São Paulo, quarta-feira, 27 de setembro de 2006

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GILBERTO DIMENSTEIN

A invenção da rua


"Dar aulas de ciências sem vinculação com o cotidiano é o meio mais rápido de afastar os alunos do aprendizado"


ANÍBAL DE FIGUEIREDO inventou um circo mambembe não para desafiar as leis da física -a da gravidade, por exemplo-, mas para ensiná-las. No lugar de palhaços, malabaristas e domadores de animais, alunos de pós-graduação. Em comum, apenas a vontade de divertir. "As experiências científicas são um grande prazer."
Por falta de alternativa, Aníbal deixou Macapá, onde nasceu, mudou-se para Belém e entrou numa faculdade de física. Veio, então, para a Universidade de São Paulo e fez seu mestrado em educação, interessado em novas formas de ensinar física, longe da decoreba das fórmulas. "Dar aulas de ciências sem vinculação com o cotidiano é a mais eficiente e rápida forma de afastar os alunos do aprendizado." Na sua visão, conhecer as leis do universo fazendo experiências é, antes de mais nada, um jeito de aprender a viver melhor. "Sou dos que acreditam que a ciência faz os seres humanos mais felizes."
 

A partir do mestrado, ele desenvolveu experimentos de física com sucata -os alunos tinham de inventar, a partir dela, brinquedos. Começou a treinar professores da rede pública a usar sucatas nas aulas de ciências e, aos poucos, sistematizou o seu método. "É uma simples questão de cidadania que todos conheçam os conceitos básicos da ciência para que entendam, por exemplo, o efeito estufa."
Com a participação de outros professores, ele ajudava a oxigenar as aulas nas escolas. Mas passou a achar que isso era pouco. "Queria ir para a rua."
Ir para a rua significou, inicialmente, envolver-se na produção de uma peça de teatro para crianças e adolescentes, acompanhada de um laboratório para as mais diversas experiências.
Estava, então, a um passo de ir mesmo -e começava a tomar forma o circo mambembe. "Por que o povo, as pessoas mais humildes, não tem direito de saber por que o céu é azul?"
 

O circo da física se propõe a instalar-se em praças, parques, favelas, mudando a cada semana. Ali, além de exposições práticas sobre ciência e o cotidiano -como o porquê do azul do céu- serão mostradas engenhocas feitas de sucatas, e os participantes serão convidados a construir brinquedos educativos.
Sua maior vontade é levar o circo até o centro de São Paulo e instalá-lo, mais precisamente, em cima do elevado Costa e Silva, o Minhocão, aos domingos, quando a via é fechada para os automóveis. Tudo isso sempre com o apoio de estudantes de pós-graduação do Instituto de Física.
"Queremos seduzir as pessoas com a magia da transformação e dos movimentos." Assim, segundo ele, elas se encantariam com as piruetas de um trapezista suspenso no ar. Ou com os malabares que resistem à lei da gravidade.
 

O próprio circo da física é uma experiência que será testada nos próximos oito meses. Se conseguir sucesso, talvez fique para sempre como parte da paisagem paulistana.

gdimen@uol.com.br


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