UOL


São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

URBANIDADE


NA PRAÇA DA LUZ Blaise Pascal: "É uma grande vantagem a nobreza, pois a partir dos 18 anos coloca um homem no candelabro, o faz conhecido, respeitado: coisas que um outro poderia obter com seus méritos apenas aos 50 anos. São 30 anos ganhos sem fadiga". (VINCENZO SCARPELLINI)


Esgoto do Ibirapuera é estético

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

No próximo mês, algumas das experiências mais sofisticadas realizadas em metrópoles como Tóquio, Nova York, Berlim, Londres e Pequim serão discutidas, na Bienal de Arquitetura de São Paulo, por alguns dos mais renomados urbanistas internacionais. Imperceptível aos debatedores, a cem metros do Pavilhão da Bienal, no parque Ibirapuera, um cano de esgoto seria um irônico exemplo das dificuldades de gerir uma metrópole.
No Pavilhão da Bienal, ocorrem exposições que conectam o país ao cosmopolitismo e à vanguarda cultural. O esgoto produzido ali reproduz, porém, um cenário medieval -vai direto para o córrego que abastece o lago do Ibirapuera. Fosse aquele simbólico cano, que exala odor de urina e fezes, uma instalação de arte, criada para ser exposta na Bienal como uma forma de denunciar as contradições e complexidades de uma metrópole, alguém diria ser obra de um gênio. Mas é apenas a obra de um anônimo operário.
Ninguém está disposto a assumir os méritos simbólicos da obra. O secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente, Adriano Diogo, afirma que ali não há esgoto e que, se houvesse, a culpa seria do governo estadual. "A Sabesp deveria cuidar do saneamento do parque", acusa. O presidente da Sabesp, Dalmo Nogueira, que testemunhou pessoalmente a saída do esgoto, devolve a responsabilidade e afirma que a prefeitura deveria fazer as conexões.
O presidente da Bienal, Manoel Pires da Costa, assegura que já tinha mandado lacrar as tubulações e apresenta um laudo técnico de que tudo estaria em ordem. Detalhe: um laudo da própria prefeitura. Se já é difícil preservar o local mais querido dos paulistanos, imagine o resto da cidade.
Faz alguns anos, frequentadores do Ibirapuera conseguiram uma façanha: organizados, pressionaram o governo estadual para erguer no córrego que desemboca no lago uma estação de tratamento. A água sai limpa da estação, mas, poucos metros adiante, volta a ficar suja -com a participação do poder público e de quem reverencia a estética.
"Vou resolver", promete Manoel Pires da Costa. Medida providencial: não seria exatamente um boa lição de urbanismo gênios da arquitetura darem aulas para melhorar as metrópoles, enquanto sujam um rio.

E-mail - gdimen@uol.com.br


Texto Anterior: Legislativo: Proposta de corte de gastos na Câmara passa pela 1ª etapa
Próximo Texto: Trânsito: Saiba como evitar trecho da Radial Leste
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.