São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2006 |
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GILBERTO DIMENSTEIN Burrice mata
UM MAGNÍFICO exemplo da
combinação entre miséria e
incompetência pública é a
saúde dos alunos da rede municipal
de São Paulo. Atenção, candidatos:
esse fato, quase desconhecido, ajuda
a entender por que no Brasil os estudantes têm tanta dificuldade de
aprender e tanta facilidade de cair
na marginalidade, engrossando o
clima de violência.
O resultado é que, por falta de um cuidado básico, milhões de brasileiros não conseguem aprender a ler e a escrever porque enxergam ou ouvem mal. Com o tempo, passam a ser estigmatizados, apontados como relapsos, preguiçosos, vagabundos. Não falta quem proponha para eles, em nome da excelência acadêmica, a receita mágica da repetência. Daí a se transformarem em seres raivosos, ressentidos, é apenas um pulo. Se temos de discutir com um mínimo de profundidade as questões da violência e da educação, somos obrigados a encarar como imprescindível o atendimento integral às crianças e adolescentes, a começar das creches. Mas não é o que se vê no discurso de nenhum dos candidatos; é mais fácil, afinal, falar na repressão. O criminoso inicia sua formação na família, avança na escola, é estimulado na rua e se aperfeiçoa na prisão -essa é a cadeia que deve ser rompida. Na coluna anterior, relatei o caso do Jardim Ângela, um conglomerado de favelas da zona sul paulistana, onde a taxa de assassinatos caiu 75%. Nesta semana, o "Financial Times" apontou Diadema, que já foi a cidade campeã de violência no Estado de São Paulo, como um exemplo de solução metropolitana, apesar da escassez de recursos. Jardim Ângela e Diadema implementaram programas articulados sociais e policiais, a partir da mobilização comunitária -e, só por isso, reduziram rapidamente seus índices de criminalidade. Em ambos os lugares, a atitude educativa foi o que deu sentido às ações. Educaram-se os policiais a entender a comunidade e educou-se a comunidade a entender os policiais. Lançaram-se programas para jovens em liberdade assistida e ofereceram-se atividades culturais, como o rap e o grafite, complementares à escola. Os especialistas falam e ninguém duvida de que uma das maneiras de enfrentar o PCC é usar a inteligência policial: ou seja, obter mais e melhores informações, saber como e quando usá-las, além de integrar várias repartições oficiais. Casos como o de Diadema revelam o poder da inteligência social, a capacidade de, usando poucos recursos, encontrar soluções, tirando o máximo proveito do que está disponível. Só uma extrema burrice administrativa explica por que uma cidade tão rica como São Paulo, sede de hospitais mundialmente elogiados e de sofisticadas pesquisas em genética, consegue ter tantos estudantes com anemia de ferro e verminoses. Se isso explica os indicadores educacionais paulistanos abaixo dos de quase todas as capitais nordestinas -perdem de longe para Teresina- também dá uma dica sobre como produzimos o desemprego juvenil e a mão-de-obra tão abundante para o PCC. A verdade é que burrice também mata. P.S. - Ainda é pouco, mas vale a pena prestar atenção em uma parceria que se inicia, nesta semana, entre as secretarias municipais da Educação e da Saúde, numa das regiões mais pobres de São Paulo. Estudantes da Faculdade Medicina da Unisa irão ensinar professores da rede pública a detectar doenças e vão ajudar a cuidar dos alunos, encaminhando-os a centros de saúde e hospitais. Além de ajudarem a comunidade, os universitários têm uma chance de aprendizado de saúde pública. gdimen@uol.com.br Texto Anterior: Memórias: "Fui expulsa do colégio interno" Próximo Texto: Saúde/Ginecologia: Pais procuram médicos para adiar a puberdade Índice |
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