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FEMINISMO
Representantes de 130 instituições se reúnem segunda no Rio para reagir às idéias contrárias ao aborto
Feministas farão contra-ofensiva à igreja
AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local
Representantes das cerca de 130
instituições que formam a Rede
Nacional Feminista de Saúde se
reúnem na segunda-feira, no Rio,
para planejar uma contra-ofensiva
às pregações da igreja. Os grupos
feministas temem que a visita do
papa João Paulo 2º ao Brasil provoque um recuo na luta pelos direitos sexuais e reprodutivos.
Uma das propostas é estender
uma imensa faixa no Corcovado.
Outra é fazer uma pesquisa de opinião sobre o aborto junto às estações do metrô carioca. Manifestações devem ser organizadas nas
principais capitais na véspera da
chegada de João Paulo 2º.
Uma "carta aberta" ao papa, assinada pelo grupo Católicas pelo
Direito de Decidir, recebeu o apoio
de toda a Rede de Saúde. O documento reconhece o empenho da
Igreja Católica no Brasil nas questões sociais e se "alegra" pela visita do papa. Mas lamenta o fato de o
Vaticano alinhar-se aos "grupos
religiosos e políticos mais retrógrados", contrários aos "mais elementares direitos das mulheres"
(leia trechos da carta nesta pág.).
"Nós nos sentiremos tristes de
ver a nossa igreja se posicionando
contra a vida das mulheres", diz
Maria José Fontelas Rosada Nunes
(Zeca Rosada), coordenadora do
grupo de católicas no Brasil e professora de sociologia da PUC-SP.
Segundo ela, "na medida em que
setores da igreja se posicionam
contra uma lei que diminuiria a altíssima mortalidade materna, eles
se posicionam contra a vida".
"Negam a tradição da igreja de estar ao lado dos pobres, que são as
maiores vítimas."
A lei em questão é o projeto que
determina a realização do aborto
legal -casos de estupro e riscos de
vida para a mãe- na rede pública
de saúde. "A bancada católica no
Congresso quer dar de presente ao
papa a derrubada desse projeto de
lei", diz a médica Maria José de
Oliveira Araujo, presidente da Rede Feminista de Saúde.
"Ao negar o direito do aborto
em caso de risco de vida, a igreja se
esquece que a morte da mãe desagrega toda a família e traz imensos
sofrimentos", lembra Maria José.
A preocupação das feministas é
que a pregação do papa -contrário ao aborto em todos os casos-
seja utilizada por outros grupos.
"A igreja tem o direito de convencer seus fiéis de suas posições, mas
não pode querer que o Estado legisle a seu favor", diz Maria Aparecida Schumaher, coordenadora da
Redeh -Rede de Defesa da Espécie Humana, ONG de direitos reprodutivos e meio ambiente.
O "choque" entre as feministas e
o papa vai muito além do aborto.
As mulheres reivindicam acesso a
todos os meios contraceptivos e
querem autonomia em suas vidas,
particularmente em sua sexualidade. "Não queremos apenas ser
mães ou virgens", afirma.
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