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URBANIDADE
NA PRAÇA DA LUZ Blaise Pascal: "É uma grande vantagem a nobreza, pois a partir dos 18 anos coloca um homem no candelabro, o faz conhecido, respeitado: coisas que um outro poderia obter com seus méritos apenas aos 50 anos. São 30 anos ganhos sem fadiga".
(VINCENZO SCARPELLINI)
Esgoto do Ibirapuera é estético
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
No próximo mês, algumas das experiências mais
sofisticadas realizadas em metrópoles como Tóquio, Nova
York, Berlim, Londres e Pequim
serão discutidas, na Bienal de
Arquitetura de São Paulo, por
alguns dos mais renomados urbanistas internacionais. Imperceptível aos debatedores, a cem
metros do Pavilhão da Bienal,
no parque Ibirapuera, um cano
de esgoto seria um irônico exemplo das dificuldades de gerir
uma metrópole.
No Pavilhão da Bienal, ocorrem exposições que conectam o
país ao cosmopolitismo e à vanguarda cultural. O esgoto produzido ali reproduz, porém, um cenário medieval -vai direto para o córrego que abastece o lago
do Ibirapuera. Fosse aquele simbólico cano, que exala odor de
urina e fezes, uma instalação de
arte, criada para ser exposta na
Bienal como uma forma de denunciar as contradições e complexidades de uma metrópole,
alguém diria ser obra de um gênio. Mas é apenas a obra de um
anônimo operário.
Ninguém está disposto a assumir os méritos simbólicos da
obra. O secretário municipal do
Verde e do Meio Ambiente,
Adriano Diogo, afirma que ali
não há esgoto e que, se houvesse,
a culpa seria do governo estadual. "A Sabesp deveria cuidar
do saneamento do parque", acusa. O presidente da Sabesp, Dalmo Nogueira, que testemunhou
pessoalmente a saída do esgoto,
devolve a responsabilidade e
afirma que a prefeitura deveria
fazer as conexões.
O presidente da Bienal, Manoel Pires da Costa, assegura
que já tinha mandado lacrar as
tubulações e apresenta um laudo técnico de que tudo estaria
em ordem. Detalhe: um laudo da
própria prefeitura. Se já é difícil
preservar o local mais querido
dos paulistanos, imagine o resto
da cidade.
Faz alguns anos, frequentadores do Ibirapuera conseguiram
uma façanha: organizados, pressionaram o governo estadual para erguer no córrego que desemboca no lago uma estação de tratamento. A água sai limpa da estação, mas, poucos metros
adiante, volta a ficar suja -com
a participação do poder público
e de quem reverencia a estética.
"Vou resolver", promete Manoel Pires da Costa. Medida providencial: não seria exatamente
um boa lição de urbanismo gênios da arquitetura darem aulas
para melhorar as metrópoles,
enquanto sujam um rio.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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