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"Saio de casa na sexta e trabalho até domingo"
DA AGÊNCIA FOLHA
O cardiologista Marcelo
Guedes, 41, ligado a cooperativas médicas, é um dos oito
cirurgiões que suspenderam,
de 16 a 24 deste mês, a realização de cirurgias agendadas
nos dois únicos hospitais
credenciados pelo SUS em
João Pessoa (PB) para procedimentos cardiovasculares.
Os cirurgiões e a prefeitura
ainda negociam o reajuste na
tabela do SUS. Na cidade, um
médico ganha em média R$
76 por cirurgia cardiovascular. Abaixo, seu depoimento.
"Saio agora da minha casa
[final da tarde de sexta] e trabalho até domingo à noite.
Aos finais de semana, dedico
a outras atividades. Trabalho
como médico da Polícia Militar e como concursado no
hospital da Universidade Federal da Paraíba.
Vou ganhar dinheiro fora
para equilibrar minha vida.
O que eu ganho no final de
semana é 70% do meu rendimento. No entanto, eu dedico 70% do meu tempo à cirurgia cardíaca e 30% às outras atividades. Mesmo
atuando em outros hospitais
e outras atividades, eu, como
chefe de equipe cirúrgica,
coordeno tudo por telefone,
vejo exames, programo cirurgias, fico em contato com
o doente permanentemente.
Não me desligo da cirurgia
cardíaca de jeito nenhum.
Tenho 41 anos e nunca fiz
uma viagem ao exterior, não
conheço nenhuma parte do
Brasil a não ser onde tenha
acontecido um congresso de
cirurgia cardiovascular.
Dediquei os últimos 20
anos da minha vida ininterruptamente à cirurgia. Nesta
semana [passada], ouvi um
depoimento: "Alguém que
não pode prover saúde para
si próprio, como é que vai
prover para os outros?" É algo muito difícil. Meus filhos
não têm o direito de passar
um dia comigo, isso não existe. Então, o que eu desejo?
Eu desejo que a cardiologia
na Paraíba se estruture. Fico
triste. Quero o que todo
mundo quer, trabalhar naquilo que gosto."
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