São Paulo, quarta, 27 de agosto de 1997.



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FEMINISMO
Representantes de 130 instituições se reúnem segunda no Rio para reagir às idéias contrárias ao aborto
Feministas farão contra-ofensiva à igreja

AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local

Representantes das cerca de 130 instituições que formam a Rede Nacional Feminista de Saúde se reúnem na segunda-feira, no Rio, para planejar uma contra-ofensiva às pregações da igreja. Os grupos feministas temem que a visita do papa João Paulo 2º ao Brasil provoque um recuo na luta pelos direitos sexuais e reprodutivos.
Uma das propostas é estender uma imensa faixa no Corcovado. Outra é fazer uma pesquisa de opinião sobre o aborto junto às estações do metrô carioca. Manifestações devem ser organizadas nas principais capitais na véspera da chegada de João Paulo 2º.
Uma "carta aberta" ao papa, assinada pelo grupo Católicas pelo Direito de Decidir, recebeu o apoio de toda a Rede de Saúde. O documento reconhece o empenho da Igreja Católica no Brasil nas questões sociais e se "alegra" pela visita do papa. Mas lamenta o fato de o Vaticano alinhar-se aos "grupos religiosos e políticos mais retrógrados", contrários aos "mais elementares direitos das mulheres" (leia trechos da carta nesta pág.).
"Nós nos sentiremos tristes de ver a nossa igreja se posicionando contra a vida das mulheres", diz Maria José Fontelas Rosada Nunes (Zeca Rosada), coordenadora do grupo de católicas no Brasil e professora de sociologia da PUC-SP. Segundo ela, "na medida em que setores da igreja se posicionam contra uma lei que diminuiria a altíssima mortalidade materna, eles se posicionam contra a vida". "Negam a tradição da igreja de estar ao lado dos pobres, que são as maiores vítimas."
A lei em questão é o projeto que determina a realização do aborto legal -casos de estupro e riscos de vida para a mãe- na rede pública de saúde. "A bancada católica no Congresso quer dar de presente ao papa a derrubada desse projeto de lei", diz a médica Maria José de Oliveira Araujo, presidente da Rede Feminista de Saúde.
"Ao negar o direito do aborto em caso de risco de vida, a igreja se esquece que a morte da mãe desagrega toda a família e traz imensos sofrimentos", lembra Maria José.
A preocupação das feministas é que a pregação do papa -contrário ao aborto em todos os casos- seja utilizada por outros grupos. "A igreja tem o direito de convencer seus fiéis de suas posições, mas não pode querer que o Estado legisle a seu favor", diz Maria Aparecida Schumaher, coordenadora da Redeh -Rede de Defesa da Espécie Humana, ONG de direitos reprodutivos e meio ambiente.
O "choque" entre as feministas e o papa vai muito além do aborto. As mulheres reivindicam acesso a todos os meios contraceptivos e querem autonomia em suas vidas, particularmente em sua sexualidade. "Não queremos apenas ser mães ou virgens", afirma.



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