia", afirma.
Idealizadora de um programa contra o bullying, a psicopedagoga Elenice da Silva diz apoiar qualquer iniciativa de combate à discriminação, mas pede diálogo com a comunidade escolar.
"Precisamos combater o preconceito e a intolerância contra a diferença. Mas não se pode chegar dizendo que "tem de ser do meu jeito'", afirma a psicopedagoga.
Já Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, concordou a presidente. "O vídeo mostra que é "legal" ser homossexual. Nunca vi um vídeo mostrar que também é legal o outro lado [ser heterossexual]."
Questionada sobre quais trechos dos vídeos induzem à homossexualidade, a psicopedagoga citou uma cena em que o personagem principal de um filme assume que sente atração por outro garoto.
"Deve-se falar da sexualidade, mas fazer apologia é diferente", argumentou.
A psicopedagoga ainda vê risco de os vídeos provocarem uma situação de bullying. "O aluno pode reconhecer o comportamento dos personagens em algum colega e passar a discriminá-lo."

INSTRUMENTO
Neide Noffs, coordenadora do curso de psicopedagogia da PUC-SP, não quis comentar o conteúdo do kit, mas o desabona como o instrumento mais adequado na luta contra a homofobia. "Já vi muitas campanhas em gibi que não dão resultado."
Como solução para o combate à discriminação sexual, Neide recomenda investimento no professor.
"O processo de formação precisa ser mais adequado, e o debate, qualitativo. O kit é um pretexto para mascarar a falta de qualidade na educação", afirma ela.


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